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ALIVIANDO O ESTIGMA DA AIDS
03/03/2005 - BBC/UOL Notícias
Concurso de beleza em Botsuana (África)
Botsuana realiza um concurso de beleza diferente. É um concurso em que as 12 participantes são soropositivas.
Elas são julgadas por sua coragem e espírito - qualidades tão invisíveis quanto a doença que enfraquece seus corpos. A vencedora recebe uma bolsa de estudos e um salário mensal, além de viajar por Botsuana e pela África, trabalhando em projetos para lutar contra o medo e o preconceito que cercam a Aids.
O evento acontece em um charmoso resort na periferia da capital do país, Gaborone, e centenas de entusiastas vão ao local para prestigiar as concorrentes.
As mulheres desfilaram com vestidos de noite e roupas tradicionais.
Coragem
Muitas dessas mulheres tiveram de vencer o medo para participar. As atitudes com relação à Aids estão mudando aos poucos, e algumas mulheres esconderam a doença de suas famílias por muitos anos.
Como parte do evento, os jurados perguntam às participantes o que elas podem fazer para ajudar a reduzir o estigma da Aids.
"Olhe para mim. Eu sou atraente. Eu sou soropositiva. Qual é o problema?", perguntou Anna Ratotsisi ao público presente.
Anna foi bastante aplaudida, mas o público se entusiasmou mesmo com Cynthia Leshomo, que tem 32 anos e é soropositiva há cinco anos.
"Vamos lutar contra o estigma associado à Aids, mas não contra as pessoas que possuem a doença."
Cynthia foi a vencedora do concurso e ganhou o título de 2005.
A vencedora admite que a tarefa vai ser demorada e difícil.
Preconceito
Botsuana tem uma das taxas de infecção de Aids mais altas do mundo e foi o primeiro país da África a distribuir drogas anti-retrovirais gratuitamente.
Cynthia é uma das cerca de 35 mil pessoas que recebem o medicamento do governo.
Mas isso não ajuda a eliminar o preconceito em relação à doença.
Segundo Cynthia, a principal preocupação são os homens. "Eles não participam dessa luta contra a Aids", diz ela.
"Se você conta ao seu namorado que é soropositiva, ele te larga e procura outra namorada. Então não acho que conseguiremos vencer essa guerra a não ser que todos mudem de atitude."
A mãe de Cynthia, que chorou quando soube da doença de sua filha, concorda.
"Botsuana pode acabar com esse estigma se as pessoas em altas posições no governo se pronunciarem publicamente e admitirem que têm a doença", diz Lucy.
"Acredita-se que essa é uma doença que atinge apenas pessoas de classe baixa. Mas há pessoas que tiveram educação, que sofrem com a doença, mas não admitem."