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FALTA DE MEDICAMENTOS ANTI-AIDS
19/02/2005 - Folha de São Paulo
Governo alega escassez de matéria prima
Pacientes que utilizam o coquetel anti-Aids enfrentam falta do medicamento AZT (Zidovudina) na rede pública devido ao atraso na entrega do produto pelos fabricantes brasileiros. Desde janeiro, o repasse aos centros de atendimento nos municípios tem sido irregular. A maioria dos afetados pelo problema vive em São Paulo -Estado que concentra 65 mil dos 150 mil pacientes em tratamento com o coquetel anti-retroviral no país.
Segundo o Ministério da Saúde, o fabricante indiano da matéria-prima usada pelos quatro laboratórios brasileiros que produzem o AZT atrasou em dois meses o envio do material, provocando a falta do remédio.
Para tentar suprir a demanda nos Estados, o Ministério da Saúde informou que enviará 480 mil cápsulas do remédio às coordenadorias estaduais de DST-Aids.
Não há um número fechado de pessoas que ficaram sem receber o AZT. O remédio é usado por 19 mil pacientes no país, e nem todos estão sem o medicamento.
São Paulo
Segundo a coordenadoria do programa estadual de DST-Aids de São Paulo, além do AZT, o Estado está com baixo estoque de outros três remédios usados no coquetel: Atazanavir e Indinavir, que acabam na próxima semana, e Biovir, que terminaria ontem.
A coordenadoria disse ainda que tem alertado o ministério, desde novembro de 2004, sobre a falta de medicamentos.
O ministério informou que, em relação ao Atazanavir e ao Indinavir, serão providenciados repasses antes que acabe o estoque.
Menina de 7 anos fica sem remédio
Com lágrimas nos olhos, a auxiliar de enfermagem Rosimar Célia Santos Cavalcanti, 38, relata o drama de ficar quatro meses sem conseguir remédios para o tratamento de Aids destinados a sua filha adotiva Bruna, 7.
"Tem dias que ela pede: "Mamãe, por favor, cadê o meu remédio?" E eu não tenho o medicamento para dar a ela", conta Cavalcanti, que mora em Andradina (640 km de São Paulo) e há oito dias conseguiu os medicamentos.
"Quantos dias passei ao lado da cama da minha filha sem dormir porque ela estava sem medicamentos. É justo?" questiona.
Segundo Cavalcanti, Bruna está debilitada porque os remédios que ela estava tomando não estavam fazendo efeito.
Cavalcanti participou ontem de um protesto organizado pelo Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo, que reuniu cerca de 30 pessoas em frente à Folha para pedir que a mídia divulgasse a falta de medicamentos para o tratamento da Aids.
Representantes do Fórum disseram que vão entrar na Justiça Federal com uma ação coletiva para cobrar e responsabilizar o governo federal pela falta dos medicamentos. (CI)