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XVI Conferência Mundial de AIDS

14/08/2006 - Resumo da Conferência

Epidemiológico e Prevenção

A 3a década da pandemia do HIV continua sendo testemunha da inexorável propagação do vírus e de um devastador aumento das taxas de mortalidade. ONUAIDS estima que hoje existem uns 38,6 milhões de infecções pelo HIV em todo o mundo. No ano 2005, se produziram 4,1 milhões de novas infecções pelo HIV e 2,8 milhões de mortes a causa da AIDS. Observou-se um descenso da prevalência do HIV num reduzido número de países, como Kenya, Zimbabwe, Haití, Burkina Faso e vários estados da Índia. As epidemias de HIV apresentam uma grande diversidade entre e dentro das diferentes regiões do planeta. A transmissão sexual continua sendo o modo de propagação predominante, mas as epidemias de Europa oriental e algumas partes de Ásia têm como mecanismo de transmissão fundamental o consumo de drogas injetáveis (CDI), enquanto que no caso de Norteamérica e Europa, o principal modo de transmissão é através de homens que mantêm relações sexuais com outros homens (MSM) . África do Sul continua sofrendo uma carga desproporcional de infecção pelo HIV e são as mulheres jovens e as meninas as que levam a pior parte nesta epidemia. A prevalência do HIV entre as mulheres grávidas desta região supera o 40%. Dada a natureza dinâmica da epidemia, e à medida que as epidemias evoluem, a necessidade de contar com mais dados relativos às taxas de incidência resulta cada vez mais crítica.

Apesar das diferenças no modo de transmissão do HIV, uma caraterística comum é que a propagação do HIV se vê influenciada por um complexo conjunto de fatores contextuais, políticos, sociais, econômicos e estruturais. Entre estes fatores estão as violações dos direitos humanos, o estigma e a discriminação, a pobreza, a migração, o acesso aos serviços, as diferenças por sexos e de poder, o grupo étnico e a raça.
As respostas à pandemia deveriam ser desenhadas tendo em conta estes fatores estruturais e contextuais.

O crescente acesso a tratamento gera novas oportunidades para a prevenção do HIV. É cada vez mais reconhecido p papel dos conhecimentos sobre o estado sorológico do HIV como um importante veículo da prevenção e da assistência sanitária. Enquanto existe um acordo geral sobre a necessidade de incrementar o acesso e a aplicação em grande escala dos testes de detecção do HIV, existe um menor grau de acordo sobre como atingir estes objetivos. É necessário dar um passo além da polarização deste debate entre um enfoque baseado nos direitos humanos e um enfoque baseado na saúde pública. Os argumentos devem-se basear em dados científicos acerca de qual é o melhor modo de fomentar a realização de testes de detecção do HIV por iniciativa dos profissionais prestadores de atenção sanitária, garantindo ao mesmo tempo que a decisão de realizar esses testes seja voluntária e seja baseado numa adequada informação. Um fator crítico para resolver qualquer tipo de inquietude com respeito à realização sistemática de testes de detecção é o acesso aos antiretrovirais, a confidencialidade, a ausência de estigmas. Os ativistas dos direitos humanos alegam que são necessários vários modelos diferentes para se adequar às circunstâncias particulares de cada lugar, dado que a realização sistemática de testes de detecção requer, como condição prévia, um acesso sem restrições aos antiretrovirais. A aplicação em grande escala dos testes de detecção do HIV é essencial para possibilitar o acesso aos antiretrovirais a todas as pessoas que deles necessitam e se deve seguir usando todos os modelos sempre que sejam respeitosos com a dignidade humana.

Está constatado que a prevenção dá resultados. As iniciativas para otimizar as estratégias de prevenção existentes seguem funcionando a bom ritmo. Nos HSH as intervenções on-line dirigidas a eles utilizando um cruzeiro virtual para homossexuais e sistemas de aprendizagem através de Internet, assim como intervenções de pares com os líderes de opinião popular, demostraram obter um aumento do uso das práticas sexuais seguras. O uso de uma estratégia integrada para o alívio da pobreza em África mediante um programa de microfinanciamento reduz os níveis de violência contra o/a parceira sexual nas mulheres receptoras deste reforço econômico. Uma série de mudanças na legislação que repercutiu sobre as estratégias de redução de danos no Brasil levou a uma redução da infecção pelo HIV entre os usuários de drogas injetáveis (UDI). A mobilização comunitária em Botswana conduziu a um aumento do uso dos testes de detecção do HIV, incluindo a realização de testes no casal. Os dados preliminares obtidos em Ruanda sugerem que os antiretrovirais podem reduzir a transmissão do HIV nos casais sorodiscordantes. O principal foco da ênfase continua centrado em seguir aumentando a difusão das estratégias de prevenção conhecidas, a medida que as iniciativas atualmente em marcha tentam sua melhoria.

Traduzido por Jorge Beloqui