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A INFECÇÃO DO HIV NA ARÁBIA SAUDITA
06/10/2005 - Reuters
ONU quebra tabu e fala de Aids na Arábia Saudita
A ONU lançou uma campanha de conscientização sobre a Aids na conservadora Arábia Saudita, onde homossexualidade e adultério são crimes e as discussões sobre sexo são tabu, disse um funcionário da entidade na quarta-feira.
Mayssam Tamim, coordenadora dessa ação no Programa de Desenvolvimento da ONU, disse que a oficina para adolescentes realizada na semana passada em Riad, a capital, seria a primeira de uma série que, espera ela, será no futuro adotada por escolas de todo o país.
As taxas de infecção na Arábia Saudita são baixas, mas especialistas dizem que a relutância em falar sobre sexo fora do casamento em uma sociedade tão conservadora prejudica os esforços para conter o vírus HIV.
"Somo a região com a menor prevalência, mas ela cresce em um ritmo rápido", disse Tamim à Reuters. "Eu odiaria constatar que a baixa prevalência dar às pessoas uma falsa sensação de segurança. Queremos imaginar que as pessoas estão seguindo as crenças religiosas e não estão tendo relações sexuais ilícitas", afirmou.
O governo diz ter registrado 989 casos de Aids e 1.181 infecções pelo HIV até o final de junho.
Esses dados excluem os estrangeiros -- mais de um terço da população adulta do país --, que são deportados sem tratamento caso dêem positivo nos exames. Pacientes sauditas recebem terapia antiretroviral e outros medicamentos grátis.
Na oficina da semana passada, 25 adolescentes discutiram a doença. Os participantes simulavam o recebimento de exames com resultados positivos e negativos e debateram formas de evitar a discriminação contra os doentes.
"A oficina não toca em assuntos delicados, mas desencadeia questões", disse Tamim.
Ela pretende repetir a experiência em algumas escolas particulares antes de buscar ampliá-la para o ensino público. "Gostaríamos de trabalhar com o governo para ver como isso poderia ser implementado."
Mas mesmo essa discreta oficina já pode ser considerada uma provocação na Arábia Saudita. "Tive garotos que disseram: 'Não podemos contar aos nossos pais o que você disse hoje"', afirmou Tamim.
As publicações oficiais sobre a Aids no reino reforçam a percepção de que se trata principalmente de uma ameaça externa. Um folheto do Ministério da Informação, lançado neste ano, mistura alertas sobre os perigos dos contatos sexuais inseguros a garantias de que "nossas comunidades estão imunes, devido aos ensinamentos religiosos e valores sociais". "Felizmente, a Aids só é transmitida por práticas inadequadas", diz o texto.
Um estudo médico publicado no ano passado no país disse que 4.761 estrangeiros -- mais que o triplo do número de sauditas -- deram positivo em exames para o HIV entre 1984 e 2001 no reino.
Essa disparidade, ressalva o estudo, pode resultar do fato de que os estrangeiros são submetidos a muito mais exames. O texto propõe uma estratégia "adequada às regras e aos valores islâmicos" para evitar a disseminação da doença.
"Mesmo que o número de casos de HIV na Arábia Saudita ainda seja limitado, há um potencial para uma rápida transmissão deste vírus", alertava o estudo.