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TRANSMISSÃO DO HIV

09/08/2005 - Folha de São Paulo

Secretaria confirma transmissão por transfusão

Uma mulher com idade entre 25 e 35 anos foi infectada pelo vírus HIV por meio de uma transfusão de sangue, conforme informou nesta sexta-feira a Secretaria de Saúde de Campinas (95 km de São Paulo). A identidade dela e o local em que o procedimento foi feito não foram divulgados.
O caso foi notificado em maio, mas a transfusão ocorreu em 2003. A contaminação só teria sido detectada após a realização de exames pré-natal. Outro caso semelhante, também envolvendo uma mulher, está sendo investigado.
Em 23 anos, foram registrados quatro casos confirmados de contaminação por transfusão na cidade. O último havia ocorrido em 1988. O Programa DST/Aids do Ministério da Saúde informou que, de 1980 até junho de 2004, 2.059 pessoas contraíram o vírus desta forma, em todo o país.
O caso só veio a público após uma entrevista da coordenadora municipal do programa, Maria Cristina Ilário, a um programa da EPTV, afiliada da "Rede Globo". Ela disse que a notícia foi divulgada "acidentalmente".
Na entrevista, Ilário falava sobre outro tema, mas relacionado ao assunto. "Não há exigência em tornar os casos de contaminação públicos. O que tem de ser feito é rastrear e tomar as medidas de segurança necessárias para evitar contaminação de outras pessoas."
Por meio de nota divulgada à imprensa, Ilário ressaltou que medidas de segurança foram tomadas e que a possibilidade de transmissão do vírus HIV por transfusão é "praticamente nula" pois o SUS (Sistema Único de Saúde) "dispõe de tecnologia de ponta para o controle de hemoderivados".
Ela excluiu a possibilidade de a bolsa com o sangue extraído da pessoa que fez a doação ter sido utilizada por outros pacientes.
Em nota, o Hemocentro da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), considerado referência no Estado, informou "que não existe qualquer relação" entre o caso da contaminação por transfusões e a instituição. "As pacientes não foram transfundidas no Hemocentro da Unicamp e as bolsas de sangue não foram coletadas pela instituição", diz um trecho da nota.

"Janela"

"Todas as medidas foram tomadas em tempo hábil, mas os testes disponíveis no banco de sangue não foram capazes de detectar a presença do vírus na bolsa do doador", disse a coordenadora do programa municipal de DST/Aids.
A contaminação da mulher pode ter ocorrido em razão da chamada "janela imunológica". Ou seja, o doador pode ter tido algum comportamento de risco até três semanas antes de doar o sangue.
Nesses casos, o teste pode não ter detectado a presença do vírus pois não haviam sido desenvolvidos anticorpos no organismo da pessoa. "Neste ponto é que é importante a sinceridade do doador durante a entrevista antes da doação."

Hemocentros

A seleção de doadores nos hemocentros especializados é baseada no cadastro e em entrevistas sigilosas com o objetivo de identificar todas as situações de risco possíveis, tanto para a saúde do doador quanto para a saúde de quem vai receber o sangue.
São investigados desde uso de medicamentos pelo doador, comportamento de risco para doenças sexualmente transmissíveis, entre outros fatores de risco. Depois da triagem e da coleta do sangue, os hemocentros separam o sangue em componentes que atenderão diferentes necessidades dos pacientes.
A transfusão pode ser necessária, por exemplo, para restabelecer ou estabilizar a condição clínica de um paciente em casos de anemia aguda (falta de glóbulos vermelhos ou hemácias), em razão de cirurgia, acidente ou úlcera gástrica e anemia crônica decorrente de quimioterapia, entre outros.
De acordo com o Hemocentro da Unicamp, o sangue permanece em quarentena até que se concluam todo os testes exigidos. Depois de realizados testes de triagem sorológica, o sangue é disponibilizado para as provas chamadas pré-transfusionais (de compatibilidade sangüínea).
A transfusão do sangue no paciente é feita por meio de uma veia, geralmente do braço ou da mão. O acesso a essa veia é obtido pela introdução de uma agulha ou um cateter.
No entanto os hemocentros admitem que, mesmo com todo o rigor técnico, é possível a ocorrência de transmissão de doenças infecciosas, como hepatites B e C, doença de Chagas, sífilis, Aids e HTLV I/II (vírus associado à leucemia/linfoma de células T e a uma doença neurológica chamada paraparesia espástica tropical).