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ROBERT GALLO DEFENDE LABORATÓRIOS

20/07/2005 - O Globo

Conhecido internacionalmente como co-descobridor do vírus da Aids

Conhecido internacionalmente como co-descobridor do vírus da Aids (ao lado do francês Luc Montagnier), o cientista americano Robert Gallo provocou polêmica em sua passagem pelo Brasil. Em entrevista divulgada ontem no site Agência Aids, Gallo defende os laboratórios farmacêuticos, diz que nem todos deveriam receber remédios anti-HIV gratuitamente e usa uma expressão chula para se referir aos pobres que precisam das drogas.
— Pobre é o cacete! — afirmou, interrompendo os repórteres que perguntavam sobre como garantir que pessoas pobres tivessem acesso gratuito aos medicamentos. — Por que vocês vêm falar sobre as pessoas pobres para mim? Lamentar pelos pobres? O mundo todo tem pessoas pobres, não só o Brasil. Os Estados Unidos têm nas cidades do interior milhões de pessoas pobres. Pessoas pobres existem em todo lugar, vocês não são diferentes no Brasil.
O destempero de Gallo teve início quando os jornalistas perguntaram sua opinião sobre a disputa entre o governo brasileiro e o laboratório Abbott sobre a possível quebra de patente do medicamento Kaletra (uma das drogas do coquetel anti-Aids distribuído gratuitamente no Brasil).
— Se eu fosse o governo brasileiro, eu negociaria ao máximo para conseguir o preço mais baixo possível. É natural. Mas se você for longe demais e quebrar as patentes, você se torna um renegado, uma espécie de fora da lei — sustentou na entrevista gravada pelo site. — E isto não é justo porque eles (Abbott) investem muito dinheiro para desenvolver a droga. Então, há os dois lados da história, eu não sei qual é o lado certo.
Pressionado, no entanto, Gallo se mostrou impaciente:
— Como o Abbott pode fornecer os remédios de graça? Eles são uma empresa. Eles pertencem a milhares de pessoas, acionistas — disse, segundo a transcrição da fita divulgada pelo site. — Muitas pessoas em Chicago acreditam no Abbott. Elas investiram as economias de uma vida inteira no Abbott. Elas pagaram. Elas trabalharam a vida inteira e investiram seu dinheiro ali. E agora você quer que o Abbott dê o remédio gratuitamente!
Por isso, concluiu, os remédios anti-Aids não deveriam ser distribuídos gratuitamente para todos que precisam. — Por que eles (os remédios) deveriam ser gratuitos? Alguém paga por isso. Nada é de graça. Vocês sabem, os remédios não caem do céu, não crescem em árvores. Não existe um jardim nos Estados Unidos onde o dinheiro brota ou o remédio brota.
Gallo sugeriu que os governos criassem um fundo a partir de impostos cobrados de pessoas ricas para financiar a distribuição gratuita de medicamentos para os que não podem pagar por isso.
— Existem muitas pessoas ricas no Brasil que não pagam nada por estes medicamentos. Por que um primo meu que é pobre deve pagar US$ 6,5 mil pelos medicamentos do Abbott e um milionário brasileiro não paga nada?
Gallo garantiu que não recebe royalties do Abbott, nem financiamento para estudos.