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POSSÃVEL DESABASTECIMENTO DE REMÃDIOS

14/07/2005 - Agência Aids

Ativistas preocupam-se com adesão

Em notícia publicada na última quarta-feira, 13, a Folha de S.Paulo alertou que, cinco meses após a falta do medicamento AZT, em alguns estados, a rede pública corre agora o risco de desabastecimento de três outros remédios usados no tratamento da Aids. São eles a estavudina, o DDI e a nevirapina. Há em estoque quantidade suficiente para apenas duas semanas e podem faltar remédios, caso não haja reposição.
Os motivos apontados para o risco de desabastecimento de remédios para Aids são a demora no trâmite de compra, a falta de aprovação de uma verba suplementar de R$ 400 milhões e o atraso no cronograma de entrega por laboratórios oficiais.
O problema foi levado na terça-feira, 12, ao ministro da Saúde, Saraiva Felipe, que pretende reunir a equipe para discutir saída emergencial. Felipe afirmou que conversará pessoalmente com os parlamentares para tentar agilizar a liberação de recursos, caso isso seja necessário.
Na semana passada, centros estaduais de distribuição de medicamentos para pacientes com Aids receberam também um comunicado para que troquem o ritonavir, em falta nos estoques, por lopinavir.
Questionada sobre as conseqüências da troca de remédios para os portadores do HIV, a Dra. Mylva Fonsi, médica infectologista do CRT-DST/Aids-SP, afirmou que o ritonavir e o lopinavir são drogas potentes contra o HIV. O lopinavir é, em geral, melhor tolerado, apesar de também apresentar efeitos colaterais. A médica ressalta que é necessário atentar ao perfil de resistência de ambas as drogas. O lopinavir é uma opção para início de terapia, bem como terapia de resgate, podendo, a depender do caso, ser utilizado em pacientes que desenvolveram resistência a outros anti-retrovirais, dentre eles o ritonavir. Já o ritonavir habitualmente não é utilizado para resgate de pacientes previamente tratados com lopinavir, exceto como adjuvante farmacológico de outros inibidores da protease.
A médica infectologista do Instituto Emílio Ribas Dra. Marinella Della Negra explicou que o ritonavir é usado de duas maneiras. A primeira, como inibidor de protease ou droga principal, e a segunda, como um ”potencializador” (buster) de outros inibidores de protease. Della Negra afirmou que os casos dos pacientes que utilizam o ritonavir da primeira maneira terão que ser avaliados separadamente para saber qual medicamento deverão usar no lugar do ritonavir. Já os pacientes que usam o ritonavir como buster, terão apenas que aumentar a dosagem das outras drogas do coquetel que tomam.
O membro do Comitê Nacional de Vacinas e do Grupo de Incentivo à Vida Jorge Beloqui disse que acha interessante o fato dos remédios que podem faltar serem produzidos no Brasil e não serem dos mais caros. “A gente ainda fica estupefato com essas coisas. Parece que tinham que mudar o ministro para o problema vir à tona. O Programa Nacional deveria ter se manifestado antes,” acrescentou.
“Não adianta o Programa Nacional ter transparência, ele deve ter planejamento estratégico”, afirmou o suplente estadual da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+), Lucas Soler. Para o ativista que está sempre acompanhando o controle logístico do CRT-SP, esse possível desabastecimento é conseqüência da “desorganização” e “desarticulação” do PN. “Nós, soropositivos, ficamos com o pé atrás, pois o governo não está conseguindo nem comprar os medicamentos necessários quanto mais quebrar uma patente”, disse indignado.
Soler destacou que é importantíssimo que os ativistas fiscalizem a distribuição dos medicamentos. “Seria ótimo se tivesse algum ativista em Brasília para acompanhar a logística”, afirmou. O ativista mostrou-se preocupado com a possível falta dos medicamentos, pois segundo ele, isso atrapalha na adesão ao anti-retroviral e traz prejuízos “incalculáveis” à saúde das pessoas que vivem com HIV/Aids como, por exemplo, a falha no tratamento e resistência do vírus.
Esta preocupação é compartilhada pelo presidente do Fórum de ONG/Aids do estado de Minas Gerais José Henrique Silva. Ele afirmou que tem feito pressão junto à Coordenação Estadual de DST/Aids e ao departamento logístico do Ministério da Saúde desde que o problema de desabastecimento começou e que a reposição do estoque de medicamentos tem sido feita. “Agora, quando o próprio ministro declara que teme a falta de remédios, isto é preocupante. A adesão ao tratamento já é uma coisa complicada para muitas pessoas. Se elas vão aos centros de distribuição e não encontram os remédios, podem desanimar e parar de tomar os medicamentos”, disse o ativista.
A assessoria de imprensa do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo informou a situação dos medicamentos citados pelo ministro Saraiva Felipe no Estado. Há estoque da nevirapina para distribuição até o dia 18 de julho; da estavudina até o dia 21 de julho; do DDI até o dia 30 de julho; e da lamivudina até o dia 30 de agosto. O Programa aguarda uma posição do Ministério para reposição do estoque.
A Agência de Notícias da Aids entrou em contato com o Programa Nacional de DST/Aids e aguarda o pronunciamento do programa a respeito do possível desabastecimento.