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AIDS DEVASTA MOÇAMBIQUE

02/11/2003 - Folha de São Paulo

Um dos países mais atingidos pela Aids

Moçambique também se tornou independente de Portugal em 1975, pondo fim a quase cinco séculos de colonialismo. Mas sua dependência econômica da África do Sul, o êxodo de parte substancial de sua população, uma seca terrível e uma longa guerra civil minaram seu desenvolvimento.
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O país abandonou oficialmente o marxismo em 1989, e uma nova Constituição, aprovada em 1990, permitiu a realização de eleições multipartidárias e a introdução da economia de mercado. Um acordo de paz, negociado pela ONU, foi assinado em 1992.

Devastado por enchentes em 1999 e 2000, o país só viu o investimento internacional crescer recentemente, graças à estabilidade e medidas de saneamento econômico adotadas pelo governo.

A inflação chegou a ser contida no final da década de 90, mas o país ainda depende de ajuda financeira internacional, e a maioria de seus habitantes vive abaixo da linha da pobreza.

Sua população é uma das mais atingidas pela Aids no planeta, o que causa altos índices de mortalidade entre jovens e adultos.

Moçambique faz parte de várias rotas de tráfico de drogas.

O triste exemplo de Moçambique
Jornal - A TARDE (BA)

País africano de língua portuguesa tem 16% da população contaminada por Aids. Faltam programas de saúde e educação

Apesar do sorriso encantador, os moçambicanos não têm muito a comemorar. Moçambique é dono de uma triste estatística: 16% da sua população está contaminada com o vírus HIV. O analfabetismo e a pobreza são os principais responsáveis pelo número alarmante. Para uma população que não tem dinheiro para comprar pão, o preservativo é artigo de luxo.

Mas, assim como tem problemas, Moçambique tem organizações não-governamentais que se preocupam em conscientizar a população sobre as doenças sexualmente transmissíveis e a Aids. E a Bahia é prova desse trabalho. Desde segunda-feira Salvador sedia a segunda etapa do Intercâmbio Brasil-Moçambique. Brasileiros e moçambicanos trocam informações por meio da arte-educação sobre o melhor método de combate à Aids: a prevenção.

Por meio do teatro, da dança e da música eles tentam ensinar às pessoas que o uso da camisinha ainda é o único meio eficaz de combate à Aids. Os moçambicanos escolheram a arte-educação como forma de atingir o maior número de pessoas, já que 60% da população é analfabeta. "A intenção é democratizar o combate à Aids. Num País que mais da metade da população é analfabeta, a linguagem do corpo é a melhor forma de ensinar", explica a assistente técnica da Unesco, Maura Olivi.

Nesta segunda etapa do Intercâmbio Brasil-Moçambique, promovido pela Unesco e Usaid, participam 17 moçambicanos e 57 brasileiros do Ceará, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, além da Bahia. Em fevereiro deste ano, 15 representantes baianos do Projeto Axé, Cria e Bagunçaço fizeram o inverso. Eles foram a Moçambique e deram o molho brasileiro nas oficinas de dança, música e teatro.

PRESERVATIVOS – A maior parte dos portadores do vírus HIV em Moçambique fica na região sul, próximo à África do Sul. Com poucas oportunidades de trabalho, os moçambicanos vão ao País vizinho labutar nas minas. De lá muitos voltam para casa já infectados pelo contato com prostitutas, que não exigem dos clientes o uso da camisinha.

As esposas, que também não exigem dos seus maridos o uso do preservativo, são quase sempre vítimas do vírus. Moçambique reflete bem o atual perfil da doença no mundo. As mulheres pobres e fora dos grandes centros são, já há alguns anos, o alvo do HIV.

A conscientização por lá ainda é complicada. Luíza Joel Shimica, 22 anos, trabalha com a prevenção junto às prostitutas e caminhoneiros. Ela atesta que a resistência por parte, sobretudo, dos homens ainda é grande. "Nós os abordamos nas boates. Sentamos e conversamos com eles. Falamos que eles precisam usar a camisinha. No início eles eram muito arredios, hoje já mudou um pouco, mas ainda é difícil", conta Luiz, que mora na província de Sofala.

CULTURA – Apesar de terem em comum a língua e a negritude, os moçambicanos, diferentemente do baiano, têm uma cultura repressora. Num dos passeios por Salvador, mais precisamente o Beco dos Artistas, no Garcia, os adolescentes, com idade entre 18 e 25 anos, se assustaram ao ver dois homens se beijando. "Se em Moçambique tem isso é uma coisa secreta. Nós vemos na tevê, ouvimos falar sobre o assunto no rádio, mas não nas ruas", disse Leonel Ernesto Mucavel, 19 anos.

Aqui, como lá, o incentivo ao uso da camisinha tem como alvo também a diminuição da gravidez precoce. "Existem muitas adolescentes que engravidam cedo. O trabalho também passa pela conscientização dessas meninas", explica Lina Joel Tivan, 20 anos.

O ator e cavaquinista do Afroreggae, Jonas Michel de Souza (ver matéria abaixo), 16 anos, que no próximo dia 11 interpretará Faísca, do seriado Cidade dos Homens, exibido todas as terças-feiras pela TV Globo, sabe que o preço da desinformação é alto. "Tenho um amigo de 14, cuja mulher, de 13, já está grávida do segundo filho. Com 12 anos ela ficou barriguda pela primeira vez".

Roberto e Gisele, amigos de Jonas, moram na Favela Vigário Geral, no Rio de Janeiro. Gisele fica em casa, enquanto Roberto, o provedor da família, ganha alguns trocados engraxando sapatos nas ruas do Rio.

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