BOLETIM
VACINAS
E NOVAS TECNOLOGIAS DE PREVENÇÃO - Nº 33
PUBLICAÇÃO DO GIV - GRUPO DE INCENTIVO À VIDA - Novembro - 2019

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Boletim Vacinas e Novas Tecnologias de Prevenção Anti-HIV/AIDS - GIV

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PrEP
viabilidade e segurança
Início da PrEP no mesmo dia é viável e segura na América Latina
Krishen Samuel, 30 de julho de 2019

RESUMO

Antecedentes

Valdiléa Veloso do ImPrEP na IAS 2019
Valdiléa Veloso do ImPrEP na IAS 2019 | Foto: Roger Pebody

Mais de 5.000 homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans inscreveram-se no projeto de demonstração ImPrEP no Brasil, México e Peru. Os resultados iniciais mostraram bons níveis de adesão e continuação. Isto foi informado na 10ª Conferência da Sociedade Internacional de AIDS sobre Ciência do HIV (IAS 2019), na Cidade do México. Este foi um dos vários estudos relatando os esforços para ampliar a profilaxia pré-exposição (PrEP) na América Latina apresentados na Conferência.

Fatores contextuais e barreiras estruturais na região limitam o acesso a ferramentas de prevenção, como a PrEP, para populações marginalizadas, como os HSH e as mulheres trans. Estes incluem atos de violência, homofobia, transfobia, falta de oportunidades econômicas, altos custos e altos níveis de estigma em relação a esses grupos, juntamente ao estigma da PrEP devido à sua associação com o HIV.

Os HSH e as mulheres trans representam 65% das aproximadamente 100.000 novas infecções anuais por HIV na América Latina. Embora o iPrEx, o primeiro estudo a demonstrar a eficácia da PrEP, tenha sido realizado principalmente na região, a adoção e implementação da PrEP para populações-chave tem sido lenta.

CONHECIMENTO E ACEITAÇÃO ENTRE HSH NO MÉXICO

O Dr. Ian Holloway, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, apresentou uma pesquisa sobre o conhecimento, a intenção e a aceitação da PrEP em uma amostra on-line de HSH no México. Embora o uso da PrEP tenha sido baixo, o conhecimento e a intenção de usar a PrEP foram altos.

Embora o uso da PrEP tenha sido baixo, o conhecimento e a intenção de usar a PrEP foram altos.

Os dados foram coletados entre novembro de 2018 e janeiro de 2019, tendo como pano de fundo o ensaio ImPrEP, aumentando os serviços de PrEP para HSH. Uma amostra de 2.467 homens HIV-negativos foi recrutada através de um aplicativo de encontros geossociais, o Hornet e 4/5 dos homens tinham entre 18 e 40 anos.

Uma grande porcentagem de homens (76%) já ouviu falar sobre a PrEP, principalmente usuários da internet e aplicativos como o Hornet. O aumento do conhecimento da PrEP foi associado com idade inferior a 40 anos e foi duas vezes mais provável entre aqueles que já haviam feito o teste para uma infecção sexualmente transmissível (IST).

Mais de um terço dos homens pretendiam usar PrEP nos próximos 6 meses e isso foi mais do que duas vezes mais provável naqueles que usaram a função Know Your Status (conheça sua sorologia) no Hornet (este recurso encoraja os utilizadores a se conscientizarem da sua sorologia para o HIV, podendo revelá-la a outros usuários no aplicativo). O uso de drogas ilícitas, relatado por 3% dos homens, também esteve associado à intenção de usar a PrEP.

A captação de PrEP foi baixa: menos de 4% dos homens usam atualmente a PrEP e apenas 5% usaram no último ano. A Cidade do México tinha o maior número de usuários da PrEP (60 homens), com números menores espalhados pelo país. As principais fontes incluíam médicos (50%) e pesquisas (29%). O uso da PrEP esteve associado a idades maiores, ao uso de substâncias ilícitas e à testagem de IST (quase sete vezes mais provável).

“Mais de 1/3 da amostra pretende tomar PrEP nos próximos 6 meses. Isso mostra uma alta demanda entre HSH no contexto de múltiplas barreiras estruturais, incluindo a homofobia.”

“Houve alto conhecimento da PrEP, mas baixa absorção de PrEP”, concluiu Holloway. “No entanto, mais de 1/3 da amostra pretende tomar PrEP nos próximos 6 meses. Isso mostra uma alta demanda entre HSH no contexto de múltiplas barreiras estruturais, incluindo a homofobia.”

O ESTUDO IMPREP NO MÉXICO, BRASIL E PERU

A Dra. Valdiléa Veloso apresentou os resultados do estudo ImPrEP, que analisou o início e adesão à PrEP no mesmo dia para HSH e mulheres transgênero em três países da América Latina: México (6 locais em 3 cidades), Brasil (14 locais em 12 cidades) e Peru (10 locais em 7 cidades). Os resultados mostraram que, no geral, a iniciação no mesmo dia foi viável e segura, com bons níveis de continuação e adesão precoces.

Os sites incluíram clínicas de saúde sexual e organizações comunitárias. De fevereiro de 2018 até abril de 2019, 5.354 indivíduos foram matriculados no Brasil (3.466), no Peru (1.149) e no México (739), acumulando 2.069 pessoas-ano de uso da PrEP. Todos os potenciais participantes foram submetidos a triagem para o HIV e outras IST, função renal e fatores de risco comportamentais.

Os HSH e mulheres trans HIV-negativo receberam um suprimento de PrEP por 30 dias e reavaliaram-na após um mês. Então eles receberam um suprimento de medicação para 90 dias, com verificações trimestrais depois disso. A abordagem de iniciação no mesmo dia assegura que não há atraso em termos de necessidade e utilização de PrEP e remove a barreira inicial para acessar a PrEP após a necessidade ter sido determinada.

Nas visitas de acompanhamento, a adesão foi medida por autorrelato e testes de sangue seco, e os testes de HIV eram realizados novamente. A função renal foi medida trimestralmente.

O maior grupo de participantes tinha entre 25 e 34 anos (46%), com o Peru tendo mais participantes mais jovens com idades entre 18 e 24 anos (37%). Mais de 76% de todos os participantes tinham instrução além do ensino médio. Os HSH representaram 94% do total da amostra, enquanto o Peru teve mais mulheres trans (14% dos participantes).

Os HSH representaram 94% do total da amostra, enquanto o Peru teve mais mulheres trans (14% dos participantes).

O sexo sem preservativo foi relatado por 91% dos participantes, incluindo 21% com parceiros HIV-positivos e 49% que desconheciam o status de seus parceiros. Na amostra, 14% estavam envolvidos em trabalho sexual; mais de 2/3 relataram consumo excessivo de álcool e 1/4 relatou o uso de drogas estimulantes.

Noventa e quatro por cento de todos os participantes fizeram pelo menos uma consulta após a inclusão no estudo. Destes, 80% tiveram continuação precoce (2 visitas de acompanhamento até 120 dias após o início da PrEP). A adesão total à PrEP foi alta: 97% usaram pelo menos 16 dias de medicação no último mês. As taxas de continuação para as mulheres trans foram muito menores (56%), com adesão de 89%. Pessoas mais jovens (18-24 anos) também apresentaram taxas menores de continuação precoce em 70%, mas alta adesão. O Peru apresentou as taxas mais baixas de continuação (54%) e adesão (91%).

A incidência de HIV por 100 pessoas-ano foi de 0,6 no total, mas significativamente maior no Peru (2,4), o que foi explicado pelo maior número de jovens e transexuais matriculados lá.

O ESTUDO PREPARADAS NO BRASIL

Emilia Jalil, da Fiocruz, apresentou os resultados do projeto de demonstração PrEParadas, do Brasil, focado em mulheres transexuais.

A implementação de programas de implantação da PrEP para mulheres transexuais tem sido particularmente desafiadora na América Latina devido a barreiras estruturais, incluindo a violência contra mulheres trans.

A implementação de programas de implantação da PrEP para mulheres transexuais tem sido particularmente desafiadora na América Latina devido a barreiras estruturais, incluindo a violência contra mulheres trans. Também houve preocupação sobre as interações entre a PrEP e os hormônios, além de fornecer a PrEP em ambientes afirmativos de gênero por profissionais de saúde treinados.O recrutamento foi por autorreferência, por colegas ou educadores comunitários, em 2017-2018.

Os participantes elegíveis eram pessoas que haviam sido designadas como masculinas ao nascer, eram HIV-negativas e envolviam-se em comportamentos sexuais de alto risco, como sexo sem preservativo, relato de uma IST no ano anterior ou sexo transacional.

Das 318 transexuais iniciais avaliadas, 271 eram potencialmente elegíveis e 130 foram finalmente inscritas (captação de 48%). A mediana de idade foi de 30 e 18% das participantes tinham menos de 8 anos de escolaridade. Aproximadamente 30% tinham moradia instável e quase metade estava usando hormônios. Houve altos níveis de consumo excessivo de álcool (65%) e quase um terço sofreu violência nos últimos três meses. O acompanhamento ocorreu na quarta semana e trimestralmente depois disso. A adesão à PrEP foi medida por contagem de medicação, bem como os níveis de medicamento em manchas de sangue seco.

Mais de 60% tinham tomado entre 4 e 7 doses de PrEP por semana, com um nível ligeiramente mais baixo de adesão (55%) às 12 semanas.

A maioria dos participantes retornou na quarta semana (89%). Mais de 60% tinham tomado entre 4 e 7 doses de PrEP por semana, com um nível ligeiramente mais baixo de adesão (55%) às 12 semanas. Os fatores associados ao engajamento deficiente da PrEP em 12 semanas incluíram moradia instável (quase três vezes mais provável de ter engajamento ruim para a PrEP) e uso de estimulantes (quase quatro vezes mais provável). O estudo está em andamento e há mais resultados esperados para o envolvimento de longo prazo.

CONCLUSÃO

Enquanto o estudo de HSH no México mostrou altos níveis de conhecimento, mas baixa aceitação entre aqueles que usam um aplicativo geossocial, o estudo ImPrEP mostrou níveis mais altos de captação para o uso da PrEP. Isto é provavelmente devido ao fato de que os HSH que já frequentam clínicas de saúde sexual podem acessar a PrEP por lá. Isso indica uma lacuna entre aqueles que conhecem e pretendem usar a PrEP e aqueles que realmente a usam.

É importante ressaltar que o estudo ImPrEP está suspenso no momento sem novas adesões; houve também uma redução no número pretendido de 8 para 3 cidades mexicanas participantes. Isso se deve a mudanças de financiamento do governo mexicano, à falta de medicamentos e a um clima de confusão sobre quais comunidades se beneficiariam mais com a PrEP. Isso afetará os HSH e as mulheres trans que possam acessar a PrEP no México.

Os resultados do Brasil indicaram boa captação de PrEP para mulheres trans; no entanto, a vulnerabilidade social apresentou uma barreira importante. Precisam ser desenvolvidas intervenções personalizadas para jovens e mulheres. Em geral, os resultados desses estudos indicam que, se a PrEP estiver disponível e for de fácil acesso, as populações-chave apresentam boa aceitação e adesão, e um efeito na incidência do HIV pode ser observado.

REFERÊNCIAS:
• Holloway et al. PrEP Knowledge, Intention and Uptake Among MSM Geosocial Networking App Users in Mexico. 10th International AIDS Society Conference on HIV Science (IAS 2019), Mexico City, session MOAD0301, 2019.
• Jalil EM et al. PrEP uptake and early adherence among at HIV risk transgender women from Rio de Janeiro, Brazil: Results from the PrEParadas study. 10th International AIDS Society Conference on HIV Science (IAS 2019), Mexico City, session TUAC0302, 2019.
• Veloso VG et al. Safety, early continuation and adherence of same day PrEP initiation among MSM and TGW in Brazil, Mexico and Peru The ImPrEP Study. 10th International AIDS Society Conference on HIV Science (IAS 2019), Mexico City, session TUAC0404LB, 2019.

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