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A FALTA DE MEDICAMENTOS

11/05/2004 - TRIBUNA DE SANTOS (SP)

Pacientes de aids enfrentam falta de remédios no Craids

Portador do vírus HIV, Nilson tenta há mais de uma semana obter um frasco de Cimetidina no Centro de Referência em Aids (Craids) de Santos. Ontem, mais uma vez, ele voltou para casa com as mãos vazias.
O marido de Mônica, outra portadora do vírus, também não encontrou o Cataflan que a mulher necessita tomar, por recomendação médica.
Nos dois casos, o motivo é o mesmo: faltam remédios básicos no posto de atendimento a pessoas que têm aids na Cidade.
Ontem, a equipe de A Tribuna teve acesso à farmácia do Craids e encontrou prateleiras com inúmeras caixas de medicamentos vazias.
‘‘Isso acontece sempre’’, comentou uma das funcionárias. ‘‘O pior é que a gente tem que ficar explicando aos pacientes que determinado remédio está em falta. Nem sempre eles entendem’’.
Denilson foi outro portador da doença que saiu do Craids sem parte dos remédios que precisava. ‘‘Estou com febre e a moça acabou de me dizer que não tem Dipirona’’, lamentou.
Segundo Beto Volpe, um dos diretores da organização não-governamental Hipupiara, que dá apoio a portadores do HIV da região, a falta de medicamentos no Craids é crônica.
‘‘Não é um problema pontual, como a Secretaria de Saúde gosta de dizer. Há mais de um ano, vi uma médica chorando porque a paciente não encontrou remédio na farmácia do Craids’’.
Os medicamentos que costumam faltar nas prateleiras são os chamados básicos, ou seja, os de uso da população em geral. Os coquetéis que combatem o avanço da aids raramente deixam de ser entregues aos pacientes.

Demanda

Um dos motivos para a falta de remédios é que a Prefeitura muitas vezes entrega quantidades menores que as encomendadas pela direção do Craids. Ontem, A Tribuna teve acesso a uma listagem que comprova a defasagem.
O diretor do Craids, Alcino Antônio Campos Golegã, admitiu o problema. Mas disse que mesmo que os medicamentos fossem entregues em conformidade com os pedidos, ainda assim haveria caixas vazias.
‘‘Nossa demanda é sazonal. A gente atende a todos que vêm buscar remédios básicos, independente de serem portadores da aids. E o movimento é bastante diferente de um mês para outro’’, explica.
A falta de medicamentos prejudica diretamente os portadores do HIV. Como o vírus destrói os mecanismos de defesa do organismo, os pacientes ficam mais suscetíveis a algumas doenças. Até uma simples gripe é capaz de debilitar uma pessoa com aids.
‘‘O ideal é que os pacientes não tenham nenhuma doença e, se tiverem, que tratem imediatamente. Nesses casos, os remédios fazem falta’’, afirmou Golegã.

Promessa

Ontem à noite, o coordenador de Farmácias da Prefeitura, Roberto Osvaldo da Silva, garantiu a A Tribuna que um lote de remédios será entregue na próxima segunda-feira no Craids. Ele disse desconhecer o problema da falta de medicamentos.