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IGREJA X CAMISINHA

16/10/2003 - JORNAL DO BRASIL

Ministério da Saúde responde à Igreja

O Ministério da Saúde divulgou ontem uma nota oficial de "repúdio" às recentes manifestações do Vaticano contra o uso do preservativo para evitar a Aids. Segundo a nota, assinada pelo diretor do Programa Nacional de DST/Aids, Alexandre Grangeiro, o ministério contesta as declarações sobre a ineficácia do método, chamando a atitude do Vaticano e da ala conservadora da Igreja Católica de "irresponsável", por lançar dúvidas sobre o efeito do preservativo como barreira à transmissão do HIV.
De acordo com a posição do governo federal, a Igreja "presta um desserviço ao mundo" ao afirmar que os poros do preservativo são maiores do que o vírus da Aids. A nota de Grangeiro lembra que, na mesma semana em que o Vaticano se manifestou contra o método, a Unaids - órgão da ONU para as políticas de controle da Aids no mundo - divulgou dados alarmantes sobre o crescimento da epidemia entre jovens, informando que a cada 14 segundos um adolescente contrai o HIV.
Segundo o Ministério da Saúde, o papel da Igreja é agir no campo moral e religioso, não no científico. O governo federal afirma, ainda, que uma instituição que fale contra o preservativo como forma eficaz de prevenção contra a Aids deve assumir a responsabilidade de estar pondo em risco a sobrevivência da humanidade.
A assessoria do Ministério da Saúde afirma que a nota do Programa de DST/Aids foi motivada por uma suposta campanha que o Vaticano vem fazendo nos últimos dias junto aos meios de comunicação - começando na BBC de Londres - a favor da abstinência sexual como forma de evitar doenças sexualmente transmissíveis.
"Essa argumentação (...) foi derrubada pela primeira vez em 1992, pelo National Institute of Health dos Estados Unidos", afirma a nota do governo federal. Esse instituto fez análises que não detectaram nenhuma porosidade no látex do preservativo. A nota cita diversos outros estudos e se coloca favorável à posição da Organização Mundial de Saúde, que recomenda o uso do preservativo como única prática efetiva na defesa contra a Aids.