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01/02/2007 - AGÊNCIA ESTADO
Estudo suíço pode mudar vida sexual de portador de HIV
Especialistas suíços em aids disseram hoje que algumas pessoas portadoras do vírus HIV que estão sob tratamento estável podem ter relações sexuais desprotegidas com parceiros que não têm o vírus sem que estes corram risco de contaminação. A Comissão Nacional Suíça da Aids disse que pacientes em condições específicas, incluindo um tratamento anti-retroviral bem-sucedido para suprimir o vírus e a ausência de outras doenças sexualmente transmissíveis, não colocam os parceiros em perigo. A proposta, publicada nesta semana no Boletim Médico Suíço, surpreendeu pesquisadores na Europa e América do Norte que sempre argumentaram que sexo protegido com camisinha é o único modo efetivo para prevenir a disseminação da doença além da abstinência.
"Não apenas (a proposta suíça) é perigosa, é enganosa e não considera as implicações de fatos biológicos envolvidos na transmissão do HIV", disse Jay Levy, diretor do Laboratório de Pesquisas Virais de Tumor e Aids da Universidade da Califórnia, em San Francisco. Os cientistas suíços partiram de um estudo americano de 1999, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, que mostra que a transmissão depende fortemente da carga viral no sangue. Eles disseram que outros estudos demonstraram que pacientes sob tratamento regular antiaids não transmitem o vírus, e que o HIV não pode ser detectado em seus fluidos genitais.
"A evidência mais gritante é a ausência de qualquer transmissão documentada de um paciente em terapia anti-retroviral", disse Pietro Vernazza, chefe do departamento de doenças infecciosas no Hospital Cantonal de St. Gallen, no leste da Suíça, e um dos autores do relatório. "Vamos ser claros, a decisão permanece sendo do parceiro HIV negativo", ele disse. Os estudos citados pela comissão suíça não concluem definitivamente se pessoas com vírus HIV e em tratamento anti-retroviral podem ter relações sexuais desprotegidas sem transmitir o vírus.
Filhos
Na prática, a recomendação afetaria cerca de um terço dos paciente de aids na Suíça, diz Vernazza , mas pacientes e seus parceiros irão se beneficiar de uma melhora da qualidade de vida, incluindo poder ter filhos sem temer transmitir o vírus. Levy afirma que não há um modo seguro de saber se o paciente com HIV que não tem vírus detectável no sangue não transmitirá o vírus. Mais pesquisas sobre as relações entre carga viral no sangue e a presença do vírus em fluidos genitais são necessárias, ele disse.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que a Suíça seria o primeiro país no mundo a tentar este caminho. "Há ainda uma certa preocupação por não poder garantir que alguém não será infectado, e as provas, devo dizer, não são conclusivas", disse Charlie Gilks, diretor de tratamento e prevenção de AIDS na OMS. "Nós não vamos mudar em nada nossas recomendações muito claras de que as pessoas continuem a praticar sexo seguro, protegido com camisinha, em qualquer relação", disse Gilks.