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ONGS LANÇAM CAMPANHA

30/10/2003 - Reuters

Campanha contra posição da Igreja sobre camisinha

Grupos que atuam na prevenção de HIV/Aids no
Brasil deram uma resposta à Igreja Católica, nesta terça-feira, pelas
declarações do Vaticano sobre a ineficácia dos preservativos na prevenção da
Aids, consideradas um "desserviço" ao trabalho de luta contra a doença
realizado no país.
A iniciativa, lançada no Rio de Janeiro, inclui a divulgação do vídeo
"Perdão", que faz duras críticas à posição da Igreja Católica, passeatas e a
mobilização de lideranças de todo o país. À frente da iniciativa estão as
ONGs Fórum ONG/Aids de São Paulo, que reúne mais de 160 organizações
não-governamentais no Estado, Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids
(RNP+), ONG de Profissionais do Sexo Davida e o Grupo Gay da Bahia (GGB).
Com imagens fortes, o vídeo lembra o tempo que a Igreja levou para pedir
perdão pela Inquisição e, aos judeus, por ter se calado contra o Nazismo.
"Quanto tempo a Igreja vai levar para pedir perdão às vítimas da Aids?",
pergunta o vídeo, mostrando em seguida a imagem de um preservativo. Com a
última cena da camisinha, aparece a mensagem: "Pecado é não usar".
"Sobre vários erros a Igreja voltou atrás, mas no caso da camisinha continua
na sua intolerância medieval", disse Luiz Mott, presidente do GGB.
Apesar de ser de 2000, o vídeo não foi divulgado amplamente por ter sido
considerado muito forte. Segundo Mott, um ex-seminarista, agora foi
resgatado como uma
"reação ao posicionamento anticientificista e
obscurantista da Igreja".
As ONGs que promoveram um encontro, do qual participaram 26 lideranças de
grupos de vários Estados do Brasil que trabalham na prevenção de DST/Aids,
discutiram ainda outras possíveis ações para responder ao que consideram um
"desserviço" da Igreja, referindo-se às declarações dadas pelo cardeal
Alfonso Lopez Trujillo.
Principal autoridade do Vaticano para questões de família, Trujillo disse no
início do mês que os preservativos não impedem a contaminação porque sua
"rede" seria maior do que o vírus da Aids.
As declarações criaram polêmica no mundo inteiro e foram contestadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o Ministério da Saúde emitiu
um comunicado no dia 14 de outubro, chamando a atitude de irresponsável. "O
Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde vem a público
repudiar a atitude irresponsável do Vaticano e da ala conservadora da Igreja
Católica, que mais uma vez, e sem nenhum respaldo científico, lançam dúvidas
sobre a eficácia do preservativo como barreira à transmissão do HIV",
afirmou.