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LIBIA COMPROMETE SARKOZY EM NEGOCIATA
02/08/2007 - Folha de São Paulo
As enfermeiras búlgaras
Filho do ditador Muammar Gaddafi diz que libertação de enfermeiras búlgaras envolveu venda de armas da França
Presidente nega afirmações; segundo Seif al Islam, grupo acusado de infectar crianças líbias com HIV era "inocente" e serviu de "bode expiatório"
O filho do ditador líbio Muammar Gaddafi, Seif al Islam, afirmou que um acordo relativo à compra de armas da França foi um dos pontos principais das negociações para a libertação, na semana passada, de cinco enfermeiras búlgaras e um médico palestino acusados de infectar crianças líbias com o HIV. Ele disse ainda crer que os profissionais -condenados a morte em seu país e depois, sob acordo, levados à Bulgária- são inocentes e "infelizmente serviram de bodes expiatórios".
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, negou as afirmações, mas não deu detalhes.
"O acordo retoma os exercícios militares conjuntos", afirmou Islam, em entrevista ao jornal "Le Monde", além de dizer que a Líbia comprará mísseis franceses por cerca de 100 milhões. Segundo Islam, a França ainda se comprometeu a proteger a Líbia de ameaças externas, mas ele disse não ter certeza se a questão entrou no acordo final.
No último dia 24, a Líbia extraditou à Bulgária cinco enfermeiras e um médico, presos por oito anos sob acusação de infectar com o HIV 426 crianças num hospital líbio e inicialmente condenados à morte. Para especialistas, a contaminação ocorreu por falta de higiene.
França e União Européia negociaram com a Líbia, que comutou a pena para prisão perpétua e os extraditou à Bulgária. Sófia perdoou o grupo.
Durante as negociações, Sarkozy reativou um acordo nuclear de 2006 pelo qual a França venderá à Líbia reatores para a produção de energia elétrica. O presidente também assinou um tratado de cooperação militar e industrial cujos detalhes não foram revelados. Islam afirmou que a Líbia não tem carência de energia e que o reator francês possibilitaria ao país exportar eletricidade.
A comutação da pena envolveu ainda o pagamento de US$ 460 milhões em indenização às famílias das vítimas, por uma fundação dirigida por Islam. A origem da soma é incerta -os europeus negam ter contribuído. Segundo Islam, a negociação também envolveu a extradição de um agente líbio preso no Reino Unido por ligação com o atentado contra um avião da PanAm que explodiu sobre a cidade escocesa de Lockerbie e matou 270 pessoas, em 1988. O governo britânico também negou ontem esse acordo.
A entrevista gerou polêmica na França. O Partido Socialista exige explicações do governo.