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Receita para vencer a Aids

17/06/2003 - JORNAL DE BRASÍLIA

apoio, carinho, respeito, companheirismo, ausência de preconceito

Quando se fala em Aids logo se pensa em medos e angústias. Mas os portadores do vírus HIV que moram na Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale), no Recanto das Emas, são cheios de vida. A receita: apoio, carinho, respeito, companheirismo e, principalmente, ausência de preconceito. Os internos da Fale não encaram a doença como o fim da vida, mas como o início de uma nova etapa.

Há nove anos a Fale vem ajudando aqueles que necessitam de apoio. A casa vive de doações. De acordo com o coordenador da associação, Carlos Cornieri, 35 anos, também portador do vírus, muitas vezes eles se encontram em dificuldades. Roupas, alimentos, material de limpeza, brinquedos e outros utensílios são sempre bem vindos. Cerca de 120 pessoas, dentre elas 40 crianças, estão distribuídas nas 32 casas da instituição. Ao receberem tratamento no Hospital Universitário de Brasília (HUB) são indicadas a procurar a Fale.

É um apoio importante para superar a perda do emprego e o afastamento da família e dos amigos – fatos que atingem muitos portadores do HIV, logo após a descoberta do resultado do exame. Os soropositivos sofrem muita discriminação e são obrigados a procurar ajuda. Na Fale, encontram receptividade e organização. Os internos criam um ambiente acolhedor para que os novatos voltem a ter ali dentro tudo o que perderam fora. Mesmo com tanto companheirismo, alguns ainda vão tentar a vida lá fora. Mas acabam voltando pois as portas se fecham quando se fala da doença. "Somos discriminados, temos muita dificuldade em arrumar emprego. Mas aqui a nossa vida é diferente, o tratamento não tem discriminação, todo mundo vive com o vírus", comenta M.F., 32, interna há um ano, juntamente com seu marido. Das 40 crianças, só duas têm a doença. As outras são filhas de portadores. Todas estão na escola. Com a ajuda dos professores, não sofrem mais preconceito e têm bom rendimento. A.P., 19 anos, portadora do vírus há cinco, está grávida de dois meses e não teme que seu filho nasça contaminado. "A medicina nos permite fazer o tratamento para que meu filho possa nascer saudável. A vida não pára", diz. Todo o serviço do local é feito pelos internos. A coordenação estabelece uma escala de trabalho, com horário e dia para cada um executar a sua tarefa, feito sempre com muita alegria por pessoas que realmente aprenderam o valor da vida.