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AMÉRICA LATINA E CARIBE

16/04/2007 - EFE

Especialistas ressaltam feminização da aids

A cada minuto, 55 mulheres da América Latina e do Caribe são contaminadas com o vírus da aids (HIV), conseqüência direta do processo de feminização da doença, ressaltaram hoje na Argentina especialistas que participam de uma reunião de líderes femininas da região.

Mais de 25 anos depois do surgimento da síndrome da imunodeficiêndia adquirida, "a cada dia mais a aids tem feições de mulher", destacou-se numa sessão prévia do 4º Fórum Latino-americano e do Caribe, promovido pela Coalizão de Primeiras-Damas e Mulheres Líderes e que começará amanhã.

A percentagem de mulheres adultas infectadas pela doença no mundo todo passou de 35% em 1985 para 48% atualmente.

Além disso, mais de 60% dos jovens com entre 15 e 24 anos afetados pela aids são mulheres.

Só na América Latina, o número de portadoras do HIV aumentou 10% entre 2003 e 2006.

Esses números evidenciam o preocupante processo de "feminização" da aids, que só no ano passado infectou 140.000 pessoas na América Latina e causou a morte de 65.000, comentaram os especialistas na reunião.

O avanço da aids entre a população feminina se deve à distribuição desigual do poder entre homens e mulheres, a estereótipos e a arraigados fatores socioeconômicos que propiciam uma cultura de silêncio ao redor do sexo que impede a prevenção do contágio.

Uma pesquisa realizada no Brasil revelou que 35,7% dos adolescentes de sexo masculino com entre 16 e 19 anos tomam a iniciativa na hora de usar o preservativo, número que aumenta para 42,7% entre os entrevistados com entre 20 e 24 anos. Já entre as mulheres das duas faixas etárias, esses percentuais foram de 9,1% e 14%, respectivamente.

"As mulheres querem agradar seus parceiros e muitas vezes não se atrevem a enfrentá-los", destacou a ministra da Secretaria Especial de Política para as Mulheres do Brasil, Nilcéa Freire.

Mulheres jovens, heterossexuais e pobres compõem o perfil das afetadas pela doença na América Latina e no Caribe, já que, segundo a representante especial para temas da mulher da Chancelaria argentina, Magdalena Faillace, "existe uma relação direta entre a feminização da pobreza e a feminização da aids".

As portadoras do HIV também são discriminadas e têm muitas dificuldades na de encontrar trabalho, disse, por sua vez, Patricia Pérez, da Secretaria para a América Latina e o Caribe da Comunidade Internacional das Mulheres com HIV/aids.

Pérez afirmou que, em muitos países, as mulheres com a doença têm acesso ao tratamento quando estão grávidas, mas que, depois de darem à luz, o bebê passa a ser a prioridade, como se fossem mero "recipiente".

"As mulheres que têm aids não conhecem seus direitos, por isso não podem lutar por eles", ressaltou.

Dois terços dos 1,7 milhão de infectados pelo HIV na América Latina vivem eno Brasi, na Argentina, na Colômbia e no México. No entanto, a prevalência estimada do vírus é maior nos países menores da América Central, sendo de 1% em El Salvador, Guatemala e Panamá; de 1,5% em Honduras; e de 2,5% em Belize, segundo estatísticas de 2005.

A Coalizão de Primeiras-Damas e Mulheres Líderes, presidida pela primeira-dama de Honduras, Xiomara Castro de Zelaya, foi formada há seis meses em Nova York, no âmbito de uma reunião das Nações Unidas sobre o HIV/aids.

O principal objetivo do grupo é inserir o problema em agendas regionais e internacionais, para que sejam desenvolvidas políticas públicas que ponham em andamento ações de longo prazo e acabem com o machismo e a discriminação, destacou Castro.

A coalizão aposta na promoção da educação sexual, sobretudo entre a população mais jovem, assim como no aumento do acesso a medicamentos anti-retrovirais, a exames diagnósticos e a programas de apoio social aos infectados para reduzir a estigmatização derivada da doença.