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AIDS NA TERCEIRA IDADE

29/05/2004 - Agência Aids

Discussão na Universidade (PUC-SP)

“Nesta idade não esperava ter Aids, pensava que teria outras doenças, mas não essa”. Esta frase é de um idoso soropositivo que se trata no Instituto de Infectologia Emílio Ribas em São Paulo (SP) e faz parte da dissertação de mestrado da assistente social Nadjane Bezerra do Amaral Prilip.
O trabalho, O pulso Ainda Pulsa: O Comportamento Sexual como expressão da Vulnerabilidade de um Grupo de Idosos Soropositivos, foi realizado no departamento de Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. A pesquisa foi realizada qualitativamente com 8 idosos e quantitativamente com 76, todos acima de 60 anos de idade, de classe social variada, mas com um ponto em comum: a infecção do HIV foi por via sexual.
Nadjane Prilip é assistente social do Instituto de Infectologia Emilío Ribas, e resolveu trabalhar com Aids e idoso após a internação de um senhor com 83 anos de idade por conta da doença. A reação dos colegas de trabalho chamou atenção da pesquisadora, que se deu conta de quanto o sexo nesta faixa etária é um tabu para a sociedade.
A Aids na terceira idade é uma doença que esta muito distante deste grupo. Segundo Nadjane “O HIV não faz parte da vida deles. Mesmo quando são soropositivos, eles não se reconhecem como portadores”. A revelação do diagnóstico é muito complicada. “A maioria não conta para a família sua sorologia positiva para o HIV”, comenta a pesquisadora. Os motivos para este sentimento podem ser explicados pelo fato da Aids ser uma doença relativamente nova – os primeiros casos no Brasil são de 1983, 1984 –e pelo fato de ter sido associado aos “grupos de risco”, entre eles; homossexuais, prostitutas, entre outros.
A prevenção às DST/AIDS entre os idosos é algo muito complexo. “Primeiro porque os idosos não são assexuados, como muitos pensam. Depois, os profissionais que lidam com este público têm muita dificuldade em abordar a sexualidade. E por último, o preservativo não faz parte da realidade deles e as campanhas realizadas pelo governo são voltadas aos jovens”, comenta Nadjane.
Outro ponto apresentado na pesquisa é o sentimento de culpa, vergonha e ressentimento que os portadores do HIV com mais de 60 anos têm. “Tenho vergonha de mim mesmo”, relata um dos entrevistados. O fato de todos terem contraído o vírus pela via sexual faz com que haja muita mágoa em relação ao parceiro, que na maioria das vezes, tem mais de trinta anos de vida conjugal. Por outro lado, quando o assunto é adesão aos medicamentos, os idosos são muito mais receptivos do que os jovens, segundo a assistente social.
Para Nadjane é necessária uma atenção especial com os idosos. “É preciso fazer campanhas em bingos, bailes da terceira idade e em outros locais freqüentado por eles”. Outra coisa que tem que se chegar é em uma linguagem específica para este grupo, quando o assunto é prevenção do HIV, comenta a pesquisadora.
Os índices de Aids na terceira idade têm aumentado muito em várias cidades do país. Segundo dados do Ministério da Saúde, dois por cento da população acima de 60 anos são portadoras do vírus da Aids. Isto significa que cinco mil e quinhentos idosos têm a doença. Só em Belo Horizonte, MG, três por cento da população está com o vírus. Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou uma ação voltada a este grupo durante a campanha da vacinação do idoso, mas resolveu voltar à trás por não estar preparado para lidar com este grupo, segundo informou o Programa Nacional de DST/Aids.
O trabalho, O pulso Ainda Pulsa: O Comportamento Sexual como expressão da Vulnerabilidade de um Grupo de Idosos Soropositivos, foi apresentado nesta sexta-feira, 28 de maio, durante o Sétimo Encontro de Pesquisadores da PUC-SP na área da Saúde, no Campus da Universidade.

Marina Pecoraro