Notícias
AIDS NO LOCAL DE TRABALHO NA FRANÇA
05/10/2005 - LE MONDE
Soropositivos discriminados no local de trabalho
Aos 35 anos, Joel Vermont, funcionário de um banco, foi rejeitado por seus colegas e por seus superiores, que descobriram que ele é soropositivo. As atitudes de afastamento persistem na esfera profissional, mas também no meio médico e no círculo familiar
Paul Benkimoun
Em Paris
Seis em cada dez portadores do vírus da Aids são vítimas de discriminação, segundo uma pesquisa realizada pelo Sida Info Service e divulgada nesta segunda-feira (03/10). O fenômeno é particularmente presente no mundo profissional, devido ao medo do contágio e ao preconceito. O índice pode chegar a 73,2% para pessoas cuja soropositividade foi descoberta há mais de 20 anos.
Assim, Joel Vermont, conselheiro comercial na agência parisiense de um grande banco, sentiu-se discriminado quando voltou ao trabalho depois de uma longa licença em 1999. Seus colegas, sabendo que ele era soropositivo, o afastaram, e seus superiores reduziram suas responsabilidades. Hoje colocado em invalidez, ele quer que o preconceito seja reconhecido.
A discriminação se instalou insidiosamente. Em 1999, aos 35 anos, depois de ter escapado milagrosamente da morte no ano anterior e retomado seu trabalho, Joel Vermont sentiu que "alguma coisa não ia bem" entre seus colegas na agência de um grande banco em Paris. Ele soube que estava infectado pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) em 1992 e está sob tratamento desde 1994. Mas não disse nada no trabalho. Em 1998, uma grave infecção respiratória, sinal de evolução ao estado de Aids, o deixou em coma durante 45 dias e provocou um longo período de reeducação funcional.
Ao voltar ao trabalho, Vermont preferiu guardar discrição sobre os motivos de sua hospitalização. "Eu me limitei a contar que tive uma grave infecção pulmonar, assim como uma doença digestiva, o que era verdade. Não quis ir além disso."
Naquele momento ele ainda ignorava que sua diretora havia obtido informações sobre sua saúde, fazendo-se passar por um membro da família. Cansado demais para trabalhar em tempo integral, Vermont consegue um meio-período terapêutico.
"Aos poucos percebi que eu era afastado por meus colegas", ele lembra. "Eles me convidavam cada vez menos. Não me avisavam quando iam tomar uma bebida depois do expediente. Eu não encontrava mais lugar para sentar com meus colegas no almoço e tinha de fazer as refeições com os estagiários."
Vermont chegou a perder algumas responsabilidades. "Eu tinha me tornado oficialmente um 'polivalente comercial'", ele disse. Ou seja, um tapa-buraco, sem uma carteira de clientes para administrar. "A direção me mandava fazer os trabalhos mais repetitivos, mais desinteressantes."
"EXISTEM DIREITOS"
O clima se degradou e aumentaram os atritos com colegas. "O que me causou mais mágoa", conta Vermont, "foi a atitude de uma sindicalista da CFDT, que não me tratava melhor que os outros. Depois eu soube que ela era um dos que faziam fofocas a meu respeito."
Quando uma nova diretora assumiu a agência, Vermont lhe contou seus problemas e soube que ela fora informada pela ex-diretora de que ele era soropositivo. "Quanto mais tempo passava, mais eu desmoronava", ele lembra.
Seu médico percebeu que ele estava deprimido. "Você não está bem. Vou pedir uma licença", ele avisou. Vermont foi contrário, pois chegara ao fim do período em que recebia remuneração integral e corria o risco de ficar com meio salário.
Em março de 1999 ele concordou e foi tratado durante três meses de depressão. Dessa vez nenhum de seus colegas pediu notícias dele. Quando retornou ao trabalho, foi confinado a tarefas cada vez mais ingratas.
Devia principalmente cuidar de um estudante estagiário. Este lhe contou que os colegas o haviam advertido, dizendo que Vermont era homossexual e quase com certeza soropositivo, desequilibrado e nocivo. A pedido de Vermont, que pensava em abrir um processo judicial, o estudante redigiu um depoimento.
Em junho de 1999 a Previdência Social reconheceu que ele tinha "invalidade-incapacidade de trabalho de segunda categoria", o que provocou a cessação de sua atividade.
Alguns meses depois ele recebeu uma ligação do estudante pedindo para retirar seu depoimento: o banco havia lhe oferecido um emprego fixo sob a condição expressa de que ele retirasse o depoimento.
"Eu aceitei não utilizar seu depoimento", explica Vermont. "Não quero criticá-lo por ter aceitado. Mas por isso todas as minhas ações na justiça foram rejeitadas."
Seu contrato de trabalho sem remuneração continua válido, e Vermont recebe uma indenização de cerca de 150 euros por mês de seguro profissional, completados por uma pensão de invalidez de 850 euros, ou seja, 67% de sua renda anterior.
Apoiado pelas entidades Aides e Act Up, junto às quais ele trabalhou como voluntário, conseguiu no verão uma carta de invalidez de 80%, com efeito retroativo a fevereiro. Será um dado suplementar para obter a aposentadoria que Vermont deseja.
"Uma ruptura do contrato de trabalho por doença me permitiria receber indenizações que a meu ver constituem uma reparação pelo que sofri", ele avalia.
Há três anos Vermont aceitou depor "para mostrar que existem direitos e que é preciso respeitá-los."
"Devemos confrontar o desinteresse da população pelas pessoas afetadas pelo vírus da Aids", ele conclui. Vermont sabe do que está falando. Tratado há mais de dez anos, é submetido a uma pesada politerapia: 46 cápsulas por dia.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves