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MEDO DA AIDS EXPLODE NO JAPÃO

03/03/2005 - Agência Aids

Os novos índices são causa de alarme.

Os novos índices para a epidemia da Aids no Japão são causa de alarme. Especialistas indicam que o número real de vítimas deve ser maior, uma vez que muitos japoneses portadores do HIV podem ainda não ter se submetido ao teste. O ministro da Saúde divulgou na última semana que o número de pessoas infectadas com o vírus da Aids foi maior do que mil pela primeira vez no ano passado, com um total de 1.114 novas infecções. Em 2003, este número chegou a 640.
“Os novos índices podem ser atribuídos à falta de apoio do governo aos programas de prevenção”, disse o Dr. Tsuneo Akaeda, que trabalha com projetos de Aids junto à juventude japonesa. “Existe uma crença que os japoneses não correm o mesmo risco que as pessoas de outros países. Esta é uma maneira de pensar realmente perigosa”, afirmou Akaeda. Organizações populares relatam que tem sido uma luta difícil convencer os burocratas a lançarem um programa nacional de prevenção à Aids ativo, devido à sua atitude complacente mediante os baixos índices de infecção no Japão.
Oficialmente o país tem um total de 6.528 pessoas vivendo com o HIV, dos quais 3.258 desenvolveram a doença. Mas as estimativas publicadas pelo Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/Aids (UNAIDS) indicam que cerca de 12 mil pessoas se infectaram até o fim de 2003, embora este número possa chegar a 19 mil. Mesmo assim, os números do ministério em relação a 2004 chocaram o governo.
Os índices recentes são alarmantes e exigem uma mudança imediata na atitude complacente do Japão", ressaltou Yoshiaki Sakurai, conselheiro médico da Fundação Japonesa para a Prevenção da Aids, órgão oficial do governo voltado para a doença. Ele reconhece que o aumento da proliferação da doença entre indivíduos de 20 a 39 anos corresponde ao número de pessoas mais velhas, com mais de 40 e 50 anos, que desenvolveram a Aids. “Este é um sinal de que uma situação grave está se formando no país”, avisou Sakurai. “A doença normalmente se manifesta após um período de 10 anos de incubação. Os últimos números mostram este ciclo claramente”, acrescentou.
Segundo Sakurai, 80% das transmissões foram por via sexual. Existe agora o temor que o Japão possa estar enfrentando uma segunda onda de Aids, com muitos jovens sem conhecimento de que possam estar expostos ao HIV por meio das relações sexuais e muitos outros temerosos de se submeter ao teste para a detecção do vírus.
Dr. Akaeda responsabiliza o governo por não fornecer um serviço de aconselhamento voluntário e centros de teste para os jovens e para os trabalhadores. “Muitos temem perder o emprego ou serem banidos pelas famílias se sua sorologia positiva for revelada”, disse Dr. Akaeda. Segundo os ativistas, um outro problema é o padrão insatisfatório de educação sexual nas escolas japonesas. “Muitos pais conservadores e professores mais velhos argumentam que exibir preservativos e outros contraceptivos em sala de aula podem promover uma atividade sexual precoce”, declarou Hideko Fujimori, diretor do Act Against Aids, uma pequena organização que trabalha com prevenção entre os jovens. Mas estudos demonstram que a atividade sexual está em voga mesmo nas escolas de segundo grau, ele disse. Entre os estudantes do terceiro ano, 30% relataram já ter feito sexo pelo menos uma vez. Há duas décadas atrás, a primeira experiência sexual acontecia mais freqüentemente aos 20 anos.
Ao mesmo tempo, o Japão está sofrendo pressão dos ativistas para aumentar as verbas destinado ao Fundo Global contra a Aids, sob o patrocínio das Nações Unidas. “Com mais japoneses trabalhando em áreas de alta incidência de Aids, tais como a China e a Índia, o Japão deve aumentar as contribuições em um contexto global e modificar sua política de focar somente dentro de suas fronteiras,” afirmou Yoshiaki Sakurai. Os ativistas também estão reivindicando um controle da indústria do sexo no país, onde mulheres jovens correm um risco muito alto de contraírem o HIV. “A situação é perigosa demais para permanecermos parados, apenas assistindo,” alertou Dr. Akaeda.