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HIV E ENZIMAS HEPÃTICAS

13/05/2008 - AIDSMAP

o risco da rifampicina e lopinavir/ritonavir

Combinar doses aumentadas de tabletes de lopinavir/ritonavir com o medicamento anti-tuberculose rifampicina aumenta o nível de enzimas hepáticas e causa náusea e vômitos

Os resultados do estudo, que envolveu voluntários sem HIV, surpreendeu os pesquisadores porque um estudo anterior havia mostrado que era possível o aumento com segurança das doses de formulação termo-estável do lopinavir/ritonavir soft-gel quando combinado com a rifampicina. Eles pensam que a combinação pode ser melhor tolerada em pacientes coinfectados com HIV e tuberculose e pensam que isto mereceria mais pesquisa.
Estima-se que aproximadamente 13 milhões de pessoas com HIV estão coinfectadas com tuberculose. A rifampicina é uma medicação usada em primeira linha para a terapia anti-tuberculose, mas é processada pelo fígado usando o caminho da enzima P450 que também é utilizada por inibidores da protease e Inibidores de transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos. Isto pode resultar em interações medicamentosas.
A maior parte dos casos de coinfecção entre HIV e tuberculose estão localizados em regiões de baixos recursos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que estes pacientes tomem a terapia anti-tuberculose baseada em rifampicina, e terapia antiviral baseada em efavirenz. A terapia anti-HIV de segunda linha em lugares de escassos recursos inclui um inibidor da protease. Mas as doses padrão de inibidores da protease não podem ser administradas com rifampicina porque a interação entre os medicamentos leva a uma grande redução das concentrações do inibidor da protease, arriscando um aumento da carga viral para o HIV.
Os pesquisadores holandeses mostraram anteriormente que esta interação pode ser superada. Eles aumentaram a dose da formulação termo-estável do lopinavir/ritonavir do padrão de 400/100mg duas vezes por dia para 800/200mg duas vezes por dia.
Uma nova formulação do lopinavir/ritonavir está sendo comercializada recentemente, e a mesma equipe de pesquisadores desejava ver se podiam aumentar as doses deste com segurança e combiná-lo com segurança com a rifampicina.
Portanto desenharam um estudo envolvendo 40 voluntários sem HIV. Nos primeiros cinco dias do estudo, os voluntários receberam 600mg de rifampicina uma vez por dia, a dos terapêutica usual. Depois planejava-se randomizar os voluntários para receber lopinavir/ritonavir duas vezes por dia em doses de 600/150 mg ou 800/200mg. Os pesquisadores pretendiam avaliar os níveis sanguíneos dos medicamentos e monitorar os efeitos colaterais físicos e de laboratório.
Onze voluntários iniciaram a primeira onda do estudo. Não houve efeitos colaterais nos primeiros cinco dias do estudo quando só receberam a rifampicina. Mas depois do acréscimo do lopinavir/ritonavir, oito indivíduos sentiram náuseas e vômitoa, enquanto um sentiu só náusea e outro só vômitos.
No sétimo dia do estudo, dois após o início do uso de lopinavir/ritonavir, houve aumentos significativos nas enzimas hepáticas ALT e AST, marcadores chaves da função hepática. Mais ainda, os níveis de lopinavir/ritonavir em sangue ficaram indetectáveis em cinco pacientes na manha do sétimo dia devido aos vômitos.
No oitavo dia foi decidido o encerramento precoce do estudo. As duas enzimas hepáticas ALT e AST chegaram ao máximo nos dias nove e dez, e oito pacientes tiveram uma perigosa elevação de grau quatro das enzimas hepáticas neste momento. A função hepática retornou ao normal seis semanas depois do fim do estudo.
Os pesquisadores se surpreenderam com a alta incidência de efeitos colaterais neste estudo. Eles notam que os pacientes coinfectados com HIV e tuberculose parecem tolerar a terapia anti-tuberculose baseada em rifampicina com terapia antiretroviral que inclui o inibidor da protease saquinavir/ritonavir. Eles sugerem que os pacientes com HIV podem tolerar estas combinações melhor do que os voluntários sem HIV. Eles notam, “não foi pesquisado até o momento, se os pacientes coinfectados com HIV e tuberculose toleram a combinação de rifampicina e lopinavir/ritonavir melhor do que os voluntários sadios.”
Eles concluem , “este estudo mostra o caráter desafiante da compatibilidade da rifampicina e dos inibidores da protease para a terapia TB-HIV. Aconselhamos que sejam realizados mais estudos entre a rifampicina e tabletes de lopinavir/ritonavir na população coinfectada com HIV e tuberculose no lugar dos voluntários sadios. Enquanto se aguarda estes resultados, o tratamento simultâneo com rifampicina e lopinavir/ritonavir não deve ser aplicado.”

Ref.

Nijland HMJ et al. High incidence of adverse events in healthy volunteers receiving fampicin and adjusted doses of lopinavir/ritonavir tablets. AIDS 22: 931 – 935, 2008.

Trad. Por J. Beloqui