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O PERIGO DA HEPATITE

07/11/2003 - Correio Braziliense

Mais de 5 milhões de pessoas contraíram os tipos B e C

Mais de 5 milhões de pessoas contraíram os tipos B e C da doença no Brasil. Para tentar deter o avanço da enfermidade, governo vai empregar um volume de recursos maior do que o destinado ao combate à Aids

Expedito luna: "há muita gente que tem ou teve hepatite e nem sabe"

Dois tipos de hepatite (B e C) estão tirando o sono dos técnicos da Secretaria de Vigilância em Saúde. Contaminaram mais de 5 milhões de brasileiros. Esses vírus , considerados formas graves da doença, estão avançando com tanta rapidez no Brasil que o Ministério da Saúde, ao qual a secretaria é vinculada, pediu um complemento de R$ 700 milhões no orçamento somente para tratar os doentes. Para se ter uma noção do quanto isso representa, o tratamento da Aids consome anualmente R$ 534 milhões. "Esses dois tipos de vírus despertam preocupação", reconhece o diretor de Vigilância Epidemiológica, Expedito Luna.

Para tentar conter o avanço das hepatites B e C, o governo vai investir pesado também na prevenção. A partir deste mês, os cartões telefônicos das principais operadoras de telefonia trarão informações sobre como se proteger da doença. Em linguagem simples, mostrarão, por exemplo, que existe vacina contra a hepatite tipo B. Somente a Brasil Telecom, que opera na Região Centro-Oeste, confeccionará 6,2 milhões de cartões com informações sobre hepatite.

Como se não bastasse, as hepatites B e C estão no rol das doenças emergentes e são consideradas pelos especialistas enfermidades negligenciadas por cientistas. "O vírus do tipo C foi descoberto em 1988, mas até hoje poucas pessoas sabem como a doença é transmitida ou que problemas podem causar. Essa ignorância atinge até mesmo médicos e profissionais de saúde", sustenta o virologista Américo Leal Albuquerque, da Universidade Federal do Amazonas.

Estimativas
No mundo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença está atingindo cerca de 200 milhões de pessoas. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que apenas a hepatite tipo C já tenha contaminado 3 milhões de pessoas.

A base para essa projeção é o único levantamento feito pelo Ministério da Saúde que, ainda em 1988, identificou 3,3 milhões de portadores do vírus tipo C no país. O alto grau de infecção explica-se pelo fato de que o exame laboratorial que identifica o vírus só passou a ser feito a partir de 1992. Até esse ano, os indivíduos que se submeteram a transplante, transfusões ou hemodiálise correram sério risco de contágio.

Inquérito
Todos os dados sobre a disseminação das hepatites são estimativas. Acredita-se que a doença já tenha se espalhado muito mais do que os números projetados pela OMS. Para saber qual o verdadeiro panorama da doença no Brasil, o Ministério da Saúde firmou um convênio com a Universidade Federal de Pernambuco, que fará um inquérito sorológico para identificar a prevalência das hepatites virais no Brasil.

O médico infectologista Roberto do Amaral Albuquerque, do Instituto Evandro Chagas, no Pará, classifica a hepatite C como uma doença cruel que não se manifesta de forma aguda. "Entre os infectados, cerca de 80% desenvolvem a hepatite crônica, que evolui para a cirrose hepática dentro de 10 a 20 anos, dependendo do uso de álcool pelo doente. Cerca de 20% dos pacientes que têm cirrose podem vir a apresentar câncer de fígado", explica o médico.

A hepatite C é transmitida pelo sangue. Mas, ao contrário da Aids, o vírus não está presente no esperma nem na secreção vaginal — o que dificulta seu contágio via sexual. Ainda assim, especialistas alertam que a transmissão pode ocorrer se o ato for violento ou anal, quando normalmente ocorre rompimento de vasos sangüíneos. A hepatite tipo B é uma DST (doença sexualmente transmissível) e vem avançando no país por conta da prática de sexo sem preservativo.

Tireóide
Além do fígado, foi descoberto recentemente que o vírus da hepatite C também se aloja em outros locais do organismo. Foi encontrado na tireóide (causa hipotireoidismo), nas articulações (artrite), no músculo cardíaco (miocardite) e nos rins (nefropatias gerais).

Segundo Roberto do Amaral, a doença se manifesta inicialmente como qualquer outra hepatite. "A pessoa tem febre, fica com os olhos amarelados, fezes brancas e urina escura. Mas acha que foi hepatite A ou uma virose qualquer", diz. A partir daí, a doença progride lentamente e sem deixar vestígios. Só é descoberta por exame ou quando forma quadro de cirrose, o que acontece depois de 10 a 20 anos, dependendo do quanto o indivíduo consome de álcool.

Esses dois tipos de vírus despertam preocupação

Expedito Luna, diretor de Vigilância Epidemiológica

O número
R$ 700 milhões
Verba suplementar pedida pelo Ministério da Saúde somente para tratar doentes com hepatite B e C