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A EPIDEMIA NA ÀFRICA
08/12/2005 - AFP
Pandemia de Aids destrói estruturas familiares na África
O vírus HIV, causador da Aids, está destruindo famílias inteiras em toda a África, alertaram nesta terça-feira especialistas sanitários de todo o mundo, durante encontro internacional celebrado em Abuja, capital da Nigéria.
"A família tem se tornado frágil na África por causa da pobreza e da Aids", disse a jornalistas Rima Salah, vice-diretora-executiva do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
"Nossas intervenções se concentram no tratamento de indivíduos e ignoramos o alicerce da sociedade africana: a família", acrescentou.
Delegados presentes na XIV Conferência Internacional de Aids e Doenças Sexualmente Transmissíveis na África (ICASA, na sigla em inglês) afirmaram que, embora a família deva ser uma forte unidade no combate à Aids, ela tem sido minada.
Em famílias pobres onde os dois pais têm dificuldades em ganhar o sustento da família, a morte de um deles por Aids gera uma situação econômica insustentável dentro dos lares.
Se pai e mãe morrem, os filhos são forçados a se virar sozinhos e a cuidar dos irmãos e irmãs menores.
Meninas com pouca instrução que são forçadas a desempenhar o papel de chefe de família podem não ter outra opção do que entrar na prostituição para sustentar seus irmãos, colocando-se elas próprias sob o risco de serem infectadas, caso já não estejam.
"A contaminação de crianças é uma grave crise social, tanto em termos de como cuidá-las quanto da estabilidade familiar", destacou Michel Sidibe, vice-diretor da UNAids, entidade que reúne dez agências da ONU no combate à Aids.
Os maridos infectam suas esposas e as mães infectam seus filhos. Embora exista a tecnologia para evitar a transmissão de mãe para filho, as medidas necessárias só podem ser implementadas se as mulheres grávidas fizerem acompanhamento pré-natal. No entanto, tais consultas são desconhecidas em vastas áreas da África subsaariana.
Cliff, um jovem nigeriano de 23 anos que vive com a Aids disse aos delegados como, quando era adolescente, ele foi informado que só se infectaria através de "relações seguidas com prostitutas". Ele se contaminou e foi expulso da Marinha depois que ficou conhecida sua condição de soropositivo e, envergonhado de permanecer em sua cidade-natal, fugiu para Abuja.
Agora, sua esposa e o filho de dois anos também estão contaminados.
Embora metade das transmissões de mãe para filho ocorra durante o parto, sua esposa foi informada de que enquanto evitasse a amamentação, qualquer criança a que ela desse à luz ficaria livre do vírus.
"Quando meu filho tinha um ano ele foi declarado soropositivo", continuou Cliff, antes de destacar: "Eu ainda fico com os olhos cheios de lágrimas quando o vejo".
A África subsaariana, região mais afetada pela pandemia de Aids, tem uma estimativa de dois milhões de crianças soropositivas neste fim de 2005.
Afetados pela pobreza, alguns pais podem hesitar em tomar medicamentos anti-retrovirais, mesmo agora que os preços dos remédios foram reduzidos em todo o continente, porque o dinheiro gasto com medicamentos significa menos comida para alimentar a família.
Para Jim Kim, chefe de HIV/Aids da Organização Mundial da Saúde, o fato de que as mães agora tenham acesso aos anti-retrovirais e desde que a paciente tenha acesso a uma alimentação adequada, poderá prolongar sua vida em 15 anos. "Se conseguirmos prevenir a transmissão de mãe para filho e tratar das crianças, então seremos capazes de permitir às mães (infectadas) cuidar de seus filhos até a idade de 15 anos", disse ele à AFP.