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Muitas são as histórias que constróem
o GIV. Uma delas ocorre no final de cada ano quando são colocadas
estrelinhas em nossa árvore de Natal para lembrarmos das pessoas
que faleceram.
A AIDS levou muitos de nossos amigos e nos ensinou a importância
de celebrar a vida e preservar o significado e a memória que
construímos juntos.
Meu nome é Walmir, há cerca de cinco anos atrás
eu e minha esposa contraímos o vírus HIV. Nessa época
eu estava trabalhando em uma empresa de confecções.
Minha esposa adoeceu, levei-a a uma clínica que pertencia
ao convênio da empresa, lá foi diagnosticada a meningite,
e também que ela era soropositiva. Após fazer o
teste descobri que eu também estava contaminado.
Iniciei meu tratamento na Fundação Zerbini, no
ambulatório conhecido como Casa da AIDS. Minha esposa continuou
o tratamento através da clínica conveniada pela
empresa.
Fui chamado para uma conversa por um diretor da empresa, senhor
José; ele era amigo da família e inclusive freqüentava
a casa dos meus pais. Durante a conversa o senhor José
disse-me "Walmir, eu já sei de tudo o que está
acontecendo, mas pode ficar tranqüilo que isso ficará
entre nós dois, e não contarei nem para os funcionários,
nem para os patrões". O senhor José entrara
algumas vezes em contato com a clínica onde minha esposa
fazia tratamento para saber como ela estava.
Fiquei mais aliviado, pois estava consciente que eu era um bom
funcionário, e estava em perfeita condição
para o trabalho.
Passados alguns dias, o senhor José comunicou-me que não
seria mais o meu diretor, e que eu estaria subordinado ao senhor
Célio.
Logo em seguida minha esposa faleceu, e três meses após
fui demitido. O mundo desabou sobre a minha cabeça. Estava
viúvo, com dois filhos pequenos, e agora desempregado.
Aos poucos a situação foi clareando, descobri que
alguns colegas de trabalho já sabiam da minha doença.
Procurei uma advogada para acionar a empresa por discriminação.
Conversei com colegas de trabalho que aceitaram ser minhas testemunhas
no processo.
Estou processando a empresa não pelo dinheiro, pois todo
o dinheiro do mundo não paga a humilhação
que passei diante de amigos e familiares.
Estou confiante na vitória, pois a justiça será
feita, e com certeza outros pensarão bem antes de discriminar
seus funcionários pelo fato de terem o vírus HIV
correndo em suas veias.
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Tenho 27 anos, geminiana carente, estou a procura da minha cara
metade, quem sabe posso encontrar através desse depoimento.
Achava que era a única pessoa do mundo, no começo
sei que é difícil para todo mundo receber essa notícia.
Mas graças à Deus consegui superar, acordei para a
vida.
Vale a pena viver mesmo com o preconceito, temos que mostrar
para essas pessoas que somos gente e não bicho ou lixo
atômico, e que não temos que viver isolados por causa
dessas pessoas.
Nada disso pode acontecer, temos que ser fortes e viver na esperança
da cura. No fundo ninguém aceita, mas com o tempo aprende
a conviver com o vírus.
Tenho um filho que se chama Gabriel, é soronegativo, foi
Deus que colocou essa criança para mim, que sempre será
meu anjo que caiu do céu, meu anjo Gabriel. Ele é
um dos motivos para eu estar viva.
Sou portadora assintomática, não faço uso
de medicação nenhuma. Procuro estar sempre de bem
com a vida.
O que me fez acordar para a vida foi através de um grupo
de convivência que frequento no Gapa Bahia. Consegui recuperar
a minha auto estima. Aconselho aos portadores a procurar na sua
cidade um grupo de convivência porque lá vamos encontrar
acolhimento e respeito. Porque somos gente, queremos viver e levar
uma vida normal, mesmo sabendo que poderemos encontrar espinhos.
Não podemos desistir, temos que persistir e enfrentar de
cara limpa, não podemos andar com medo da nossa própria
sombra. Não fizemos nada para a sociedade. Somos vítimas
das conseqüências do mundo....
Se alguém quiser escrever para mim, estarei ansiosa esperando
por sua carta.
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"Um dia houve uma Dulce que brigava com a vida, que brigava
consigo, que achava que a solução das coisas complicadas
estava na morte.
Um dia houve uma Dulce que teve um marido, que teve duas filhas.
Um dia houve uma Dulce que todos diziam cheia de vida, mas que não
sabia viver.
Um dia houve um HIV na vida da Dulce.
O mundo escureceu, o chão balançou, os fantasmas todos
batiam em todas as portas.
A Dulce quase morreu com medo de morrer de AIDS.
A Dulce se perdeu no escuro.
Ela já não era, ela estava, com AIDS.
Um dia a Dulce ouviu dizer que alguém disse que havia pessoas
que dominavam o escuro, no compartilhar suas amarguras.
Que era possível se ver além do HIV, apesar do HIV
e com o HIV.
Essa Dulce então foi ao GIV e se olhou naquela gente que
queria viver.
Então esta Dulce viu uma outra Dulce.
Querendo ficar com a vida porque havia muito para ser vivido.
O Grupo de Incentivo à Vida me mostrou, me provou e me fez
sentir que eu não estava sozinha.
Hoje eu posso contar uma nova história de mim.
Hoje o escuro se fez claro e eu tenho muitas janelas para olhar.
Hoje eu estou aqui e não sou sozinha".
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Começo este depoimento me apresentando, me chamo Abel, tenho
37 anos de idade e 13 anos de soropositividade, devido a uma relação
sexual desprotegida.
No final de 1988, me convidaram para doar sangue para ajudar
um parente necessitado, foi quando fiquei sabendo da realidade
que seria a minha vida daquele momento em diante.Na época
com 25 anos, reiniciando o curso de Direito, trabalhando, fazendo
planos para um futuro profissional e familiar, pois o meu sonho
seria ter um filho por volta dos trinta anos, idade que meu pai
se casou. Sempre me imaginei nessa condição, mas
naqueles anos a morte era certa e não existiam terapias
convincentes como os antiretrovirais de hoje, mas enchi-me de
forças, pensei positivamente e não negligenciei
a VIDA. Pelo contrário, procurei ajuda, seguia as recomendações
do meu médico que solicitava exames a cada três meses.
Passados sete anos meu companheiro faleceu vitimado de AIDS.
Foi um duro golpe para mim, pois havia perdido aquele que havia
despertado em mim o interesse pela VIDA. A partir daí fiquei
muito deprimido e os resultados dos meus exames ficaram péssimos,
precisando de medicação apropriada para depressão,
pois vivia excluído do mundo, evitava os amigos e me sentia
desanimado para o trabalho.Os efeitos colaterais dos remédios
são os piores vilões. A lipodistrofia me deixou
com o rosto murcho, diarréias freqüentes, refluxo
gástrico, herpes.
Procurei um grupo de ajuda mútua e encontrei o GIV, no
qual me tornei voluntário e participo de um projeto com
crianças e adolescentes. A minha família foi de
grande importância no meu tratamento, pois passei a compartilhar
com eles a minha soropositividade desde o momento que precisei
fazer uso das medicações e da morte do meu companheiro.
Ainda estou em fase de resgate clínico, mas sempre penso
positivamente e procuro terapias que me auxiliam no tratamento,
como a yoga, caminhadas, preenchimento estético da face,
muito amor da minha família e dos amigos que restaram.
Meu médico é meu melhor amigo, tenho muita confiança
nele, nós conversamos muito sobre tudo o que passa na minha
VIDA e é por causa desse diálogo franco e aberto
que tenho respostas de como avançar firme no meu tratamento.
Ser portador não me faz diferente de qualquer outra pessoa
que tem dor de barriga, pneumonia, dores nas pernas e muitas outras
coisas. Sou feliz, e me despeço com um brilho no infinito
dos teus olhos.
Meus beijos.
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Era 7 de setembro de 1995, dia da Independência do Brasil,
data essa que quase ninguém se lembra de algum motivo para
comemorar. Para mim jamais será esquecida, pois naquele dia
descobri que o meu companheiro, com quem eu tinha vivido quatro
anos e meio, e mesmo depois do fim do relacionamento continuávamos
morando juntos, estava doente e já em estado avançado.
Ele veio a falecer 38 dias depois. Foram dias de pânico, desespero...,até
que ele se foi, eu não havia parado para pensar em mim. Na
semana seguinte, mesmo com muito medo fui fazer o teste, e logo
veio o resultado "positivo". Lembro-me que quando sai
do hospital tudo era cinza, o chão desaparecia em baixo dos
meus pés, o meu mundo caia e junto com ele todos os meus
sonhos. Pensei que em breve morreria também. Com a ajuda
de um amigo fui levado a um grupo de ajuda mútua e aos poucos
fui aprendendo tudo a doença que até então
eu era completamente leigo. A partir dali tudo era novo para mim.
Médico, exames, enfim, com a ajuda dos amigos e o apoio que
encontrei dentro do grupo, fui aprendendo a lidar com a situação.
Dois anos depois, quando minha vida começava a se encaminhar,
sofri outro grande impacto com o meu afastamento do trabalho por
terem descoberto a minha sorologia. Senti na pele a dor do preconceito
e confesso que foi pior do que receber meu diagnóstico.
Até hoje não consegui retornar ao trabalho, mesmo
apresentando vários atestados que conferem a minha aptidão.
Tenho dedicado o meu tempo quase que integralmente ao grupo que
me acolheu e hoje posso ser útil ajudando a outras pessoas.
A aderência aos medicamentos tem sido fundamental para
manter-me saudável e com disposição para
não desistir.
Hoje, sinto que viver com HIV não é nada agradável,
preferia não ter, mas já que tenho, procuro viver
bem com ele e continuo achando que 'a vida é bela e vale
a pena viver'.
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Hoje tenho 33 anos, soropositivo há 13 anos. Com certeza
contraí o vírus por via sexual, devido uma vida sexual
bastante agitada. Na época da adolescência não
me preocupava muito em me proteger contra doenças usando
preservativos ou outros meios. Freqüentava saunas, boates e
outros lugares sem medo e sem preconceito. Não me preocupava
com o alarde do HIV, que rondava os homossexuais.
No ano de 1987, estava com 19 anos, e por "brincadeira",
eu e um grupo de amigos resolvemos procurar o Hospital Emílio
Ribas para juntos fazermos o exame específico para detectar
o vírus HIV. Marcamos a data para a coleta do sangue para
o exame. Somente eu fui ao hospital, como já estava lá,
fiz o exame. Por medo não fui pegar o resultado.
Em junho de 1988 resolvi buscar o resultado, que para o meu desespero
foi positivo.O resultado foi me dado por um médico "na
lata", sem nenhuma preparação. Chorei muito,
e pensamentos vieram a minha cabeça, achei que minha vida
estava acabada, além das vidas dos meus familiares e do
meu companheiro.
Como seria quando todos soubessem? Além disso, tinha medo
de perder o trabalho, os amigos e terminar só. Mesmo com
todos os temores fui levando a vida. Após 3 anos comecei
a tomar medicação, que não me ajudou muito,
pois na época estava perdendo peso, o que levou-me após
algum tempo a uma segunda medicação, que apresentou
um resultado um pouco melhor.
Em 1996 tive uma pneumocistose e fui afastado do trabalho, nessa
mesma época surgiu o coquetel, que logo começei
a tomar, com o qual tive ótimos resultados que se mantém
até agora. Hoje levo uma vida praticamente normal, minha
família me dá total apoio, tão diferente
do que imaginava. Voltei fazer planos e ter novos objetivos. Agradeço
a Deus pela vida
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Esperança, Paz, Solidariedade...
O que esperar deste Novo Ano? Que se Valorize a Vida!
Enquanto a maioria das pessoas aguardam ansiosas pela chegada
do ano 2000, simplesmente para brindar com suas taças brilhantes,
sonhar com um país mais próspero. Deixando para
o ano velho toda a miséria, injustiça, preconceito
e muita angústia. Estamos vivendo hoje incertezas e muitas
dúvidas, pois não sabemos como será o nosso
verdadeiro amanhã.
Temos que lutar e acreditar que todo dia é um novo dia,
a cada nascer do sol uma nova esperança renasce em nossos
corações nos tornando mais solidários as
causas alheias.
Ganhamos muitas batalhas contra o nosso HIV. Porém a guerra
ainda continua, devemos estar sempre alerta, pois temos direitos
e deveres, não basta apenas esperar que outros façam
tudo por nós. Levantamos uma bandeira para sermos respeitados,
acreditamos no fim do preconceito, mas ao cruzarmos os braços
nada será nos entregue de boa fé.
Em meu corpo foi plantado uma semente que a cada dia cresce pulsando
até o momento de nascer, depende da minha responsabilidade
que esta nova vida venha ao mundo iluminado, saudável,
respeitado e não rejeitado.
Porém depende de todos nós que os medicamentos,
os exames e o atendimento aos soropositivos melhorem 100% neste
tão esperado ano 2000. Não temos a ilusão
de que a cura para o HIV venha acompanhada com o Novo Milênio.
Existem muitos estudos e os especialistas conseguiram muitos
progressos em relação aos remédios Isto nos
fortalece e nos enche de esperanças com relação
à saúde de nosso filho, a seriedade e dedicação
dos médicos nos transmitem segurança.
Temos muita luta nesta nossa caminhada. Esperamos que ao brindarmos
a chegada do ano 2000, nasça em nossos corações
a certeza de que da união e força de todos será
mais fácil acreditar na cura breve deste mal do século.
Que Deus abençoe a todos nós, e que possamos ter
a visão correta deste novo milênio.
P.S.: No dia 10 de Março de 2000 nasceu Matheus, filho
de Márcia e Luiz, ambos soropositivos.
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Descrevo a seguir em forma de romance, tragédia ou humor
o meu primeiro contato e convívio a seguir com o HIV. Como
acontece em certos casos, o excesso de irresponsabilidade é
que permite a contaminação de parte dos portadores.
Cada um a seu nível, mas de maneira irresponsável.
No meu caso, um profissional liberal de classe média,
com acesso a todos os meios de comunicação e informação,
sabedor da existência e risco da doença, portanto
classificado no grupo de irresponsáveis esclarecidos.
Este é apenas um preâmbulo, para introduzir uma
relação afetiva que desenvolvi com a doença.
A partir da descoberta da doença, passei pela fase do descontrole
emocional que atinge qualquer ser humano em uma situação
como esta, apresentando características e efeitos variáveis
para cada pessoa.
Eu sou dotado de um senso de equilíbrio muito forte, que
limitou em um espaço de tempo muito pequeno para a síndrome
inicial da doença. Com isso assumi a consciência
de que a minha vida tomava um novo destino, e resolvi saber qual
era esse destino. Tracei planos dentro da lógica jurídica
se cometestes um crime, serás julgado, condenado
e pagarás por este crime.
Cometi um crime e como único culpado somente eu devo pagar
por ele. Resolvi não dividir com ninguém a luta
que começaria a partir de agora com a doença, apenas
com os médicos. Haveria de existir um último momento
onde o segredo não poderia ser mantido, ou seja, em uma
possível fase terminal, os interessados tomariam conhecimento.
Minha avó, uma negra faceira, que chegou ao Brasil ainda
no regime escravocrata, falecida com aproximadamente 106 anos
de idade, costumava dizer que: é sempre bom ter o
inimigo por perto, pois as suas chances de defesa são maiores.
Resolvi tratar o vírus de meu Melhor Inimigo.
Inimigo porque deseja o meu fim, o meu mal. Melhor porque convive
dentro de mim, portanto faz parte da minha vida. Iniciamos uma
relação, digamos incestuosa, pois os dois não
se respeitam, não se aceitam, não se suportam, mas
convivem no mesmo mundo, esperando a primeira oportunidade onde
o mais forte há de desferir o golpe fatal.
Ele ainda tem a força desconhecida capaz de me mandar
para o desconhecido, mas em compensação, eu tenho
o livre arbítrio de não permitir o que ele mais
deseja, que é disseminar-se para outras pessoas, o que
da minha parte este não conseguirá. Logo se ele
vencer a batalha, será o meu companheiro na viagem para
o mundo de onde este veio...
Olha pessoal, a fábula sintetiza que para se ter melhores
inimigos, é indispensável que se tenha melhores
amigos, e para tê-los, depende sempre de nós.
Eu concluo dizendo que como portador tenho o direito de momentos
de infelicidade, mas eu prefiro trocá-los por momentos
de felicidade, porque a felicidade de portadores ou não
é sempre o agora, não se pode esperar o amanhã,
pois pode ser que este não chegue.
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Em março de 93, terminei meu relacionamento com um cara que
mantinha comportamento de risco, e passei a desacreditar que fosse
possível ter um amor verdadeiro.
Decidi que iria ficar sozinho. Não queria mais me arriscar
novamente e sofrer nova decepção.
Quando eu menos esperava, um mês após, conheci Sílvio,
e descobri que o amor verdadeiro existia. Tínhamos muitos
pontos em comum, além do fato de sermos HIV+. Nos encontravámos
mais de uma vez por semana, telefonávamos constantemente
e conversávamos sobre diversos assuntos.
Finalmente chegou o dia 12 de junho, marcamos um encontro nas
escadarias do Colégio Objetivo, onde também ficavam
os cines Gazeta, Gazetinha e Gazetão.
Então, algo inédito aconteceu na minha vida, recebi
meu primeiro e último presente do dia dos namorados: o
livro "Metáforas da AIDS". Após isto,
começaram a surgir complicações para Sílvio,
pois seu organismo não aceitava o AZT. Vieram as doenças
oportunistas, e Sílvio veio a falecer em fevereiro de 94.
Hoje, não passo mais de ônibus pela Av. Paulista,
porque não preciso ver as escadarias para me lembrar de
Sílvio. Eu sei que ele estará lá, todos os
dias 12 de junho com um presente para mim.Quando vou para os lados
da Av. Paulista, prefiro ir de Metrô.
Não me sinto triste porque não perdi Sílvio,
aliás, ele está bem vivo em minha memória,
está vivendo em uma nova dimensão e, um dia, tornaremos
a nos encontrar.
Gostaria de comprar-lhe um presente, mas não sei para onde
enviar.Então, o único presente que posso lhe dar
são palavras.
Quero lhe dizer que ainda o amo, sinto a sua falta e, não
importa o quanto demorar, estarei aqui, esperando por você.
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P... que pariu! Tinha quase certeza! Essa foi a frase que eu consegui
falar ao receber o resultado positivo. A seguir foram só
imprecações e conjecturas absurdas sem pé
e cabeça. Tais como: porra! porquê eu? Que mal
fiz a Deus? Como pude ter vacilado?
Apesar de ter informações sobre, e até ter
tido contato com pessoas infectadas, me faltou uma conscientização
maior. Acabei por subestimar em demasia a epidemia, e insistia
em práticas e atitudes de risco, muitas vezes sem preservativos
no ato sexual. Mesmo tendo um mínimo de inteligência,
agia como um estúpido, pois ainda achava que era doença
de gay e de usuários de drogas, e que usar camisinha era
como comer bala com papel.
Comecei sentir os sintomas em 1994, tive uma herpes genital.
Estava com uma síndrome anêmica e um cansaço
fora do comum. Mas só fui dar bola realmente à minha
saúde no início de 1996, quando sofri minha 1.ª
infecção oportunista. Tive toxoplasmose cerebral,
paralisando o lado direito do meu corpo. Acabei no hospital em
coma por 15 dias.
A casa caiu, não dava pra esconder mais. Estava
desnorteado, achando que morreria logo, um sentimento de culpa
me invadiu, não parava de pensar na mulher e nos filhos.
Será que eles também? É por minha causa?
Entrei em pânico, cai numa deprê profunda, meu Cd4
chegou a 3, com mais de 330.000 cópias do vírus.
O local onde fazia o tratamento não dispunha de estrutura
para acompanhamento sorológico. Também não
encontrei apoio em minha companheira, que só faltou me
crucificar. Não agüentei a pressão
e o desprezo. Acabei saindo (ou enxotado) para evitar o pior.
Era a noia. Meu poço não tinha fundo.
Tinha vergonha em procurar meus irmãos pra falar sobre
a doença. Minha vontade era sumir, mas acabei cedendo às
pressões de minhas irmãs. A reação
não podia ser diferente, um misto de decepção
e medo, mas nunca a indiferença; pelo contrário,
recebi o apoio que precisava para tentar juntar os pedaços
que restavam de mim, e tentar me organizar.
Conheci o GIV, onde obtive orientações mil e um
norte como direção. Hoje recuperei boa
parte de minha saúde físico clínico-emocional,
e o mais importante, a auto-estima. Com certeza, hoje tenho muito
mais qualidade de vida e, sem sombra de dúvida posso afirmar
que estou dando minha volta por cima. Você também
pode, é só querer!
A AIDS me ensinou muitas coisas e me fez crescer como pessoa,
mas é claro que preferia não tê-la.
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Hoje quando olho para trás, não acredito na transformação
que o HIV/AIDS efetuou em minha vida. Lembro-me de que andava angustiada
com o rumo do meu relacionamento, que estava tumultuado, cheio de
conflitos e dúvidas.
Nesta confusão de sentimentos, fui convocada para uma
reunião com a Diretoria Médica do meu trabalho.
O médico cumprimentou-me um tanto apreensivo e, olhando-me
fixamente, entregou-me o resultado de um exame de laboratório.
Perplexa, ainda consegui perguntar o que era, sem nada compreender.
Luis está com AIDS, disse. Lamento muito
por você! Sua voz soou num misto de tristeza e desesperança.
Olhei-o, admirada. Ele não fora capaz de sustentar o próprio
olhar e, talvez para não chorar na minha frente, deixou-me
só. Não sei quanto tempo permaneci ali. Lembro somente
de que não chorei. Descrever o meu estado psicológico
jamais seria possível...
Os dias passaram lentos e angustiantes. Nesse período,
eu aguardava o resultado do meu exame, num misto de desespero
e depressão. Nos corredores do hospital, via a ansiedade
no olhar dos colegas de trabalho, manifestando-se numa torcida
silenciosa a meu favor. Diretamente ninguém se dirigia
a mim sobre a questão, mas toda vez, que eu chegava ao
refeitório, em meio ao burburinho, as atenções
se voltavam para mim. Isso não me causava mal-estar, apenas
a impressão de estar numa outra dimensão.
O resultado positivo de meu exame, confirmou meu desespero. Diante
do fato novo, antevi um futuro terrível. Se houvesse futuro!
Meu relacionamento estava insustentável e desgastante.
Brigávamos porque eu insistia para que ele iniciasse o
tratamento, ao que se negava, alegando ser uma luta perdida. Do
meu lado, ainda sem estrutura, sentia-me incapaz de tomar decisões,
de prosseguir. Permaneci assim por meses.
O médico dera-me apenas dois anos de vida...
Não teria tempo para a conclusão do tão sonhado
curso de publicidade. Nessa mesma ocasião, dei finalmente
vazão a toda minha dor. Chorei como criança no dia
que tranquei a matrícula na faculdade. Acredito que foi
o momento em que realmente me senti desesperada. Passei então
a observar o efeito bomba do HIV/AIDS, em minha vida.
Já não havia mais sonhos, esperanças ou perspectivas.
Tinha a sensação de que perdera a vida.
Luís continuava sem tratamento e bebia descontroladamente.
Ficava dias sem aparecer no trabalho, sem dar notícias,
deixando todos muito apreensivos. Assim foi durante um ano, até
que ele tomasse a iniciativa de romper definitivamente o laço
que existia entre nós. Eu o amava e sofri muito. Sozinha,
pois minha família não sabia de nada. O desânimo
que me consumia lentamente.
Numa consulta de rotina, meu médico aconselhou-me a fazer
terapia e, gradativamente, fui me reintegrando, aceitando minha
nova condição e, em doses homeopáticas, me
redescobrindo. Tempos depois, iniciei a reconstrução
da minha vida social. Eu queria viver! Sabia que talvez fosse
uma luta desigual, mas que queria tentar.
Em março de 1991 iniciei um novo relacionamento. Ele era
soronegativo. Surgiu numa hora oportuna, tornando-se meu alicerce,
uma nova energia que iluminaria minha vida. Uma luz que me tranqüilizaria
no meio de toda aquela escuridão. No início foi
difícil e todos reagiam com admiração quando
sabiam de nossa discordância. Eu sentia um certo mal-estar
e muitas vezes quis romper a relação, mas com o
tempo fui adquirindo autoconfiança, exorcizando meus fantasmas.
Em 21 de maio de 1994, nos casamos.
Na mesma época, Luis ficou noivo. Ainda éramos
colegas, mas fiquei indignada quando soube que sua noiva se tornara
soropositiva. Cortei, conseqüentemente, todos os laços
afetivos que ainda mantinha com ele. Não quis ouvir seus
argumentos. Passamos a nos cruzar pelos corredores do hospital
sem sequer nos olharmos. Fase difícil, mas não busquei
qualquer tipo de reconciliação. Em janeiro de 95,
ele ficou doente.
Procurei, então me reaproximar, auxiliando no que podia,
sem que ele soubesse. Acompanhei todo o processo à distância
e ainda havia muita mágoa, quando recebi o recado de que
ele queria me ver. Recordo-me a expressão triste daqueles
olhos. Inesquecível. Com uma voz já bastante fraca,
ele apenas disse desculpa. Naquele instante percebi
que ele sempre soube. Não sei expressar com palavras o
que senti. Ele era o homem que eu amei. Fui incapaz de operar
em nossa relação a transformação que
só é possível ao amor, mas hoje sei de que
ao menos tentei. Havia feito o possível para recomeçarmos.
Mas ele fez sua opção. Luís morreu em 9 de
fevereiro de 1995. Hoje não dói menos, apenas estou
mais amadurecida.
Após dois anos de casada, por razões que só
o coração conhece, me divorciei. Mas meu ex-marido
continua presente em minha vida como incentivo. É alguém
muito especial que tem lugar garantido em meu coração...
Com ele venci muitas dificuldades... Aprendi a acreditar em mim!
Hoje continuo minha pequenina reconstrução, onde
encontro muitos aliados. Sei da minha preciosa contribuição
na militância da causa dos portadores do HIV/AIDS e a manutenção
contínua dessa luta faz com que eu cresça a cada
dia. Tudo é conquista do que melhor existe dentro de mim.
Tenho aprendido a disciplinar minha mente de forma que me desapegue
cada vez mais do medo da morte, da doença, da desesperança,
do sofrimento e dos preconceitos próprios da condição
humana.
Aprendo, a cada dia, que este exercício é uma questão
de ESCOLHA e de PRÁTICA.
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Descobri-me soropositivo há 10 anos. Iniciava um novo relacionamento
e resolvi fazer o teste para ficar tranqüilo. Fui atropelado
pela surpresa. Com dois testes anteriores negativos, até
então me julgava imune à infecção. Supunha
que por ser universitário e bem informado, não corria
riscos. A autoconfiança injustificada, associou-se a um relaxamento
na prevenção. Foi fatal.
A descoberta foi atormentadora, como ocorre com todos os que
vivem a mesma situação. Quando ligaram do laboratório
pedindo que eu fosse refazer o teste, com a alegação
de que no anterior tinha havido problemas com o kit, suspeitei,
de cara, que o resultado seria positivo.
Da segunda coleta de sangue ao anúncio do resultado, achei
que o mundo fosse acabar. Chorava, fazia promessas... Nada adiantava.
No início, partilhei o segredo apenas com o primo com quem
morava.
Por um período fiquei anestesiado, voltado
para dentro de mim mesmo e da minha dor.
Rompi a relação com meu parceiro para não
haver risco de infectar a pessoa com quem ainda hoje mantenho
amizade. Os quatro primeiros meses foram de muita angústia,
mas o tempo foi passando, e a vida seguindo... Descobri que a
sentença de morte não se concretizava.
Com o tempo voltei à vida normal. Não
ia ficar esperando pelo fim... Mergulhei no trabalho.
Nos primeiros três anos, pensei apenas em aproveitar o
presente. De repente, voltei a fazer planos. Cada um tem
seu tempo para descobrir que a vida continua...
E hoje sinto a morte distante: quero um futuro igual ao
que planejava antes; nada de diferente.
Desde a descoberta da infecção, pra cá,
três pessoas passaram pela minha vida, mas foram amores
desencontrados. Espero uma grande paixão. Mas terá
de ser com alguém soropositivo como eu.
Não admito outra hipótese, tenho medo de transmitir
a infecção para alguém. A camisinha
sempre pode estourar, e aí será uma viagem sem volta.
Essa possibilidade me assusta.
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Sempre fui uma pessoa muito saudável até meus 27 anos.
Nunca precisei procurar um médico, até que em abril
de 1994, tive muitas dores no corpo, febre e dores de cabeça,
e resolvi procurar um posto de saúde onde fiz alguns exames
e foi constatado que eu estava com hepatite.
Depois de um ano e cinco meses, outra complicação
mais grave... Automaticamente relembrei o episódio passado...
Procurei outro posto de saúde. Fui muito bem atendido e
encaminhado ao setor de proctologia... Realizei alguns exames,
entre ele o HIV. A princípio não me preocupei, afinal,
eu não tinha AIDS, pelo menos até que o exame
comprovasse o contrário.
Os dias passaram-se sem que eu percebesse. Despreocupado, retornei
ao posto para saber os resultados. Dia D.... 6 de setembro de
1995. Jamais esquecerei!. A sala de espera estava lotada. Uns
bem magros, aparentemente muito doentes, outros saudáveis,
bonitos(as). Observando cada detalhe, eu pensava: estes com certeza
não têm HIV/AIDS.
As pessoas conversavam tranqüilamente sobre diversos assuntos.
Observei a enfermeira, prestativa, atendendo a todos com muita
simpatia e cuidado em excesso, que chamou a minha atenção.
Perdido nestes pensamentos, retornei a mim, percebendo-a bem à
minha frente, e oferecendo-me um jornal, que gentilmente pediu
para que eu lesse. Abri-o, e não dei importância
às notícias que tratavam da questão AIDS...
Entediei-me. Para quê preciso me informar sobre isso? Não
é um problema meu! Não é a minha realidade!
Quanta ignorância!
O médico chegou, chamou-me e olhando fixamente para mim,
disse: teu exame deu reagente. - O que é isso? O senhor
quer dizer que estou soropositivo? Ele não precisou responder.
O silêncio em que ele mergulhou disse-me tudo. Naquele momento,
conheci o Sr. Pânico de perto. Desesperadamente, eu perguntava
por que eu? O que fiz, sempre fui cuidadoso! Onde errei? Sempre
mantive-me informado. E meus sonhos, minha carreira de modelo?
Meu corpo, como vai ficar? Minha família? Eram perguntas
que infelizmente, ninguém nunca respondeu. Naquele mesmo
instante, entre toda a minha dor e desespero fui encaminhado ao
psicólogo de plantão. De que adiantava conversar
com alguém? Eu não queria conversar.
De repente, lembrei do jornal que a enfermeira muito prestativa
ofereceu-me. Corri para ele, li-o por horas as mesmas notícias.
Naquele momento percebi minha necessidade de informações.
Aquele jornal era A Ponte. Este trazia informações
sobre um medicamento que estava sendo testado no Brasil em pacientes
soropositivos, o MK639. Ainda naquele dia, o médico me
encaminhou para o protocolo...
Como dizer para minha família? Foram dias difíceis,
pensei que nunca iria suportar tamanha dor! Precisei de muita
ajuda e descobri dentro de mim, uma força desconhecida,
que desejava viver, prosseguir...
Nunca fiquei doente! Tenho caminhado, às vezes com alguma
dificuldade, como todo ser humano. Hoje, minha realidade é
outra. Me integrei a um grupo de ajuda-mútua; o GIV, e
juntos reaprendemos a viver. Estou caminhando, fazendo a parte
que cabe a mim junto à prevenção e conscientização
do HIV/AIDS. Sei da importância do meu trabalho. Na prática,
faço a minha parte, por isso te convido: faça a
sua e juntos venceremos todas as barreiras, inclusive o preconceito!
Esta luta contínua é a VIDA!
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Tudo começou em setembro de 1995. Certa manhã, após
um mês de internação, o doutor me acordou e
avisou que eu tinha o HIV. Mas mesmo sem poder entender direito
as coisas, e já afetada pela primeira oportunista, neurotoxoplasmose,
não sei de que forma pairou uma nuvem de lágrimas
e tantas perguntas em minha cabeça. Pensar o quê? Falar
para quem? Medo? Angústia? Certeza de mais o quê? Tudo
havia caído por água abaixo.Mas o pior estava por
vir!!!
Sai do hospital cheia de saudades de tudo e de todos, principalmente
dos meus filhos, Júnior (hoje com oito anos) e Bianca com
três meses de vida. Bianca que ao nascer já havia
ficado no hospital, pois nasceu contaminada. Essa maldita doença
acabou com a vida da minha nenê aos seis meses de vida.
Horrível!!! Horrível!!! Vou mudar de assunto. Certo?
Dei a volta por cima de tudo e aprendi... Dominar-se e vencer
a mim mesma. E sou uma vitoriosa. Não porque venço
as pessoas, mas sim, venci a mim mesma, dominando meu jeito de
ser e superando um pouco dos meus defeitos.
Aprendi que a vitória sobre mim mesma foi muito mais difícil.
E quem consegue esta vitória pode ser classificada de herói(na).
Aprendi a jamais desanimar. Podemos perder, a razão, um
amor, um ente querido. Podemos até desanimar por alguma
fraqueza. No entanto, perder nossa coragem nunca!!! Porque se
algum dia nós a perdermos, perderemos tudo!!! Tenham fé
em si mesmo e em Deus.
Tenham sempre confiança em suas capacidades e caminhem
sem temer os obstáculos.
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