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CIRCUNCISÃO EM BEBÊS
01/10/2007 - Folha de São Paulo
Médicos divergem sobre a circuncisão em bebês
Técnica é defendida por alguns urologistas para a prevenção de doenças futuras
Outros especialistas da área afirmam, entretanto, que a cirurgia deve ser aplicada apenas em casos em que há doenças como a fimose
Costume entre muçulmanos e judeus, a circuncisão em recém-nascidos é também feita por orientação médica e divide opiniões de especialistas.
De um lado, estão urologistas para os quais cortar o prepúcio nos primeiros dias de vida é uma forma de prevenir doenças futuras, como o câncer de pênis. Do outro, especialistas dizem que não compensa uma cirurgia em que riscos estão envolvidos e que ela só deve ser feita se detectado algum problema como a fimose.
O urologista Afiz Sadi, professor da Unifesp, afirma que "a indicação de cirurgia era reprimida no passado", mas que hoje estão comprovados muitos benefícios. Nos EUA, por exemplo, pesquisas mostram que 60% dos homens são circuncidados. Entre os judeus, que fazem a circuncisão no oitavo dia de vida, "praticamente não há casos desse tipo de câncer", diz.
A doença é originada principalmente por problemas de higiene, que geralmente se agravam em pessoas com fimose. O prepúcio -pele que envolve a glande- secreta uma substância chamada esmegma, que se aloja na região com restos de urina. Caso não haja limpeza adequada, infecções repetidas podem afetar as células do prepúcio ou da glande, favorecendo o aparecimento do câncer.
A doença é mais freqüente em regiões pobres e representa 2% de todos os tipos de câncer em homens no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer.
A circuncisão também protege contra a Aids. Pesquisas feitas na África mostraram que a prática pode reduzir de 50% a 60% a vulnerabilidade ao vírus HIV. Isso fez a ONU (Organização das Nações Unidas) anunciar em março apoio à circuncisão como um meio para prevenir a Aids em países com alto índice de contaminação.
Mesmo com a proteção "extra", defensores e críticos da circuncisão concordam que usar preservativo é essencial.
A prevenção contra outras doenças como o HPV (papiloma vírus) e câncer de colo de útero na parceira é outra vantagem da circuncisão, segundo o urologista Eric Wroklawski, professor da Faculdade de Medicina do ABC. Ele afirma que o mecanismo de dor no bebê é inibido se ele sugar água com açúcar durante a cirurgia.
Segundo ele, "o inconveniente da circuncisão é que pode causar estreitamento da ponta da uretra, pelo contato com a fralda, e que pode ter implicações cirúrgicas se feita por profissional não-habilitado".
Para Peter Liquornik, da Sociedade Brasileira de Pediatria, a cirurgia tem benefícios, mas não deve ser praxe, e sim decidida pelos pais. Já o secretário da Sociedade Brasileira de Urologia, Roni Fernandes, diz não haver necessidade de circuncidar todos os bebês. "É para caso de fimose, tem de fazer diagnóstico para indicar cirurgia."
Para ele, tendo em vista que o câncer de pênis tem baixa incidência, não compensa o risco de deixar um bebê ser operado por outro profissional que não um urologista preparado. "A prevenção por meio da circuncisão é discutível", diz. Segundo ele, a qualidade de vida influi na prevenção. "Na Suécia, a circuncisão não é costume e a incidência do câncer é baixa".
Ele afirma que o custo total de uma circuncisão em um urologista particular varia muito, mas pode chegar a R$ 3.500.