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JOGO DUPLO

27/06/2005 - The New York Times

Ambiguidade do governo Bush no combate a AIDS

Na luta contra a Aids, o governo Bush faz o papel tanto de salvador quanto de canalha. Washington é o maior e único financiador de programas de Aids nos países pobres. Mas o governo usa a sua força para extinguir programas necessários e bem sucedidos que considera politicamente censuráveis e para realizar cruzadas ideológicas ineficazes.
Em primeiro lugar, as boas notícias. Os subsídios de Washington para o tratamento de Aids não chegam onde poderiam chegar porque os programas norte-americanos têm comprado somente medicamentos de marca caros, uma propina para o lobby farmacêutico. Funcionários do governo disseram que sem a aprovação da Food and Drug Administration (F.D.A.), eles não podem assegurar que os genéricos são seguros e eficazes, mesmo depois da Organização Mundial de Saúde ter endossado muitos deles e de terem sido usados por programas de Aids do mundo inteiro com excelentes resultados. Não é uma questão científica: os genéricos não podem ser utilizados nos Estados Unidos porque eles violariam patentes, conseqüentemente a F.D.A. nunca os analisa.
Até agora. Na semana passada, a F.D.A. aprovou para utilização fora dos EUA duas versões genéricas fabricadas na Índia da nevirapina, um componente padrão do coquetel triplo, e uma versão genérica do efevirenz, outro anti-retroviral amplamente utilizado. Isto leva o número de genéricos aprovados para sete. Enquanto nenhum deles ainda é usado nos programas do governo para os países estrangeiros, as aprovações permitirão eventualmente que sejam salvas quatro vezes mais vidas pela mesma quantia de dinheiro.
Também na semana passada, entretanto, o governo estava em uma cruzada moral que poderia resultar em um significativo aumento de casos de Aids na Rússia, China, em algum lugar da China e no anteriormente chamado bloco oriental. Nestes lugares, os usuários de drogas injetáveis são o grupo mais vulnerável à infecção pela Aids e a são a porta de entrada por onde a epidemia se proliferará entre a população em geral. Um terço das novas infecções pelo HIV fora da África subsaariana acontecem entre usuários de drogas; na Rússia, o UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids) estima que os usuários de drogas representem 80% de todos os infectados. Programas de troca de seringas podem ajudar a controlar esta parte da epidemia.
Mas em um encontro do UNAIDS este mês para definir planos de ação, um funcionário do governo Bush pediu que todas as referências à troca de seringas fossem retiradas do documento de políticas que regem o grupo.
O UNAIDS não tem o controle de grandes quantias de dinheiro, mas estabelece a política mundial de como combater a Aids e geralmente atua por consenso para que suas recomendações tenham mais força. Embora a América esteja virtualmente sozinha na sua oposição à troca de seringas, a sua força como o maior doador do UNAIDS significa que ela pode ganhar um voto esta semana na junta de coordenação do programa do grupo. Se o UNAIDS não puder mais trabalhar com a troca de seringas, os países perderiam uma fonte valiosa de auxílio técnico. E a falta de consenso impediria os países de começarem programas de trocas de seringas.
A lei norte-americana proíbe o dinheiro dos Estados Unidos de subsidiar programas de troca de seringas. Cabe a Washington decidir que quer que todos os outros parem de fazer isso que é um passo assustadoramente perigoso.