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ALERTA DE DIRETORA DA ONU

01/04/2009 - Folha On Line

Estereótipo do macho propaga Aids entre os jovens

O desafio para enfrentar a epidemia global da Aids está na prevenção da contaminação e na barreira imposta por um conceito muito mais antigo que a própria doença, os estereótipos da masculinidade ligados à promiscuidade e à rejeição aos preservativos, segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês).

"Os jovens acreditam que para ser macho seja preciso não usar camisinha, ter muitas parceiras, fazer sexo casual. Tudo isso é permitido porque faz parte da imagem de macho, mas, na verdade, os colocam sob risco da contaminação da Aids", afirma a indiana Purnima Mane, diretora executiva do UNFPA.

Mane veio ao Rio para um simpósio sobre o combate aos estereótipos da masculinidade como ferramenta de prevenção à Aids. "Precisamos convencer os homens a deixar estes estereótipos de gênero, não apenas para o benefício de suas parceiras, mas para seu próprio benefício", disse Mane, que defende uma "nova masculinidade" onde a ênfase está no "macho protetor e responsável".

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A diretora da ONU afirma que o foco no comportamento masculino é resultado da compreensão de que, na maior parte das culturas, os homens são os que controlam o uso da camisinha. "Em culturas na África, por exemplo, se uma mulher é pega com uma camisinha na bolsa é presa como prostituta. As mulheres não podem nem ao menos comprar, quanto mais exigir, a camisinha por causa do estigma social."

A chave do programa, afirma Mane, está no combate aos estereótipos antes mesmo de sua influência definitiva no comportamento. "Se mudamos o comportamento cedo o suficiente, saímos em vantagem. Mudar algo que já se desenvolveu é muito mais difícil", explica a diretora. "É como o cigarro. É mais fácil convencer alguém que nunca fumou a não experimentar."

Influência

Mudar o comportamento, ressalta Mane, é mais fácil na teoria do que na prática. Como trabalha com jovens, a ONU foca seus esforços em encontrar influências positivas e combater aquelas que incentivam o comportamento de risco do velho macho.

"Muitos destes estereótipos do macho são conceitos presentes na cultura e defendidos mesmo por celebridades", afirma Mane.

O exemplo mais recente está nos Estados Unidos. O rapper Chris Brown, 19, foi acusado de agredir sua namorada, a cantora Rihanna, 21. As fotos da pop star com o rosto machucado vazaram na imprensa e iniciaram uma discussão entre os jovens americanos. Segundo uma pesquisa da Comissão de Saúde Pública de Boston, publicada pelo jornal "The New York Times", de 200 jovens consultados 42% dizem que a agressão é culpa de Rihanna e 52% dizem ser culpa de ambos.

Segundo um relatório da ONU de 2006, ao menos uma em cada três mulheres no mundo apanharam, foram forçadas a fazer sexo ou abusadas ao longo da vida. O agressor, na maioria dos casos, é alguém que elas conhecem. Este comportamento violento amplia a vulnerabilidade da mulher, explica Mane, que fica mais resistente em mudar seu comportamento passivo e exigir o uso do preservativo pelo homem.

"Nós sabemos que há muitas forças --educação, família, fé, cultura-- que influenciam a decisão dos jovens. O que fazemos é tentar trabalhar dentro da estrutura já existente, porque o simples confronto não traz resultado", explicou Mane, acrescentando que o programa da ONU depende da ação do governo e dos agentes da sociedade civil para funcionar.

Mapa da Aids

As barreiras culturais ao programa são ainda mais fortes na África, onde a cultura de alguns países condena mulheres que ajam contra comportamento promíscuo dos homens. Em parte por isso, a África subsaariana continua como a região com maior porcentagem de contaminação --onde vivem 67% de todas as pessoas contaminadas pelo vírus HIV e onde viviam 75% das vítimas da doença em 2007.

O caminho, ressalta Mane, é longo. Somente em 2007, segundo mais recente relatório da ONU, 2,7 milhões de pessoas foram infectadas pelo vírus HIV e outros 2 milhões morreram em consequência da doença.

Mas os resultados já começam a aparecer. Em 14 dos 17 países africanos com informação sobre a epidemia de Aids, a porcentagem de mulheres grávidas infectadas pelo vírus está em queda desde 2000. Em sete países, esta queda se igualou ou excedeu os 25% previstos para até 2010 na Declaração de Compromisso do Programa da ONU para a Aids.

"Nós temos o conhecimento, mas não é suficiente. Precisamos mudar atitudes, ambiente e políticas de incentivo, além dos serviços básicos de tratamento e prevenção", avalia Mane. "É muito para pedir agora, mas muito já se fez."