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POLÍTICA NACIONAL DE MEDICAMENTOS
28/03/2005 - Agência Aids
O Brasil precisa de uma, afirmam P Teixeira e A Grangeiro
O Seminário Patentes de Medicamentos para HIV/AIDS, organizado pelo Programa Estadual de DST/AIDS, reuniu cerca de 130 participantes, no hotel San Raphael, na capital paulista. Durante o evento o Dr. Paulo Roberto Teixeira, consultor sênior do Programa Estadual de DST/AIDS e Alexandre Grangeiro, do Instituto de Saúde de São Paulo, abordaram o tema sob diferentes perspectivas. Enquanto o primeiro fez um histórico sobre a criação e implantação da Política Nacional de Medicamentos, o segundo falou sobre a licença compulsória de medicamentos anti-retrovirais.
Panerai Replica De acordo com Teixeira, o Brasil criou a Política Nacional de Medicamentos em 1998 com o objetivo de garantir a população o acesso a medicamentos eficazes, seguros, de qualidade a um preço justo. Junto a essa política foram formulados instrumentos de regulação, tais como a criação da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela qualidade e segurança dos produtos, e instrumentos de compra que garantam o menor preço, tais como ata, pregão, banco de preços entre outros. A política também tem por objetivo estimular a produção nacional de medicamentos.
Os medicamentos para Aids devem ser pensados dentro dessa política, afirma o consultor sênior do Programa Estadual de DST/AIDS. No mesmo ano da criação dessa política, o Brasil passou a investir na produção nacional de anti-retrovirais não patenteados, uma vez que em 1996 o país aderiu ao tratado de Propriedade Intelectual. Estudos mostravam que a produção de ARV genéricos era um mecanismo de sustentabilidade do acesso universal dos medicamentos, afirma Teixeira.
Entre 2000 e 2003, houve um grande investimento no desenvolvimento da capacidade técnica nacional para a produção de medicamentos patenteados, capitaneado por Far-manguinhos, laboratório estatal. A partir daí, as negociações com os laboratórios detentores das patentes se deu por meio de uma possível licença compulsória, uma vez que sabíamos como produzir, assim como conhecíamos o custo dos medicamentos, afirma Teixeira.
A quebra de patentes é um instrumento e não uma política brasileira para os medicamentos. A política do Brasil para o tema é a de garantir a população o acesso a medicamentos eficazes, seguros e de qualidade a um preço justo, lembra Teixeira.
Para o consultor sênior do Programa Estadual de DST/AIDs o problema de desabastecimento de alguns anti-retrovirais que aconteceu na região sudeste, foi ocasionado pela falta de capacidade de gestão dos responsáveis pela pasta da saúde.
Grangeiro destacou a importância da produção nacional de genéricos, tanto para Aids como para outras patologias. O desenvolvimento tecnológico gera a autonomia dos países do sul para suas respostas aos problemas de saúde pública, afirmou.
A aprovação da Lei de Patentes brasileira gerou um forte impacto na produção de genéricos, segundo Grangeiro. Ela ocasionou a ociosidade da capacidade produtiva em cerca de 70% a 80%, restringiu a produção de novos medicamentos, diminuiu os investimentos no setor, aumentou o valor da produção e conseqüentemente gerou a perda da competitividade.
As perspectivas para o setor são, de acordo com Grangeiro, duas: exportar os anti-retrovirais ou interromper a produção. Ambas descaracterizam a missão dos laboratórios estatais que é dar respostas aos problemas de saúde pública.
Grangeiro chamou a atenção da platéia para a questão da licença compulsória, que permite a produção de medicamentos protegidos por patentes em situações excepcionais e por um tempo determinado. Na sua opinião esse mecanismo não promove o desenvolvimento tecnológico dos países em desenvolvimento. Ela apenas inibe abusos e distorções de preços. Para ele, a política de saúde pública precisa de uma agenda mais ampla, baseada em uma política de desenvolvimento tecnológico nacional.
Porém, ele acredita que hoje, devido aos problemas de falta de anti-retrovirais e aumento dos portadores do HIV/AIDS em tratamento, seja necessário o uso da licença compulsória no país. O Brasil vive uma situação de emergência nacional, devido ao aumento do consumo dos ARV protegidos por patentes que tem consumido cada vez o orçamento da saúde.
O uso da licença compulsória para o Brasil tem conseqüências positivas e negativas, segundo Grangeiro. Caso o país resolva usar esse instrumento, ele sofrerá pressões diplomáticas e comerciais, principalmente por parte dos países detentores das patentes e poderá sofrer um processo na Organização Mundial do Comércio. Ao mesmo tempo em que vai garantir o acesso universal para os portadores do HIV/AIDS, a redução do preço do medicamento internacionalmente e contará com o respaldo internacional de organizações não governamentais e agências internacionais.
Os dois palestrantes insistiram na importância da criação de uma política nacional de desenvolvimento para a área que tenha um cronograma de trabalho. Dessa forma as medidas como licença compulsória ou quebra de patente poderão ser realizadas de forma efetiva. O problema do Brasil não é falta de capacidade técnica para a produção, pois isso nós temos, o problema das patentes de anti-retrovirais é a falta de gestão, afirma Grangeiro.
Segundo Paulo Roberto Teixeira é importante conhecer a legislação nacional e internacional sobre patentes para acompanhar as estratégias nacionais para o assunto. Dessa forma será possível fiscalizar e cobrar ações do governo. A Coordenação Estadual de DST/AIDS de São Paulo pretende continuar a discussão sobre o assunto em eventos futuros.
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