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A AIDS E A FOME EM MOÇAMBIQUE
07/01/2007 - LUSA
Fome dificulta tratamento contra Aids em Moçambique
A administração de antiretrovirais a portadores de HIV na província de Manica, centro de Moçambique, enfrenta grandes dificuldades devido à fome e má nutrição na região, disse à Agência Lusa Francisco Luís, coordenador para as grandes endemias em Manica.
"Há dificuldades em administrarmos antiretrovirais, sempre que os associamos à questão alimentar nos doentes", disse Luís. Esta situação tem impedido os órgãos da saúde em Manica de atingirem as metas traçadas na cobertura de administração de antiretrovirais, acrescentou.
Em entrevista à Lusa, Francisco Luís disse que 2,6 mil pessoas, incluindo cerca de 300 crianças, beneficiam dos antiretrovirais, entre 13,4 mil inscritos para a TARV (Terapia Anti-Retroviral), o que significa que 10,8 mil portadores do vírus não recebem aquele tratamento devido à crise alimentar.
As autoridades da província tinham como meta administrar antiretrovirais a 3,5 mil pessoas que vivem com HIV, até final de 2006.
Apesar de assumirem não terem responsabilidades na alimentação aos doentes, os responsáveis provinciais pela saúde empenham-se na sensibilização das famílias para cuidarem da componente alimentar.
"Mas nem todas as famílias se têm mostrado capazes de fazer a gestão alimentar dos doentes", disse Francisco Luís.
Parcerias
Para amenizar a situação, as estruturas de saúde em Manica trabalham em parceria com o PMA (Programa Mundial de Alimentação), através das associações de combate ao HIV/Aids, para o apoio alimentar a estas famílias.
Algumas associações de portadores do vírus têm desenvolvido também pequenos projetos de geração de rendimentos para a sua sustentabilidade na província de Manica, a partir de fundos disponibilizados pelo Núcleo Provincial de Combate ao HIV/Aids (NPCS) e outros parceiros da área.
É o caso da Associação para o Desenvolvimento Humanitário (Taremba) que produz chinelos, artigos de alfaiataria e agricultura de sustento, como base para a segurança alimentar dos infectados.
Cerca de 40 adultos e mais de 100 crianças órfãs são assistidos diretamente pela Taremba.
Mas Aquimo Paulo, secretário executivo da associação, disse à Lusa que, à semelhança da sua, muitas associações enfrentam dificuldades na obtenção dos fundos do NPCS.
"Há grandes atrasos na aprovação de fundos para projectos", disse Aquimo Paulo, afirmando que muitas iniciativas das associações têm "vida curta".
Parte da produção da Taremba serve para o consumo dos doentes e a outra para venda, cujo objetivo é variar a dieta alimentar dos infetados.
Atualmente, a Taremba possui uma área de mais de 200 hectares de terras aráveis para a produção de milho, soja e outros produtos hortícolas, utilizando nessa atividade portadores do vírus, não doentes e ativistas voluntários.