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HIV RARO E RESISTENTE
21/03/2004 - Agência Aids
Biomédico acredita que trata-se de um caso isolado
A agência Reuters e o jornal Folha de São Paulo destacaram esta semana um estudo sobre um novo tipo de HIV, com agressividade fora do comum, que infectou um homem nova-iorquino. O doente, um homossexual com mais de 40 anos, havia feito sexo sem proteção com um número indeterminado (e alto) de homens e era viciado em metanfetamina cristal, uma droga que pode ser fumada ou injetada. A princípio, estudiosos declaram que era preciso cautela antes de afirmar que existia um supervírus. O homem infectado poderia estar com a imunidade enfraquecida devido ao uso crônico de drogas e ao elevado número de parceiros sexuais, o que o teria deixado mais vulnerável à infecção.
Cientistas e grupos de defesa dos homossexuais criticaram o governo de Nova York por alarmar a população antes que se soubesse exatamente o que era o inimigo, e até por insinuar que a Aids estava voltando a ser uma doença "gay" e, assim, incentivar o preconceito.
Agora, a publicação de um estudo sobre esta variedade na revista científica The Lancet parecem confirmar esta agressividade. Todos esses dados preocupantes vieram de uma análise genética do vírus, capitaneada por David Ho, do Centro Aaron Diamond de Pesquisa do Câncer, em Nova York. O que assustou os médicos foi a progressão rápida da doença (o homem desenvolveu a doença em algum período entre quatro e 20 meses, enquanto o HIV pode ficar incubado por anos ou décadas) e a sua resistência: três dos quatro tipos de medicamento usados hoje contra o vírus da Aids nem arranharam suas defesas.
Brasil
Apesar da confirmação deste potente HIV, o biomédico da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Cristiano Teodoro acredita que ainda é cedo para fazer um alarde a respeito de uma possível epidemia desta variedade de vírus da Aids. "Até agora, somente um caso em mais de 40 milhões em todo o mundo, foi registrado", disse. Todavia, Teodoro afirma que esta cepa "mais resistente e circulante" do HIV requer mais estudos.
Para o integrante do Grupo Pela Vidda - ONG marcada pelo trabalho de prevenção entre os homens homossexuais - Mário Scheffer, este vírus aumenta a necessidade de investir na prevenção. "Como ainda nenhum caso deste foi diagnosticado no Brasil, solicitamos medidas mais eficazes para evitar a proliferação deste supere vírus".
O presidente do Grupo de Apoio e Prevenção à Aids (GAPA) de São Paulo e membro do comitê de vacinas do Fórum de ONG/AIDS do Estado, José Carlos Veloso, disse que este tipo de vírus era previsível. "Já era muito comentado que um HIV mais resistente surgiria em pouco tempo", afirma. Segundo o ativista, esta descoberta ressalta a importância da prevenção integral, pois estes vírus mais resistentes podem atingir muitas outras pessoas. "Temos que apostar em uma vacina, seja ela preventiva ou terapêutica", acrescenta.