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CIRCUNCISÃO E ÁFRICA

04/08/2008 - EFE

Especialistas defendem circuncisão

Especialistas defendem circuncisão como método de prevenção da aids na África

Especialistas que participam da 17ª Conferência Internacional sobre Aids ("Aids 2008"), realizada na Cidade do México, defenderam hoje a extensão da circuncisão masculina na África como método de prevenção no continente, o mais afetado pela doença com 24,5 milhões de infectados.

Estudos realizados na África provaram que a circuncisão reduz em 65% a possibilidade de os homens contraírem o HIV. Entretanto, sua adoção é ainda lenta devido ao estigma cultural e às dúvidas de Governos e doadores.

Especialistas da organização Population Services International (PSI) criticaram os obstáculos existentes à circuncisão no mundo, apesar de sua provada eficácia para prevenir o contágio do vírus em relações sexuais entre homens e mulheres.

O pesquisador Robert Bailey, professor de epidemiologia na Universidade de Illinois em Chicago e que conduziu dois dos três estudos existentes sobre circuncisão e aids, explicou que este método reduz o contágio do vírus porque no prepúcio existe uma grande concentração de células que são atacadas pelo HIV.

No entanto, a principal dúvida causada por este método de prevenção entre a comunidade internacional é a possibilidade de que "alguns homens possam se envolver em situações de maior risco pelo fato de a terem realizado", afirmou Bailey.

Ainda segundo o pesquisador, entre a população persistem estigmas sobre a circuncisão que a colocam como causa da disfunção erétil, perda de prazer ou desempenho sexual, para quem este método de prevenção poderia evitar cerca de dois milhões de contágios nos próximos dez anos caso fosse realizado maciçamente na África Subsaariana.

Bailey acaba de comandar uma pesquisa que concluiu que 1.319 homens recém-circuncidados não aumentaram suas condutas de risco.

Segundo outro estudo do acadêmico, feito entre 2.784 pessoas, "há um aumento na sensibilidade do pênis com a circuncisão. Alguns homens reportam inclusive que é mais fácil alcançar o orgasmo", e não existe relação entre ter ou não prepúcio e a disfunção erétil.

No entanto, Bailey reconheceu que faltam ainda mais estudos profundos sobre a possibilidade de os homens aumentarem suas condutas de risco e sobre a eficácia da circuncisão contra a transmissão do HIV na relação sexual anal.

Também não há dados sobre de que modo isto pode afetar ou beneficiar a mulher.

Neste sentido, Dvora Joseph, diretora do Departamento de Ação sobre a HIV na PSI, disse que é necessário "aumentar o acesso e a oferta de circuncisão masculina" na África.

"Já se passaram dois anos desde que foram interrompidos os testes de circuncisão na África, e a comunidade internacional ainda não se envolveu para aumentar o financiamento deste novo método de prevenção", sustentou.

Depois dos testes de Bailey no continente africano, que terminaram repentinamente em 2006 por falta de recursos e apoio, a PSI iniciou três projetos na Zâmbia, Suazilândia e África do Sul, que oferecem gratuitamente circuncisão masculina em hospitais e centros especializados.

Esses procedimentos são conduzidos por enfermeiras e pessoal sanitário e não por médicos, o que, de acordo com Joseph, demonstra que não há necessidade de ocupar pessoal especializado para estas tarefas, outra das preocupações dos Governos para não massificar a circuncisão.

Com esse programa, a PSI circuncidou mais de 500 homens e descobriu, por exemplo, que a maioria (45%) alega higiene para praticar o procedimento, seguido da necessidade de uma proteção parcial contra o HIV (37%) ou razões médicas (7%).

A difusão da circuncisão ainda enfrenta barreiras culturais em alguns países africanos - algumas tribos consideram este um ritual religioso, que não deve ser conduzido em um hospital.

Outros detratores vêem a circuncisão como fonte de contágio. É o caso do presidente de Uganda, Yoweri Museveni, que manifestou publicamente sua intenção de proibi-la.

Em sua opinião, as precárias medidas sanitárias para sua prática fora dos hospitais favorecem a expansão da doença.