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O AIDS ENTRE AS MULHERES JOVENS

18/11/2003 - Diário de São Paulo

Aids é a segunda causa de morte entre mulheres jovens, diz estudo

Segundo a Faculdade de Saúde Pública, na faixa de 10 a 49 anos doença só perde para derrames. Nova pesquisa revela também que brasileiro desconhece risco e acredita que a Aids não mata
Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Saúde Pública da USP em parceria com o Ministério da Saúde revelou que a Aids já é a segunda principal causa de morte entre as mulheres na faixa dos 10 aos 49 anos. De acordo com o estudo, que analisou 3.265 declarações de óbitos registradas no Brasil, o número de mulheres mortas por conta da infecção só é superado pelas doenças cerebrovasculares, como o derrame.

Enquanto que 7,9% das mulheres morrem de doenças cerebrovasculares, a Aids já atinge 7,6%. Em 35% desses casos, as pacientes soropositivas morreram num intervalo menor que 12 meses depois do diagnóstico. "Conhecíamos essa situação em São Paulo, mas não sabíamos que o problema se repetia em todo o país", explica Naila Janilde Seabra, diretora da Vigilância Epidemiológica de DST/Aids do Estado.

Para ela, o estudo alertou também para um problema cada vez mais comum entre os brasileiros: a crença de que a Aids não mata. "Muita gente percebe que o controle com os medicamentos retrovirais melhorou e se ilude", critica. "A situação é melhor, sim, mas a doença é um grande risco", completa a especialista.

De acordo com a coordenação estadual de DST/Aids, o tempo de sobrevida de um paciente com Aids aumentou de um ano para até três anos e meio após o diagnóstico. "Temos casos de gente que vive muito mais com os retrovirais, mas não é por isso que a doença não mata", lembra Naila.


Prevenção
O Brasil também lidera o ranking de desconhecimento. Estudo realizado em 15 países, à pedido da rede de comunicação britânica BBC, revelou que 61% dos brasileiros não acreditam que a Aids é capaz de matar, embora a doença leve a óbito dez mil pessoas a cada ano.

A pesquisa ouviu 1.007 pessoas em quatro capitais (São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro). "O resultado mostra que precisamos aprimorar as estratégias de prevenção no Brasil. A percepção sobre a doença ainda está muito errada", admite Maria Clara Gianna, coordenadora-adjunta do Programa Estadual de DST e Aids de São Paulo.

Os americanos, por sua vez, apresentaram o melhor índice de conscientização. Apenas 2% dos entrevistados acham que a Aids não ameaça a vida (veja quadro abaixo). "Os brasileiros ainda não se sensibilizaram com a doença. Ninguém está longe de ser infectado", diz José Carlos Veloso, presidente do Grupo de Apoio à Prevenção à Aids de São Paulo (Gapa).

Para Raldo Bonifácio, diretor-adjunto do Programa Nacional de DST e Aids, o índice de 61% pode ser reflexo da forma como as perguntas foram elaboradas. "Mesmo assim, os retrovirais são garantia de uma vida melhor, mas não dispensam o cuidado e a prevenção", completa.

Soropositiva vira conselheira


A empregada doméstica M. C, de 47 anos, descobriu ser portadora do vírus HIV em maio de 1999. A desconfiança começou alguns meses antes, quando percebeu uma alergia pelo corpo e começou a perder peso. A confirmação veio após uma cirurgia para a retirada do útero, quando precisou fazer o teste de HIV. "Já desconfiava. Sempre li sobre a doença e sabia que corria riscos. Mas tinha aquela idéia de que nunca ia acontecer comigo", diz.

Depois de três meses deprimida e sem emprego, M. C. foi trabalhar como voluntária em uma organização não-governamental de auxílio aos portadores do vírus. "Eu achava que sabia muito, mas tinha medo de contaminar meus filhos com o sabonete", lembra. "Como eu, a maior parte das pessoas do meu bairro desconhece os riscos da Aids", afirma.

Desde então, M. C. virou uma conselheira no bairro onde mora, falando sobre os perigos da doença e redução de danos com vizinhos e amigos. Já ouviu de tudo. "Alguns jovens dizem que agora ninguém morre da doença e já ouvi amigos afirmando que a Aids é uma forma de o governo vender mais remédio", completa.