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ONU ALERTA SOBRE O IMPACTO

07/04/2004 - Agência EFE

Da aids na economia e na população


A Comissão para a População e o Desenvolvimento da ONU alertou nesta quinta-feira, 8, sobre o impacto devastador da epidemia de Aids na população e no crescimento econômico e social dos países. É a primeira vez que a Comissão, que realiza seu 38º período de sessões, inclui a epidemia de Aids em sua agenda, apesar das agências da ONU e outros organismos internacionais terem gradualmente incorporado o assunto em suas estratégias.
Atualmente, pelo menos 40 milhões de pessoas no mundo vivem com o vírus HIV, a maioria em países subdesenvolvidos, segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/AIDS, Unaids. Calcula-se que, se a doença não existisse, a população em 50 países seria superior à atual em 50 milhões de pessoas; em 2015 esse número chegaria a 129 milhões.
No âmbito regional, destaca-se que nos 38 países africanos mais atingidos o crescimento da população previsto entre 2005 e 2015 será de 2%, uma porcentagem menor que os 2,5% calculados se não houvesse a doença. O brasileiro Paulo Roberto Teixeira, ex-diretor do Programa Nacional de DST/AIDS e consultor sênior do Programa Estadual de DST/AIDS de São Paulo, participou dos debates e denunciou que os fundos para combater a epidemia são insuficientes e pediu que os países ricos adotem um novo plano Marshall. "São ricos porque levaram a maioria das riquezas do mundo. A responsabilidade de mudar o curso da história é deles", disse.
O Brasil, junto com outros países como Uganda, Senegal, Cuba, Uruguai e Costa Rica, adotou políticas nacionais que permitiram reverter a propagação da Aids. Teixeira defendeu a adoção de um plano integral para combater a epidemia, baseado no tratamento, prevenção e direito das pessoas afetadas. O brasileiro disse que recomendações como a abstinência e a fidelidade dos casais não têm um impacto que permita prevenir a infecção e conter a epidemia. "Não podemos ligar temas éticos e morais das sociedades com problemas de saúde. Não podemos permitir que estas questões religiosas, éticas e culturais se tornem uma barreira para a prevenção", disse.
Teixeira afirmou que a atividade sexual é "algo inerente ao comportamento humano", por isso informações claras e o uso de preservativos "são a forma mais realista de promover a prevenção". Sobre o tratamento, o médico sugeriu a oferta de subsídios e acordos entre governos e empresas farmacêuticas para alcançar a meta fixada pela Organização Mundial da Saúde, de que 3 milhões de pessoas no mundo possam ter acesso a tratamentos anti-retrovirais até o final deste ano. Por outro lado, Teixeira disse que não será possível controlar a epidemia de aids se existirem grupos marginalizados - como homossexuais, prostitutas e drogados - que não têm acesso aos tratamentos.
A diretora da Divisão para a População da ONU, Hania Zlotnik, se mostrou satisfeita pela Comissão ter incluído o controle da Aids como uma prioridade em sua agenda, e destacou a necessidade de adotar um enfoque "multifacetado" para combater a epidemia. Zlotnik disse que o impacto devastador da aids afeta a população e também a produtividade econômica, pois a maioria dos infectados é de pessoas em idade ativa, além dos custos representados para o sistema de saúde dos países. "Sabemos que os custos para a prevenção e o tratamento da aids são altos, mas o investimento inicial traz grandes benefícios", disse.
A diretora da ONU insistiu na necessidade de garantir serviços de saúde reprodutiva às mulheres - que são mais vulneráveis ao contágio - para prevenir e diagnosticar a doença. A Comissão para a População e o Desenvolvimento terminará seu atual período de sessões nesta sexta-feira, 8, quando espera adotar uma resolução pedindo que os governos promovam políticas mais profundas para erradicar a epidemia da Aids.