Notícias
O CICLO VICIOSO DA AIDS E DA POBREZA
18/11/2003 - BBC News
Dezenas de milhares de pessoas morreram nos últimos dois anos
Dezenas de milhares de pessoas morreram nos últimos dois anos vítimas da seca no sul da África muito mais que a seca matou há dez anos.
Essas pessoas foram vítimas da escassez de comida. Elas foram também, direta ou indiretamente, vítimas do HIV e da Aids.
A seca matou tantas pessoas, principalmente na Zâmbia, em Moçambique, Malauí e Zimbábue, porque a natureza cruel da Aids mata ou deixa inválidos justamente os mais produtivos, quando a sociedade mais precisa dessa força de trabalho.
E as redes de proteção aos países pobres ainda não se manifestaram para ajudar os africanos.
Pena de morte
O órgão de desenvolvimento das Nações Unidas, o Unctad, prevê que 16 milhões de agricultores vão morrer na África nos próximos 20 anos.
O Brasil quebrou a patente dos remédios anti-Aids
Nas regiões mais afetadas das áreas rurais do sul da África, um terço das mulheres grávidas tem teste positivo para o HIV.
A Aids é um desafio à saúde pública difícil de ser contido até nos países mais ricos. Na África, representa a pena de morte.
E há sinais preocupantes de que o abuso sexual de crianças está aumentando enquanto a organização social entra em decadência.
Stephen Lewis, enviado especial da ONU à África para questões de HIV e Aids, definiu a situação como um assassinato em massa.
"Tenho impressão de que a educação está na beira de um precipício, disse Lewis, depois de visitar Lesoto, Malauí, Zimbábue e Zâmbia no fim de 2002.
Falência da educação
"Professores morreram, outros professores estavam morrendo ou doentes e afastados da escola. As crianças, principalmente as meninas, deixaram de ir à escola para cuidar dos pais doentes, e garotos que perderam os pais não iam estudar porque não podiam pagar as taxas, disse.
Parecia, a todo instante, que o setor educacional entraria em colapso.
"A Zâmbia perdeu 1.967 professores em 2001, mais de dois mil no ano seguinte. Menos de mil pessoas se formam professores a cada ano. Em algumas áreas de Malauí, mais de 30% dos professores têm HIV positivo. Como a educação pode se manter em pé?
Com problemas no ensino, o papel da educação na luta contra o HIV fica comprometido e começa o círculo vicioso.
A epidemia de Aids terá conseqüências também nas próximas gerações
Remédios de esperança
Um alívio para a situação é o acordo na Organização Mundial de Comércio para que países em desenvolvimento importem medicamentos genéricos mais baratos dos coquetéis anti-aids, fabricados no Brasil e na Índia.
Isso vai ser importante, mas ainda há muita burocracia a ser cumprida.
A liberação dos medicamentos, que tiveram a patente quebrada, sofreu resistência de Andrew Natsios, diretor da USAID, a agência americana de desenvolvimento. Ele argumenta que os serviços de saúde dos países pobres não são confiáveis para a distribuição dos remédios