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AGRICULTURA E AIDS NA ÃFRICA

07/09/2005 - Agência Reuters

Aids reduz extensão de terras cultivadas

A Aids dizimou com tamanha força as comunidades rurais da África a ponto de reduzir em quase 70% a extensão de terras cultivadas em alguns países, disseram pesquisadores na quinta-feira. Cerca de 80% dos africanos vivem da agricultura, mas a doença, que já afetou mais de 25 milhões de habitantes da África subsaariana, deixa cada vez menos gente capaz de arar o solo.
"A agricultura africana depende do trabalho braçal. Não se pode produzir se não há quem trabalhe nas fazendas", disse Annmarie Kormawa, da ONG Iniciativa Pan-Sistêmica para HIV/aids e Agricultura (Swiha, na sigla em inglês). Essa entidade, com sede em Benin, vem reunindo informações sobre o impacto da epidemia de Aids na África. Faz isso por meio de entrevistas com agricultores, pesquisadores, administradores e profissionais da saúde. De acordo com ela, a pandemia obriga os agricultores a preferirem cultivos que exijam menos capacidade física.
Alguns agricultores reduzem sua carga de trabalho ou abandonam completamente a lavoura. Em algumas áreas do Quênia, houve uma redução de 68% nas terras cultivadas e um declínio no cultivo do café, do chá e da cana-de-açúcar, segundo a Swiha.
Algumas partes de Ruanda também tiveram redução de 60% a 80% na força de trabalho rural por causa da doença. No Malawi, 70% dos lares tiveram dificuldades por causa da morte do homem da família. Em Burkina Faso, 20% das famílias rurais reduziram a atividade agrícola ou a abandonaram por causa do vírus HIV.
Kormawa disse à conferência anual da Sociedade Britânica para o Avanço da Ciência, realizada em Dublin (Irlanda), que a pandemia também provoca atrasos no plantio, declínio nas criações de animais, perda da quantidade e qualidade dos alimentos e redução nas propriedades rurais.
A África subsaariana é a região do mundo mais atingida pela Aids. Estima-se que ali vivam 64% de todos os soropositivos e 76% das mulheres contaminadas. A Swiha busca formas de combater o problema, como a introdução de um novo tipo de arroz especial para as necessidades dos agricultores africanos pobres. Essa espécie é resistente a secas, precisa de menos água para crescer e pode aumentar a safra em até 50 por cento.
"Nos últimos 20 anos desde que o HIV e a aids foram descobertos, a doença teve um grande impacto sobre as comunidades agrícolas africanas", disse Kormawa. "A pesquisa agrícola não pode resolver a epidemia de aids, mas pode diminuir seu impacto sobre os sobreviventes", afirmou Kormawa.