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A MALÁRIA E AIDS NA ÀFRICA

10/12/2006 - Folha de São Paulo

A malária ajuda a espalhar a epidemia de Aids na África

A malária, doença provocada por um protozoário injetado no sangue humano pelo mosquito Anopheles, ajuda a espalhar ainda mais a epidemia de Aids na África. A descoberta foi publicada ontem na revista "Science".
Essa fatídica associação, segundo o modelo matemático desenhado por Laith Abu-Raddad, da Universidade de Washington, e colaboradores, funciona dos dois lados. A Aids também contribuiu para o aumento do número de casos de malária.
"Alta carga viral no sangue humano causa mais transmissão de HIV, e a malária provoca exatamente esse aumento na quantidade de vírus", disse o principal autor do trabalho. Ainda não se sabe o porquê, mas o pico do vírus ocorre durante a chamada fase febril da malária.
A estimativa feita pelos pesquisadores é que a malária tenha ajudado o HIV a infectar milhares ou milhões de pessoas na África sub-saariana nos últimos 25 anos.
O caminho inverso ocorre principalmente porque a Aids derruba as defesas imunológicas do organismo. A suscetibilidade ao protozoário fica bem maior.
Entre os 200 mil moradores da cidade de Kisumu, no Quênia, 5% dos casos de Aids e 10% dos de malária foram provocados pela associação das doenças desde 1980. Isso equivale a 8.300 pessoas com Aids e a 980 mil casos de malária (uma pessoa pode ser contaminada por essa doença mais de uma vez).
A descoberta da associação, dizem os cientistas, tem uma importância grande para as autoridades de saúde pública. "As ações, agora, precisam ser conjuntas".
Das 39,5 milhões de pessoas contaminadas pela Aids no mundo, 24,7 milhões são da África sub-saariana. No total, 2,9 milhões de pessoas morreram em 2005 pela doença. Dentre estes, 2,1 milhões viviam na região mais pobre do planeta. A malária mata 1 milhão de pessoas ao ano, principalmente crianças africanas.