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Justiça veta exibição de documentário

24/06/2003 - O Estado de S. Paulo

Liminar impede a TV Cultura de exibir "Sete Faces de uma Guerra".

Liminar da Justiça impede a TV Cultura de exibir o documentário Sete Faces de uma Guerra - o Brasil Contra a Aids, do jornalista Paulo Markun, programado para ir ao ar no último sábado


São Paulo - Programado para ir ao ar no último sábado, às 21 horas, pela TV Cultura, o documentário Sete Faces de Uma Guerra - O Brasil Contra a Aids, do jornalista Paulo Markun, foi alvo de uma liminar da Justiça Federal e não pôde ser exibido. Segundo a decisão, expedida na sexta-feira pela juíza Carla Rister, "o teor dos depoimentos constantes do documentário (...) causou repulsa às organizações não governamentais e aos militantes dos Grupos de Apoio e à Prevenção da Aids".

O texto da liminar faz menção a uma sessão do filme no Sesc Vila Mariana em que portadores do vírus HIV que deram depoimentos ao jornalista se sentiram surpresos e revoltados com a "deturpação" de suas falas. A juíza diz também que o filme viola a intimidade e privacidade dos portadores do HIV que foram entrevistados por Paulo Markun.

O documentário foi tema da coluna da crítica do suplemento de TV Telejornal do Estado, Leila Reis, elogiando o programa: TV Cultura merece seguir sua vocação. O jornalista e âncora do programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura, diretor do documentário, disse à reportagem que, mesmo respeitando a opinião dos autores da ação - os Grupos de Apoio, o Fórum de ONGs de SP, entre outros - não concorda e vai tentar reverter a decisão. "O documentário foi feito com todo o cuidado necessário para tratar um tema delicado como esse", disse. Sobre a exibição do filme no Sesc Vila Mariana, Markun afirma que 400 pessoas estavam na platéia e Sete Faces de Uma Guerra "foi aplaudido de pé".

Contudo, um grupo de quatro pessoas teria ido dizer ao jornalista, ao fim da exibição, que se sentiram ofendidos com a exibição de uma foto de 1988 mostrando um soropositivo em estado terminal. Estas pessoas teriam-no acusado de associar a Aids exclusivamente à morte. "Respeito o direito de privacidade, mas não podemos ser patrulhados por pessoas que se sentem donas de um tema", diz Markun. O jornalista diz ter autorizações por escrito de todos os entrevistados para o uso de seus depoimentos. Como uma liminar é uma decisão provisória, a TV Cultura pode exibir o documentário no futuro caso consiga reverter a decisão.