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MANIFESTAÇÃO DO FÓRUM DE ONG/AIDS DE SP
06/05/2009 - Agência Aids
Manifestantes pedem que ministros do STF defendam a saúde do povo
A passeata na avenida Paulista foi motivada pela realização de uma série de audiências públicas no Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir ações judiciais que obrigam o Sistema Único de Saúde (SUS) a fornecer medicamentos, insumos e procedimentos médicos não cobertos pelo sistema público, embora receitados por profissionais desse mesmo sistema.
O SUS não fornece remédios ainda não registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa], mesmo que esses já sejam reconhecidos em outros países e por entidades internacionais de credibilidade, afirmou o presidente do Centro de Convivência para Crianças que Vivem com HIV/Aids em São Paulo (AFXB), José Araújo. A Anvisa é uma agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde.
Segundo Araújo, a manifestação foi mais uma estratégia de pressão aos ministros do STF. Os ministros estão ouvindo muito o discurso acadêmico. Eles precisam escutar mais a fala das pessoas que vivem com HIV/aids, declarou. Estamos enchendo a caixa de e-mail deles. Outra ação que estamos pensando em realizar é apresentar essa realidade à Comissão Internacional de Direitos Humanos para que eles saibam o que está acontecendo no Brasil, completou.
Nós estamos aqui alertando a população para um direito que é de todos e não só das pessoas com HIV/aids. O governo é lento na incorporação de medicamentos, por isso devemos ter o direito de solicitá-los na Justiça", afirmou o presidente do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo e organizador da passeata, Rodrigo Pinheiro.
A situação está complicada
Áurea Abbade, advogada e presidente do Grupo de Apoio às Pessoas com Aids (Gapa) de São Paulo, acompanhou uma audiência pública que foi realizada ontem (4) em Brasília. Segundo ela, a situação está muito complicada. Estão acusando de irregular o reconhecimento de alguns remédios. Arguemntam que isso atende a interesses de laboratórios", disse ela.
Para Áurea, ultimamente tem havido um retrocesso na saúde pública. Parece que cada vez querem tirar os direitos de todos e privilegiar alguns. Inúmeras liminares já foram concedidas a pacientes, mas isso precisa estar ao alcance de toda a população, declarou.
Carta Aberta
Os manifestantes também leram e distribuíram a Carta Aberta à População e aos ministros do Supremo Tribunal Federal.
CARTA ABERTA À POPULAÇÃO E AOS
MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
PELA NÃO RESTRIÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA!
PELA NÃO LIMITAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE!
Nós, organizações da sociedade civil, usuários e cidadãos, estamos hoje em praça pública para defender o direito à saúde e exigir a dignidade que a Constituição nos assegura.
Neste momento, o Supremo Tribunal Federal (STF) está realizando, em Brasília, audiência pública para discutir as diversas ações judiciais que obrigam o SUS a fornecer medicamentos, insumos e procedimentos médicos não cobertos pelo sistema público.
O resultado da audiência poderá ser a edição de uma Súmula Vinculante sobre o tema, que deve interferir nas decisões de primeira e segunda instâncias no País.
Queremos aqui alertar: existe um movimento, que chegou ao STF, daqueles que desejam coibir nosso direito de acionar a Justiça e aqueles que afirmam que o SUS só deve cobrir o que for "financeiramente possível".
A população brasileira não pode ser responsabilizada pelas falhas dos gestores dos SUS. O problema é a ausência do Estado e não a existência das ações judiciais. O Poder Judiciário é imprescindível para garantir o direito à saúde nos muitos casos de omissão governamental.
ALERTAMOS A POPULAÇÃO, E CLAMAMOS AOS MINISTROS DO STF, QUE DECIDAM PELA AMPLIAÇÃO E NÃO PELA RESTRIÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA E À SAÚDE NO PAÍS. PARA ISSO ESCLARECEMOS:
1. Não é verdade que as ações judiciais são caso de polícia, como fazem divulgar vários gestores. Não é verdade que todos os pacientes, advogados e juízes estão a serviço de interesses de laboratórios e empresas da saúde.
2. Nós só entramos com ação na Justiça quando há urgência, necessidade de saúde e até mesmo risco de morte dos pacientes. As nossas ações são baseadas na Constituição Federal, que elege a vida e a saúde como bens maiores e inegociáveis.
3. A ação judicial depende de uma prescrição do médico, que deve ser responsável pelos seus atos e pela saúde do paciente.
4. A ação judicial ocorre quando o SUS demora muito a incorporar um medicamento ou procedimento. Essa demora muitas vezes acontece no registro junto à ANVISA na introdução nas listas oficiais do SUS, na compra ou na distribuição. Há também casos de medicamentos experimentados em ensaios clínicos no Brasil, cujos detentores de patentes não solicitam o registro na ANVISA.
5. Nós defendemos a padronização, pelo SUS, dos medicamentos de alta complexidade, a exemplo dos antiretrovirais. Nós também defendemos a prescrição responsável.
6. Nós condenamos as pressões e as condutas antiéticas da indústria farmacêutica e de equipamentos.
7. Nós defendemos que as eventuais distorções sejam prevenidas e punidas pelas autoridades competentes.
8. Nós defendemos medidas administrativas das secretarias de saúde para evitar ações judiciais, analisando cada prescrição e se antecipando à distribuição pelo SUS, desde que não sejam realizadas com morosidade.
9. Nós lutamos pela ampliação do acesso, inclusive lançando mão da quebra de patentes e da produção de genéricos.
10. E, principalmente, nós defendemos a destinação de mais recursos para o Sistema Único de Saúde por meio da regulamentação da Emenda Constitucional 29.
MINISTROS DO STF:
Decidam pelo nosso direito de continuar buscando na Justiça a garantia da saúde e da vida!
Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo
São Paulo, 29 de abril de 2009.
Fábio Serrato