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TATUAR SOROPOSITIVOS NA ÀFRICA
13/09/2009 - Agência Aids (G1)
Parlamentar africano quis tatuar soropositivos para conter a aids
Parlamentar africano quis tatuar soropositivos para conter a aids, diz G1
Enquanto a maioria dos países comemora o aumento na expectativa de vida, a Suazilândia, na África, encara uma realidade oposta.
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No país, independente do Reino Unido desde 1968, cada cidadão vive, em média, 32 anos, segundo dados da CIA (Agência de Inteligência Americana).
A população, de aproximadamente 1,2 milhão de habitantes, tem a maior prevalência de HIV no mundo. No país, são comuns a poligamia e o sexo sem proteção.
Viemos trabalhar aqui porque é a maior prevalência de HIV do mundo: 26% de toda a população. Em mulheres grávidas, chega a 42%, de acordo com dados de 2008, diz o francês Aymeric Péguilan, chefe da Missão Médicos Sem Fronteiras-Suíça.
O especialista, que viveu em África do Sul, Moçambique e Lesoto antes de chegar aqui, diz que a população ainda cultiva hábitos condenados pela medicina.
Um dos maiores problemas é a quantidade de parceiros sexuais e a ausência de proteção. As pessoas não usam preservativos, diz. Como a população resiste à camisinha e o número de soropositivos é alto, o ministro do Parlamento Timothy Myeni propôs tatuar os soropositivos (as mulheres, na nádega, e os homens, no peito), alternativa que gerou muita polêmica. Desta forma, os prováveis parceiros saberiam o risco de contrair a doença antes da prática.
O projeto de lei ganhou grande repercussão na mídia internacional, mas acabou sendo tratado como piada pelos próprios suázis. Para nós, é uma alternativa que não respeita os direitos das pessoas com HIV. Quando a população tomou conhecimento, não entendeu, ficou se perguntando o porquê, diz Thembi Nkambule, diretora nacional da ONG anti-HIV Swanneha. Ela recebeu o G1 em seu escritório, três semanas após a polêmica que logo se dissipou. O parlamento pediu desculpas e não levou a história adiante.
No trono desde 1986, está Mswati III, de 41 anos, o rei das 14 rainhas, que costuma escolher as integrantes de seu harém em festas públicas. As interessadas são selecionadas entre grupos de virgens de seios à mostra. Mas Thembi acredita que o rei não tem o poder de influenciar a prática.
A poligamia é parte de nós, está inserida em nossa cultura. A culpa não é dele, diz. Segundo ela, há muitos mitos sobre os preservativos. Há os que acreditam que camisinhas estão infectadas por HIV e que chegam aqui para contaminar as pessoas, revela a ativista da ONG, que capacita voluntários e atende 180 grupos de 30 pessoas, oferecendo assistência e tratamento.
Falta de camisinhas, definitivamente, não é o problema no país. A nossa equipe caminhou pelas ruas da capital, Mbabane, e viu preservativos à disposição em locais públicos. Próximo a um ponto de van, por exemplo, havia um recipiente com preservativos ainda intactos, o que prova que a solução não está na distribuição. O problema é mudar a mentalidade, lembra Aymeric.
De 1992 para cá, as estatísticas de contaminação com o HIV subiram na Suazilândia, de 3,6% a 26% de soropositivos. O HIV ainda é um fenômeno novo. A circulação de pessoas cresceu. Elas voltam para rever a família, vão para outros lugares. Essa mobilidade, sem dúvida, ajudou a disseminar a doença, conta Aymeric. Segundo ele, as estatísticas de tuberculose também se agravaram. A prevalência dentro do grupo de soropositivos é de 80%, afirma.
Na área rural, as pessoas ficam isoladas, mas isso não diminui o risco de contrair a doença. Visitamos o vilarejo de Mantabeni, a 30 minutos do centro da capital. A região recebe assistência com ativistas dispostos a orientar desde a prevenção ao tratamento. Faça chuva ou faça sol, eles andam, caminham entre mato e barro dezenas de quilômetros, até chegar ao casebre de encontro. Lá está Petros Malaza, que só fala suázi intermediado por um tradutor.
O voluntário descobriu que era HIV positivo no ano de 2004, quando também começou o tratamento. A revelação foi um choque. A minha vida sofreu uma transformação grande. Fui muito discriminado. Os vizinhos tinham muito preconceito, diz Petros, que também tem mãe e irmã soropositivas. Elas descobriram e não queriam se tratar, não tinham esclarecimento, lembra o suazi. Depois, acabaram convencidas.
Sphiwe Shlongongane teve conhecimento de que era HIV positivo em 2006, quando resolveu testar também se os quatro filhos tinham a doença. Dois tinham e já começaram o tratamento. Por sorte, diz Sphiwe, o menor, que tem pouco mais de um ano de vida, não contraiu a doença. Comecei a me tratar e depois que ele nasceu fizemos o teste, fala. A suázi, que também não compreende inglês, sempre viveu na comunidade. Ela cita a discriminação como um desafio que foi superado.
Aymeric afirma que os soropositivos são discriminados pelo fato de ser uma doença sexual, que envolve muitos tabus. Apesar disso, o soropositivo pode ter uma vida absolutamente normal. Temos que banalizar isso, não em termos de infecção. É uma doença muito séria, mas em termos sociais. Uma pessoa com HIV pode ter uma vida produtiva, sim!, diz.
O médico também defendeu a campanha a favor da circuncisão, que reduz em 50% o risco de contrair a doença. É uma mobilização importante porque muitas culturas tribais não aceitam. Somente os xhosas são circuncisados. Zulus e suázis não circuncisam seus garotos, conta. O problema é que os circuncisados acham que não precisam se prevenir e usam a justificativa para abolir de vez a camisinha.
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