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TRANSPARÊNCIA E AIDS NA CHINA

01/04/2007 - EFE

Falta de transparência causa temor de pandemia de aids na China

A frência sobre as informações da aids na China, onde atualmente existem 640 mil portadores da doença, segundo Pequim, e mais de 6 milhões, segundo as ONGs, faz com que os especialistas temam uma pandemia que teria a ignorância como estopim.
Sem que tenha sido reconhecida oficialmente como uma situação de emergência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não concede o direito de fabricar anti-retrovirais (ARV) sem infringir a patente das empresas farmacêuticas, solução que alguns países em desenvolvimento aplicam.
As "estimativas" oficiais, em cujo cálculo a OMS e a Unaids participaram, reduziram o número inicial de 800 mil afetados, mas os portadores comprovados em 2006 (185) aumentaram 30% com relação a 2005, por causa do aumento dos testes.
Nas áreas rurais, a detecção por análise de sangue é praticamente inexistente, por causa da crença de que a doença só atinja homossexuais, drogados e prostitutas, com o agravante de que sua descoberta significa discriminação.
"Os números que temos são estimativas", disse Hendrik Bekedam, representante da OMS na China, pois embora o método empregado tenha sido "bastante bom, poderia ser melhor".
Desde que o Governo chinês reconheceu a existência do problema, em 2003, facilitou o tratamento em regiões em que a principal via de contaminação era o uso de seringas infectadas e a prostituição.
No entanto, ainda é um tabu falar da venda de sangue que os Governos locais impulsionaram nos anos 90 entre a população mais pobre, e que se transformou em motivo principal de contágio.
Bekedam reconhece que não há informações destes anos, "e existe a crença de que a maior parte (dos infectados) morreu", embora alguns especialistas afirmem que caso a transparência fosse permitida, apareceriam descendentes contagiados e parentes que reivindicariam indenizações.
Segundo Pequim, 5% dos portadores atuais do Vírus de Imunodeficiência Humana (HIV, na sigla em inglês) ficaram doentes por transfusão de sangue, embora as ONGs considerem que em certas regiões esta percentagem tenha aumentado para 90%.
O alarme foi dado pela doutora Gao Yaojie, que revelou o escândalo de contágios na província de Henan durante a década de 90.
"Posso dizer sem exagerar que o número de mortos por causa da aids na China supera o de mortos durante a Segunda Guerra Mundial", superando a marca de 10 milhões de pessoas.
"É uma advertência", disse Hu Jia, ao se referir às palavras de Gao.
Hu fundou as ONGs Aizhi e Loving Source, ambas destinadas à proteção dos doentes de aids na China.
"Os números do Governo não coincidem com os nossos. Nossos cálculos indicam números 10 vezes maiores". Apenas na província de Henan, pelo menos 3 milhões de camponeses venderam seu sangue, "e 30% contraíram aids", afirma.
Hu justifica o número da OMS por "não poder tomar dados diretamente. Na realidade, a situação na China é muito grave, pois em Henan, Shanxi, Shandong, Anhui e Mongólia Interior, 90% dos camponeses doentes contraíram aids por transfusão ou venda de sangue".
A doutora Gao, de 80 anos, critica de forma dura os funcionários como "corruptos sem-vergonhas", e explica que a venda de sangue continua nas áreas rurais, em particular nas províncias de Cantão e Guizhou, embora a OMS tenha dito que hoje esta prática está quase erradicada.
As autoridades só fazem revisões com os grupos de alto risco, mas a população comum não realiza os testes gratuitos, "pois ninguém acredita que seja confidencial e se teme a discriminação", acrescentou.
Além disso, muitos doentes de aids morrem na China como tuberculosos, principalmente em Sichuan, Xinjiang e Henan.
Em 2005, havia 5 milhões de doentes de tuberculose na China, com 130 mil mortes por ano, 80% em áreas rurais.