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VACINA ANTIAIDS

15/02/2007 - AFP

Calcanhar de Aquiles do HIV pode virar alvo de uma vacina

Cientistas descobriram um ponto vulnerável, espécie de calcanhar de Aquiles ou "buraco na armadura", do vírus da Aids que poderia ser alvo de uma vacina visando a neutralizar o vírus da imunodeficiência humana (HIV), segundo um artigo publicado nesta quarta-feira na revista científica Nature.

"Criar uma vacina contra o HIV é um dos grandes desafios científicos da nossa época", declarou em um comunicado o diretor dos Institutos Nacionais de Saúde americanos (NIH), Elias Zerhouni, estimando que os pesquisadores "revelaram um buraco na armadura do HIV, abrindo assim um novo caminho para enfrentar este desafio".

A difusão do HIV, que infecta quase 1% da população adulta mundial, e a ausência até o momento de uma vacina eficaz podem ser explicados pela "capacidade do HIV-1 de escapar de uma neutralização por meio de anticorpos", explicaram os pesquisadores na revista.

O HIV muda freqüentemente de configuração, mas conserva algumas partes, o que lhe permite se fixar aos receptores CD4 das células do sistema imunológico.

Peter Kwong (NIAID/NIH, Estados Unidos) e seus colegas examinaram em escala atômica como evolui passo a passo a configuração do local onde se dá a ligação entre a glicoproteína viral 120 (gp120) e o receptor CD4 da célula hospedeira. Uma imagem de raio X desta mesma ligação, feita pela equipe do Doutor Kwong em 1998, já havia permitido constatar os pontos do vírus que poderiam ser alvo de medicamentos ou vacinas. No entanto, a imagem também havia revelado as defesas que o HIV possui, lembra o Instituto Nacional Americano contra as alergias e as doenças infecciosas (NIAID).

Nos últimos trabalhos, os pesquisadores conseguiram visualizar como o anticorpo b12, decoberto no sangue de pessoas cujo sistema imunológico parece resistir por muito tempo ao HIV, cria uma ligação química estável com a molécula viral gp120.

Este anticorpo liga-se à molécula viral gp120 no mesmo lugar em que esta última se acopla ao receptor CD4, porta de entrada das células imunológicas, explicou o NIAID por meio de um comunicado. Ao se fixar à molécula viral, o anticorpo a impede de entrar na célula imunológica, funcionando como um "chiclete" colado na ponta de uma chave e impedindo que esta entre na fechadura.

"Um de nossos primeiros objetivos é desenvolver vacinas contra o HIV que poderiam estimular fortemente os anticorpos neutralizadores", declarou Gary Nabel, um dos autores desse trabalho, que espera atacar o vírus em seu calcanhar de Aquiles.