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ESPECIALISTAS CRITICAM PROGRAMA DE PREVENÇÃO DO GOVERNO BUSH

21/11/2006 - Folha de S.Paulo

Por determinação do presidente George W. Bush, Washington só financia iniciativas anti-Aids baseadas em abstinência e fidelidade, o que é no mínimo irrealista.

ESPECIALISTAS CRITICAM PROGRAMAS DE PREVENÇÃO À AIDS DO GOVERNO BUSH BASEADOS EM ABSTINÊNCIA SEXUAL E FIDELIDADE

Como ocorre todos os anos no mês de novembro, as Nações Unidas divulgaram números sombrios sobre a epidemia global de Aids. De acordo com o mais recente relatório, estima-se que existam hoje 39,5 milhões de indivíduos vivendo com o vírus HIV no planeta. Ao longo de 2006, ocorreram 4,3 milhões de novas infecções; 2,9 milhões de pessoas morreram em conseqüência da moléstia.

A África subsaariana ainda é o principal foco da Aids, concentrando 24,7 milhões de portadores do vírus -63% do total. O sul e sudeste da Ásia, com 7,8 milhões de soropositivos, e a Europa oriental e Ásia central, com 1,7 milhão, permanecem como áreas onde a epidemia se propaga com rapidez alarmante.

Na média, o crescimento da epidemia já não é catastrófico. As 4,3 milhões de novas infecções registradas nos últimos 12 meses representam um acréscimo de 400 mil casos em relação ao período anterior. Graças a esforços de prevenção, houve redução na prevalência da Aids (entre 2000 e 2005) em países-chave como Botsuana, Burundi, Costa do Marfim, Maláui, Quênia, Ruanda, Tanzânia e Zimbábue.

O que preocupa é constatar que em certos países nos quais a situação parecia sob controle houve ressurgência da epidemia. O caso mais gritante é o de Uganda, até há pouco apontado como modelo de tratamento e prevenção. O que aconteceu?

O relatório da ONU é uma peça diplomática e, como tal, cala sobre determinados assuntos para não ferir suscetibilidades. Vários especialistas, entretanto, afirmam que a piora da situação em Uganda se deve ao fato de o país ter cedido aos apelos e ao dinheiro dos EUA e passado e enfatizar a abstinência sexual, e não o uso de preservativos, em seus programas de prevenção. Por determinação do presidente George W. Bush, Washington só financia iniciativas anti-Aids baseadas em abstinência e fidelidade, o que é no mínimo irrealista.

Os números relativos à Aids mostram que a doença ainda é um flagelo que castiga especialmente as populações mais pobres, mas que a epidemia pode ser mantida sob controle com programas sérios de prevenção.