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ATIVISTAS DIVERGEM

03/03/2009 - Agência Aids

Sobre realização do teste rápido de HIV no Carnaval

No Carnaval deste ano, em Salvador na Bahia, foi ofertado pela primeira vez o teste rápido anti-HIV na região do Pelourinho. Entre os que procuraram o serviço (609 pessoas), 14 tiveram resultado positivo, o que representa cerca de 2,3% do total. Esse foi o maior percentual de diagnósticos positivos já realizados numa ação do "Fique Sabendo" - a estratégia de mobilização para a ampliação da testagem do Ministério da Saúde - em eventos culturais. No entanto, alguns ativistas da Bahia foram contra a iniciativa. “Trazer visibilidade [para a campanha] é bom. Mas fazer o teste durante o carnaval não é satisfatório. Lidar com resultado positivo num período de festas é complicado, a pessoa nem sempre vai ter uma rede de apoio de parentes ou de saúde no momento que recebe o resultado”, comentou Gladys Almeida, coordenadora da área de promoção de direitos humanos do Gapa da Bahia. Segundo a coordenação estadual de DST/Aids do Estado, das 14 pessoas que tiveram resultados positivos, duas já sabiam que eram portadoras do HIV.

Lívia Lima de Lacerda, membro das Cidadãs Posithivas de Salvador e da RNP-BA (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV), também não concorda com a data do carnaval, embora seja a favor da testagem rápida em outras ocasiões. “Acho que o resultado positivo pode ser um baque e, como é feriado, a pessoa tem de esperar até quarta-feira de cinzas para achar um posto de saúde aberto, fazer outros exames e se informar mais sobre a doença e tratamento”. Lívia ressaltou ainda que, no carnaval, as pessoas costumam beber muito “e com um resultado desses em mãos, no desespero, podem até fazer uma besteira”, opinou.

O militante Frederico Luz, da Coordenação Especial dos Núcleos de Prevenção da Aids – CENPA -, também é contra o teste no carnaval. “Penso que mesmo com todo amparo do Programa Nacional e da Secretaria do Estado da Saúde na atenção à pessoa que deseja ou concorda fazer o teste, isso não é suficiente para garantir uma acolhida do indivíduo que recebe o resultado, mesmo ele sendo negativo”, disse. Para ele, a população também necessita saber mais informações sobre a epidemia. “O governo sempre faz estardalhaço no período do carnaval, mas durante o ano esquece de colocar na mídia informações sobre prevenção - ainda só se fala de Aids em dezembro”, disse.

Ativista que acompanhou a testagem, no Pelourinho, aprovou a ação

Os três ativistas acima, ouvidos pela Agência de Notícias da Aids, foram contra a testagem, entretanto não acompanharam a atividade no Pelourinho. Já Moisés Toniolo, coordenador de direitos humanos da RNP e membro do CNAIDS, acompanhou o procedimento e relatou que toda uma estrutura foi montada num posto de saúde do Pelourinho para o “Fique Sabendo”. “Havia aconselhamento antes e depois da testagem”, afirmou Toniolo, explicando que, no pré-aconselhamento, as pessoas assistiam a um vídeo feito especificamente para essa finalidade e também participavam de um bate-papo com um técnico para sanar as dúvidas. Já o pós-aconselhamento era individual, numa sala fechada com um psicólogo que transmitia informações e fazia o encaminhamento do paciente a uma unidade de saúde especializada em HIV para depois do carnaval.

“Sou a favor desse tipo de ação, pois a grande procura mostrou o interesse pelo teste rápido”, afirmou o membro do RNP. Ele contou ainda que, em alguns momentos, houve até fila. “Algumas pessoas me disseram que já pensavam em fazer o exame de HIV, mas ainda não tinham ido a um posto de saúde por falta de tempo, e com a possibilidade de fazê-lo ali, facilitou”, disse.

Toniolo acredita também que outro ponto positivo do teste-rápido é ter o diagnóstico a tempo de se fazer um tratamento adequado. “Muita gente na Bahia morre de Aids porque descobre a doença numa fase avançada”.