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SUBSTITUIÇÃO DO ABACAVIR

08/04/2010 - Agência Aids

Nem sempre é possível

Substituir o abacavir por outros medicamentos nem sempre é possível, explicam infectologistas

Uma mãe que não quer ser identificada tem ligado para a Agência de Notícias da Aids para saber sobre a regularização da distribuição do abacavir, medicamento antirretroviral. Sonia (nome fictício que adotaremos para ela nesta reportagem) conta que há cerca de 10 anos sua filha foi diagnosticada com uma infecção neurológica causada pelo HIV.

“Mudaram o tratamento dela algumas vezes, mas já faz dois anos que minha filha está bem e com a carga viral indetectável. O médico disse que no caso dela não é possível substituir o abacavir por outro remédio”, contou.

Sonia diz que para manter o tratamento da filha tem procurado por vários hospitais para conseguir alguns comprimidos do remédio.

“Já perguntei em vários lugares e ninguém me explica o que está acontecendo”, disse à Agência Aids.

Dr. Artur Timerman, médico da filha de Sonia, diz que “é extremamente temerário” substituir o abacavir neste caso.

“Há situações em que esse remédio é insubstituível. E não é só o caso dessa paciente, mas de vários outros que atendo. Sou a favor de que todo tratamento para aids utilize medicamentos que alcancem o sistema nervoso central, como o abacavir faz. Mas há outros remédios que não têm esse alcance. Estou orientando todos que usam o abacavir a entrarem na justiça para garantir o remédio.”

O médico disse que nem lê notas técnicas. “Quem sabe o melhor tratamento para o paciente é o profissional que o atende. Nota técnica é para quem não sabe o que está fazendo. Questiono a capacidade dos responsáveis pela nota: será que eles já atenderam algum paciente com HIV/aids na vida? Eu atendo.”

Dr. Timerman refere-se à nota técnica que o Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde divulgou em dezembro do ano passado solicitando a substituição do abacavir por outros medicamentos (saiba mais).

Desde então, o fármaco está em falta em vários pontos do País, o que fez pacientes, ativistas e médicos ficarem preocupados com a situação.

A infectologista do Hospital Emílio Ribas Dra. Marinella Della Negra explicou que a troca do abacavir por outros medicamentos tem que ser estudada em cada paciente.

“O que fizemos foi ver quem de fato podia trocar para liberar o estoque para outras pessoas, ou seja, remanejar o antirretroviral entre as farmácias, mas existem alguns pacientes que já tiveram reações com outros medicamentos da mesma classe ou intolerância que não podem aderir a essa substituição.”

O também infectologista Caio Rosenthal ressaltou que na maioria das vezes há a possibilidade de troca, mas não é o ideal.

“Quando a pessoa está bem no tratamento, com carga-viral indetectável, estabilizada, não há necessidade em mexer no esquema terapêutico. Isso pode desestabilizar a terapia”, afirma.

Dr. Rosenthal cita como exemplo os pacientes que têm disfunção renal e são obrigados a tomar o abacavir.

“Neste caso (em que os pacientes têm disfunção renal) não posso optar pelo tenofovir que é mais usual, por exemplo. Esse desabastecimento me deixa ansioso e preocupado. Não está bacana”, acrescentou Rosenthal.

Em carta-aberta divulgada neste mês, o Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo também já manifestou preocupação com o caso. Segundo a instituição, o desabastecimento prejudicou pacientes que tinham uma boa adesão.

“Muitos, por decisão conjunta com seus médicos, não concordam em substituir um tratamento que está dando certo por outro”, informa a cartal.


Redação da Agência de Notícias da Aids