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HIV NA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL
04/12/2007 - Agencia LUSA
Maiores de 55 anos são 7,5% de infecções lusas por HIV
A não utilização de preservativo em relações heterossexuais é a principal causa da transmissão do HIV entre maiores de 55 anos, casos que representam 7,5% das notificações em Portugal e "tendem a aumentar", sobretudo entre as mulheres, segundo especialistas.
São os jovens com cerca de 15 anos e as mulheres com idade mais avançada os protagonistas da taxa de incidência portuguesa do HIV referente a novos casos, uma das mais elevadas da Europa, segundo dados divulgados nesta terça-feira durante um congresso que aconteceu nas proximidades de Lisboa.
Segundo a epidemiologista Teresa Paixão, dos casos de HIV registrados pelo Ministério português da Saúde, 7,5% correspondem a portadores com mais de 55 anos. "Entre esta população, há 1.764 casos notificados e predomina a transmissão sexual entre heterossexuais - aquela que terá maior expansão epidêmica, muito associada a comportamentos de risco", explicou a especialista, destacando que a transmissão do vírus através de relações heterossexuais representa 62% do total de casos notificados.
"Este valor tende a aumentar progressivamente, particularmente entre as mulheres, cujo número de casos vem se acentuando em 2006 e 2007", acrescentou.
Para a epidemiologista, a possível adoção de testes rápidos de Aids em unidades de saúde vai contribuir para um melhor diagnóstico, mas é fundamental também reunir profissionais de várias especialidades para melhor caracterizar a "dinâmica da infecção" e fomentar a "interiorização" do assunto.
A mesma opinião foi manifestada por José Vera, responsável pelo Centro Hospitalar de Cascais, que lamentou que a "ignorância e a falta de abertura" se estendam a todas as idades, sendo responsáveis por um elevado número de diagnósticos de difícil controle.
"Os casos mais típicos entre os maiores de 55 são pessoas que estão sós e se infectam durante relações de curta duração e pessoas dentro de relacionamentos estáveis, mas em situação de infecção por contato com outros parceiros. Nestes casos, como o relacionamento de risco é muito tabu e os primeiros sintomas podem surgir apenas oito ou dez anos após a contração do HIV, o diagnóstico é tardio", explicou o especialista.
Segundo José Vera, a não utilização do preservativo se deve, sobretudo, à rejeição da informação e ao receio de que o reconhecimento da doença leve ao confronto por causa da traição, não podendo ser relacionado com a oferta de medicamentos como o Viagra e com a possibilidade de esta geração ter vivido na juventude o "sexo sem barreiras" dos anos 1960, 1970 e 1980.
"Não vale a pena dizer que os comprimidos azuis e a minissaia foram culpados, porque as pessoas continuam não associando a atividade sexual com o risco e mantendo a idéia de que o preservativo incomoda, tira a potência. Não há nenhum grupo que não tenha preconceitos", defendeu.
"O problema está na mentalidade, como acontece com a questão do cinto de segurança. O problema é que não usar cinto no carro dá multa, mas aqui se perde a carta de condução de vez", comparou.
Durante a sua apresentação no congresso de Cascais, José Vera alertou ainda para a dificuldade do tratamento e do próprio organismo do doente com mais idade em dar resposta a um vírus que ataca todos os órgãos do corpo e pode agravar patologias já existentes, como diabetes, hipertensão ou insuficiência renal.
O especialista recorreu às conclusões de um estudo recente para mencionar, por exemplo, que a ingestão de retrovirais (medicamentos prescritos para o HIV) aumenta os níveis de colesterol e que a probabilidade de enfarte do miocárdio em populações idênticas submetidas aos mesmos fatores de risco é maior entre os infectados com o vírus.