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CRÍTICA A BUSH E VATICANO

19/10/2003 - JORNAL DE BRASÍLIA

Bush, Vaticano e o combate à Aids

Em editorial, o jornal norte-americano The New York Times criticou a forma como o governo George W. Bush está conduzindo a política de prevenção à Aids, quando cancelou um programa para vender preservativos a homossexuais no Brasil. De acordo com o jornal, o cancelamento foi apenas um exemplo recente de que as decisões do governo Bush são baseadas naquilo que agrada aos conservadores nos Estados Unidos, desencorajando projetos que incentivam a sexualidade de prostitutas e homossexuais e também do uso de drogas por dependentes. O uso de preservativos é atacado pelo governo Bush, que defende a abstinência sexual até o casamento. Acredite se quiser. Essa posição é idêntica à do Vaticano, cujo chefe do Conselho Pontifício para a Família, o cardeal Alfonso Lopez Trujillo (que não se perca pelo nome de família, o mesmo do sanguinário ex-ditador dominicano), que afirmou, com a maior candura, que os preservativos (a camisinha, é claro) não protegem adequadamente contra a transmissão do HIV, defendendo que a melhor forma de impedir a disseminação da Aids é manter a castidade antes do casamento. Essa afirmativa veio acompanhada de uma roupagem supostamente "científica", pois, segundo o chefe do Conselho Pontifício, "o HIV é 450 vezes menor do que o espermatozóide, e o espermatozóide pode passar pela trama do preservativo". Acrescentou o cardeal que, assim como as autoridades de saúde alertam a sociedade sobre os perigos do tabaco, o mesmo deveria ser feito com a camisinha.
Acontece que essa "teoria" já foi derrubada há pelo menos dez anos, por estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, quando pesquisadores ampliaram o látex usado para a fabricação do preservativo em duas mil vezes, observando-o então com um microscópio eletrônico. Nessa rigorosa avaliação, nenhum poro foi achado. As pesquisas prosseguiram, e outro trabalho avaliou 40 marcas de camisinhas vendidas no mundo, ampliando o látex desses produtos em 30 mil vezes e, mesmo assim, nenhum poro foi encontrado.
Paralelamente, estudos feitos em pesquisa da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, mostraram que o uso sistemático e correto do preservativo apresenta uma efetividade superior a 95% na prevenção da transmissão do HIV. Mais ainda: mesmo que usado de forma inconstante, o uso da camisinha aumenta em 10 mil vezes a proteção contra o vírus.
Diante disso, só nos resta encetar uma campanha de divulgação da camisinha como forma eficaz de impedir o alastramento da Aids, em todo o mundo, em oposição aos desmandos conservadores do governo George W. Bush e do Vaticano, que fingem ignorar as verdadeiras epidemias da doença em alguns países africanos, justamente por falta de preservativos e da divulgação do seu uso na mídia de massa.
Não podemos ignorar, e muito menos induzir ao erro, que o uso da camisinha é, sem dúvida, a forma mais eficaz de se evitar a disseminação da Aids em todo o planeta.
Sexo para todos. Mas sexo seguro, é claro.