Notícias

AIDS CRESCE NO MUNDO DIZ KOFI ANNAN

03/06/2005 -

Meta de contenção da epidemia está ameaçada

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmou numa conferência de cúpula realizada ontem na sede da entidade, em Nova York, que a epidemia de Aids está aumentando em todos os continentes. Annan pediu mais dinheiro e mais empenho das lideranças mundiais para que essa tendência seja revertida até 2015.
Num discurso de abertura para representantes de 127 países, o secretário-geral relatou que a escala da resposta global ao flagelo da Aids tem sido significativa, mas insuficiente, pois "não tem acompanhado a escala da epidemia".
"No ano passado, ocorreram mais infecções e mais mortes relacionadas à Aids do que jamais houve", disse. "De fato, o HIV e a Aids se espalharam a taxas aceleradas em todos os continentes."
Depois que Annan falou, o diretor-executivo da Unaids (programa da ONU para a doença), Peter Piot, reconheceu que não é mais realista a meta de reverter a pandemia da Aids até 2015. Piot disse que, embora alguns países tenham controlado a doença, em regiões como o Leste Europeu, a África e a América Central os esforços são incapazes de conter sua disseminação. "Estamos lidando com múltiplas epidemias que ainda estão se espalhando", disse.
As afirmações representaram uma rara ocasião em que um alto funcionário da ONU admitiu que ao menos uma das Metas do Milênio provavelmente não será alcançada. Líderes mundiais freqüentemente admitem que outras das metas para o desenvolvimento e de combate à pobreza estão cada vez mais distantes.
No seu discurso, Annan afirmou também que os esforços para o tratamento e a prevenção da Aids são insuficientes.
"Só 12% das pessoas que precisam de terapia anti-retroviral em países de baixo e médio nível de renda a estão recebendo. E, enquanto mais da metade dos novos infectados são jovens -principalmente mulheres-, a maioria dos jovens no mundo todo ainda tem carência de acesso a serviços significativos de prevenção orientados a eles", afirmou. "Agora está claro que a epidemia continua superando nossos esforços de contenção", arrematou.
Annan disse ainda que é possível, como têm demonstrado o Brasil, Camboja e Tailândia com seus programas de prevenção bem-sucedidos, quebrar o ciclo de novas infecções pelo HIV e a disseminação da Aids. Segundo ele, há sinais promissores nessa direção vindo de Bahamas, Camarões, Quênia e Zâmbia.
Mas, disse Annan, para alcançar a meta de reverter a epidemia de Aids até 2015, é preciso mais recursos dos doadores tradicionais, da incitava privada e dos próprios países mais afetados. Mais planejamento e mais e melhores lideranças também são necessários em todos os níveis, assim como "um real investimento no poder de decisão das mulheres e das meninas".
Segundo Kofi Annan, brecar a epidemia de Aids é pré-requisito para atingir as outras Metas do Milênio -incluindo a redução à metade do número de pessoas vivendo na miséria e a garantia de que todas as crianças tenham acesso à educação elementar até 2015. "É por isso que a luta contra a Aids é o grande desafio da nossa era e da nossa geração", afirmou o secretário-geral.
Segundo Peter Piot, para que a meta fique mais factível, os US$ 8 bilhões a serem empregados no combate à Aids neste ano têm de crescer para um gasto anual de US$ 14 bilhões a US$ 16 bilhões.