Notícias

ADESÃO AO TRATAMENTO E AOS MEDICAMENTOS

09/11/2003 - A PONTE - GIV

A importância da adesão para o sucesso na luta contra o HIV

O texto que apresentamos a seguir foi publicado no Informativo "A PONTE" em 1997. Algumas coisas mudaram, mas no geral o texto ainda é bastante atual. Pois a adesão ao tratamento e aos medicamentos é tão importante hoje, como já era em 1997.

Você e os Novos Remédios: Nossas Responsabilidades

Com o fornecimento dos novos medicamentos pela rede pública, principalmente dos inibidores de protease, há uma nova esperança de vida e de saúde para muitos portadores e parentes, ou até nos mesmos temos sentido essas melhoras. Ao mesmo tempo lembramos daqueles que não tiveram saúde para chegar a gozar dos seus benefícios.
Porém para nos beneficiarmos deles, é necessário tomá-los de forma correta. O que significa isto?

1. Tomar a dose total
2. Tomá-la no horário certo
3. Tomá-lo todos os dias
4. Tomá-la com a alimentação ou jejum adequados

Esta é a nossa responsabilidade, conosco.
Lembremos que está sendo feito um grande esforço no Brasil para que os necessitam.
Engolir a dose certa, no horário certo, todos os dias, com a barriga cheia ou vazia segundo o caso é algo que só nós podemos fazer por nós mesmos. Quando iniciar o tratamento, pense ou discuta com seus amigos ou com outros portadores qual seria o melhor horário para ingerir os medicamentos. Um pequeno planejamento pode ser de muita utilidade.
Precisamos querer viver e estar com saúde para fazer plenamente. Se a gente não tomar estas medicações da forma certa elas deixam de ser úteis em pouco tempo.
Se não pudermos tomá-los da forma adequada, talvez seja melhor optar por iniciar este tratamento num futuro, quando estivermos preparados para usá-los corretamente e assim gozarmos dos seus resultados de forma plena e por muito tempo. Consulte a este respeito com seu médico.
Uma outra coisinha: você tomou seus remédios de forma correta, e está melhor. Muito melhor do que esperava. Se sente mais disposto, seus CD4 subiram, e sua carga viral está “indetectável”. O que isto significa? É que os remédios estão fazendo efeito e que a replicação do vírus se reduziu ao mínimo. Significa isto que você não tem mais o HIV? Infelizmente NÃO. Estes remédios proporcionam um controle e não uma forma de eliminação do vírus. E este controle deve ser exercido diariamente. Carga viral “indetectável” significa que a terapia está fazendo efeito, e que você deve seguir nesse caminho: tomando adequadamente e curtindo essa melhora da sua saúde.
Alguns “técnicos” de países desenvolvidos opinam que esta política brasileira de distribuição de medicação está errada. E argumentam que como nós temos pouca escolaridade e somos pobres, não teremos condições de nos beneficiarmos delas. Porque não saberemos toma-las corretamente.
Saiba então que há gente que acha que estes remédios não devem estar ao nosso alcance.
Se você quiser viver com saúde, se você quiser usufruir dos remédios que alguns não tiveram saúde para chegar a tomar, se você quiser se beneficiar dos remédios que a maior parte das pessoas com HIV do mundo não tem ao seu alcance, TOME-OS DA FORMA CORRETA.
Isto será a prova de que estamos preparados para lutar por nossas vidas!
GIV


O TEXTO QUE ABAIXO TRANSCREVEMOS FOI EXTRAÍDO DAS RECOMENDAÇÕES PARA TERAPIA ANTI-RETROVIRAL EM ADULTOS E ADOLESCENTES INFECTADOS PELO HIV – 2002/2003, DO MINISTÉRIO DA SAÚDE.

"A terapia não deve ser iniciada até que os objetivos e a necessidade de adesão ao tratamento sejam entendidos e aceitos pelo paciente. Entre os fatores que podem levar à baixa adesão estão a ocorrência de efeitos colaterais, esquemas com posologias incompatíveis com as atividades diárias do paciente, número elevado de comprimidos/cápsulas, necessidade de restrição alimentar, falta de compreensão da prescrição e falta de informação sobre as conseqüências da não-adesão".

Quando iniciar o tratamento anti-retroviral?

Definir o momento de iniciar o tratamento anti-retroviral é uma das mais importantes decisões a serem tomadas no acompanhamento do indivíduo infectado pelo HIV. Os conhecimentos atuais sobre a imunopatogênese da infecção pelo HIV e a existência de reservatórios virais anatômicos e celulares indicam que a erradicação deste agente infeccioso não pode ser obtida com os esquemas terapêuticos atualmente disponíveis. Apesar dos avanços terapêuticos, estima-se que 10-20% dos pacientes que iniciam o tratamento com os esquemas atuais não conseguem suprimir a viremia de forma satisfatória após alguns meses de terapia (falha virológica primária) e cerca de 20-50% dos que apresentam boa resposta inicial apresentarão falha virológica após um ano de tratamento (falha virológica secundária), sendo a taxa de resposta virológica aos tratamentos de resgate subseqüentes progressivamente menor. Assim, a falha terapêutica, principalmente por resistência às drogas atualmente disponíveis, é um fenômeno esperado e um número crescente de pacientes já se encontra sem opções de medicamentos anti-retrovirais com atividade comprovável clinica e/ou laboratorialmente, pelo teste de genotipagem e/ou fenotipagem. Além disso, atualmente são conhecidos vários efeitos colaterais significativos dos anti-retrovirais que não eram evidentes quando se iniciou sua utilização terapêutica. O desenvolvimento de neuropatia, hepatotoxicidade, pancreatite, lipodistrofia, diabetes, dislipidemia, osteoporose e acidose láctica estão entre as complicações associadas à terapia que podem piorar consideravelmente a qualidade de vida do indivíduo infectado pelo HIV.
Além da avaliação clínica, a contagem de linfócitos T-CD4+ (em valores percentuais e absolutos) e a motivação do paciente para o tratamento são parâmetros fundamentais a serem considerados para a decisão de iniciar ou não o tratamento. A quantificação da carga viral plasmática, a velocidade de queda da contagem de linfócitos T-CD4+ e a presença de co-morbidades são aspectos adicionais que podem auxiliar na decisão de se iniciar ou não o tratamento. A carga não deve ser verificada antes de três a quatro semanas após a resolução de qualquer infecção intercorrente ou vacinação, pois nestas situações pode ocorrer alteração transitória de seus valores.
A terapia anti-retroviral em indivíduos com infecção estabelecida pelo HIV não é uma emergência e não deve ser iniciada antes que as devidas avaliações clínica e laboratorial sejam realizadas para determinar o grau de imunodeficiência já existente e o risco da sua progressão. É fundamental que essa decisão considere também o desejo do paciente de se tratar, sua compreensão sobre as mudanças que o tratamento pode trazer à sua vida e o empenho que será necessário para a manutenção da adesão adequada ao tratamento. Devem ser considerados, igualmente, o risco de desenvolvimento de efeitos colaterais, a chance de o paciente aderir ao esquema prescrito, o risco do desenvolvimento de resistência e a limitação de futuras opções terapêuticas.
O benefício da terapia anti-retroviral combinada já foi claramente demonstrado em pacientes com doença sintomática avançada e naqueles que, apesar de assintomáticos, apresentam imunodeficiência acentuada (contagem de linfócitos T-CD4+ abaixo de 200/mm3). Para os pacientes assintomáticos e com contagem de linfócitos T-CD4+ acima de 350 /mm3, não há comprovação deste benefício, ou, mesmo que este exista, é insuficiente para contrabalançar o possível aparecimento de problemas ligados à toxicidade e à adesão aos esquemas atualmente disponíveis. Além disso, contra o início precoce de terapia anti-retroviral, pesa a comprovação de reconstituição imunológica adequada na maioria dos pacientes que iniciam o tratamento com contagem de T-CD4+ entre 200 e 350/mm3.
Estudos recentes também demonstraram que não existe pior prognóstico, do ponto de vista imunológico ou clínico, para pacientes que iniciam a terapia anti-retroviral com contagem de linfócitos T-CD4+ próxima a 200/mm3, quando comparados com aqueles que iniciam a terapia com contagem próxima a 350 células/mm3. Desta forma, o adiamento do início da terapia anti-retroviral diminui a exposição do paciente aos anti-retrovirais e, consequentemente, o risco de efeitos colaterais e resistência viral, não comprometendo a qualidade de vida e aumentando a chance do paciente vir a beneficiar-se de drogas melhores e mais potentes que venham a ser desenvolvidas.
Em síntese, o início da terapia está claramente indicado para todo paciente com manifestações clínicas associadas ao HIV, independentemente da contagem de linfócitos T-CD4+ e da carga viral plasmática, e para pacientes com contagem de linfócitos T-CD4+ abaixo de 200/mm3, independentemente da presença de sintomas ou magnitude da carga viral. Quimioprofilaxia para infecções oportunistas, tais como pneumocistose e toxoplasmose, também deve ser iniciada para estes pacientes (ver Quadro III).
Para pacientes assintomáticos com contagem de linfócitos T-CD4+ entre 200 e 350/mm3, o tratamento pode ser considerado, embora muitos especialistas prefiram não iniciá-lo e apenas acompanhar a evolução clínica e laboratorial, reservando o tratamento para aqueles que apresentam piora clínica, imunológica ou virológica. Os pacientes nesta situação devem ser monitorados clínica e laboratorialmente em intervalos mais curtos (no mínimo três vezes ao ano), com particular atenção àqueles com níveis elevados de carga viral, para que o tratamento possa ser iniciado assim que ocorra piora imunológica, ou seja, queda significativa (maior que 25%) da contagem de linfócitos T-CD4+. Na impossibilidade de monitoramento freqüente da contagem de linfócitos T-CD4+, o tratamento deve ser iniciado. Além disso, quanto mais próxima de 200 células/mm3 for a contagem de linfócitos T-CD4+ e/ou maior a carga viral plasmática (particularmente se maior que 100.000 cópias/mm3), mais forte será a indicação para ser iniciada a terapia anti-retroviral. O tratamento não está indicado para pacientes com contagem de linfócitos T-CD4+ maior que 350 células/mm3.
Em situações excepcionais, na impossibilidade de realização do exame de contagem de linfócitos T-CD4+, a introdução de terapia anti-retroviral (e de quimioprofilaxias para infecções oportunistas) deve ser considerada para pacientes assintomáticos com menos de 1.000 linfócitos totais/mm3 no hemograma, especialmente se a dosagem de hemoglobina estiver abaixo de 13 g/dl, pela grande probabilidade de a contagem de linfócitos T-CD4+ estar abaixo de 200 células/mm3.