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ADOLESCENTE ABANDONA COQUETEL

13/11/2003 - Folha de São Paulo

Jovens recusando a tomar remédios anti HIV

Simpósio de SP diz que jovens estão se recusando a tomar remédios contra HIV

Uma nova ameaça está rondando os adolescentes que vivem com Aids e HIV: a dificuldade de aceitar a doença e de continuar tomando o coquetel de medicamentos que em muitos casos chega a 20 comprimidos por dia.

Muitos pegaram o vírus quando nasceram. Formam hoje uma geração de sobreviventes que surpreendeu o mundo. Se interromperem o tratamento, estarão sujeitos a doenças oportunistas e poderão morrer.

"Com a adolescência, eles tomam consciência de seus limites. Sabem que não terão filhos, que não beberão com os amigos, que serão discriminados, e sofrem com o medo de serem abandonados pelos colegas e pela namorada", diz Ana Maria Barrica, psicóloga do Hospital Emílio Ribas.

Priscila (o nome é fictício) pegou o vírus com dois meses, numa transfusão de sangue. Hoje tem 18 anos e há meses parou de tomar os remédios. "Ele só diz que quer viver como uma pessoa normal", diz a mãe, Yasmin, 48. Priscila procura um emprego e quer fazer faculdade. "Até agora, ela está muito bem. Mas até quando só Deus sabe", diz a mãe

O tema vem sendo debatido no 7º Encontro Nacional e no 5º Simpósio Internacional de Aids Pediátrico, que acontece em São Paulo. "Ainda estamos aprendendo a lidar com esse desafio", diz a médica Marinella Della Negra, que preside os congressos e cujo serviço, no Emílio Ribas, já atendeu mais de 1.300 crianças.

Segundo a Coordenação Nacional de Aids, existem hoje 5.597 adolescentes entre 13 e 19 anos acompanhados nos serviços.

No Emílio Ribas, cerca de 120 adolescentes vêm sendo tratados. Pelo menos um terço já parou a medicação por algum período.

A Coordenação Nacional de Aids realizou quatro encontros sobre o tema. A maioria dos profissionais ouvidos disse não estar preparado para responder às perguntas dos adolescentes.

Ontem, especialistas presentes no congresso, com a participação da Organização Mundial da Saúde, iniciaram a redação de texto sobre o consenso mundial para o tratamento de crianças com HIV.