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VÃDEO - "PECADO Ã NÃO USAR"

14/11/2003 - Programa Fantástico

A controvérsia no uso da camisinha

Militantes de campanhas de prevenção à aids em todo o brasil decidem bater forte na Igreja Católica. Eles vão lançar, este mês, uma campanha onde criticam duramente a Igreja por proibir o uso da camisinha. "Pecado é não usar". Este é o nome da campanha. As imagens são fortes. A campanha vai ser lançada no próximo dia 18 em praças e lugares públicos de todo o Brasil. Ela é promovida por ongs que trabalham na prevenção da Aids e no tratamento das vítimas da doença.

O vídeo já estava pronto há mais de um ano. O lançamento, este mês, foi decidido após as declarações do cardeal colombiano Alfonso López Trujillo. Para ele, os cientistas do mundo inteiro que defendem o uso da camisinha contra a Aids estão errados. Trujillo é presidente do Conselho para a Família, do Vaticano. Sua tese: as camisinhas não seriam seguras porque, durante a relação sexual, o vírus da Aids poderia passar por microporos, isto é, por pequenos furos do látex. Mas ele não apontou qualquer estudo científico para fundamentar sua denúncia. Os médicos dizem o contrário: o vírus da Aids vive em meio líquido. Como os líquidos não passam pela camisinha, o vírus também não passa.

"Essa visão da camisinha como um coador é uma visão errônea. A visão mais correta é a de uma barreira física, impermeável, que vai impedir o contato das secreções sexuais de um parceiro com as secreções sexuais do outro parceiro, que é a maneira como o vírus se transmite:, explica o médico Luis Antônio Lima.

Segundo a ONU, a cada 14 segundos um jovem contrai o vírus da Aids. Cerca de 40 milhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas pelo HIV. A Aids já matou mais de 20 milhões de pessoas.

"Todos os estudos científicos que foram realizados por instituições as mais respeitadas do mundo e a própria Organização Mundial de Saúde mostram que o preservativo é a forma mais eficaz de se combater e prevenir a Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis", analisa o médico Humberto Costa.

A briga entre a Igreja Católica e os defensores da camisinha é antiga. O papa condena o uso da camisinha e de outros métodos anticoncepcionais para evitar a gravidez. Admite apenas o uso da tabela, relações nos dias inférteis da mulher, e somente após o casamento. Para prevenir as doenças sexualmente transmissíveis, a Igreja prega a monogamia ou a abstinência sexual.

Mas, no Brasil, a partir de 2000, a Pastoral da Saúde passou a considerar os preservativos "um mal menor" para evitar Aids, embora sempre diga que a melhor arma contra a doença é viver castamente.

"Eu acredito que é uma voz sem grande importância dentro da Igreja. Uma que o papa já declarou que em termos assim da visão científica não cabe à Igreja discutir, não é a missão dela. E aí, o que manda é a comunidade científica, que tem mais ou menos um consenso com relação ao uso da camisinha, sobretudo na defesa contra a Aids", explica o bispo Dom Tomás Balduíno.

O cardeal Trujillo foi procurado no Vaticano pelo Fantástico para explicar sua posição , mas não respondeu às ligações.

"Erro maior seria em algum momento questionar a eficácia da camisinha, porque certamente vai fazer com que se tenha um aumento significativo do numero de doenças sexualmente transmissíveis entre a nossa população, inclusive o HIV", acredita o médico.