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HEPATITE C - QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA

11/05/2004 - O POVO (CE)

MS tenta identificar casos de hepatite C

O Ministério da Saúde recomenda que pessoas que fizeram piercings, tatuagens e/ou transfusão de sangue antes de 1993 ou que fazem hemodiálise devem procurar uma unidade de saúde e realizar o teste de hepatite C. Estima-se que apenas 2% dos infectados saibam que têm o vírus, que foi detectado em 1989.
Luvas usadas em procedimentos cirúrgicos, bata, máscara, materiais descartáveis, agulhas saídas de autoclave (equipamento para esterilização de objetos). Esses e outros procedimentos são utilizados, não em uma clínica médica, mas em um estúdio para tatuagens e piercings. O objetivo é evitar a transmissão de doenças como a hepatite C, que é transmitida através do sangue e pode evoluir com facilidade para cirrose ou câncer de fígado.
Mas nem sempre foi tão fácil e acessível fazer tatuagem ou colocar piercing com tanta segurança. ''Antes, não havia muita fiscalização sanitária (nas lojas do tipo). Não se tinha tanto conhecimento como hoje. E mesmo assim, há muitos estúdios fazendo ainda de forma inadequada, alguns até no meio da rua'', revela o bodypiercing (nome dado aos profissionais que aplicam o adorno), Ailton Almeida.
Com o objetivo de identificar casos de hepatite C de forma precoce, o Ministério da Saúde (MS) está orientando todas as pessoas que possuem piercings ou tatuagens a realizarem o exame gratuitamente nas unidades de referência. O vírus da hepatite C foi detectado em 1989, mas os testes para identificá-lo só começaram a ser feitos quatro anos depois. Por isso, todas as pessoas que se submeteram a transfusões de sangue antes de 1993 também devem procurar o serviço de saúde.
''O período de incubação da hepatite C pode ser rápido ou muito longo. Entre 15 a 150 dias em média. Mas alguns podem ter se contaminado há 10 anos e desenvolver só agora'', explica a técnica da célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Wilma Ferreira Souza. Ela, que é especialista em doenças de veiculação hídrica, destaca que quem faz hemodiálise ou já usou algum tipo de droga injetável também deve fazer o exame.
Ao contrário dos tipos A e B, a hepatite C não possui vacina. O vírus sobrevive até 72 horas fora do corpo, em minúsculas quantidades de sangue. Por isso, a especialista recomenda que a atenção deve ser redobrada também no consultório odontológico, na manicure e nos barbeiros. ''Recomenda-se que cada pessoa tenha seu próprio material de unha para evitar possíveis infecções. A pessoa pode ainda ser apenas portador e não desenvolver a doença'', ressalta.
De acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), até 3,5 milhões de brasileiros podem ser portadores do vírus, sendo que apenas cerca de 2% dos infectados sabem que têm a doença. A via sexual é de menor transmissão, mas é possível. A especialista informa que a maior incidência é entre adultos jovens. Até o ano passado, 17 casos haviam sido identificados pela Sesa. Mas com a recomendação, a expectativa é de que outros passem a ser registrados.
O tipo C da hepatite pode evoluir para hemorragias e sepcemias (infecção generalizada). Segundo Wilma, a possibilidade da doença se tornar crônica e o fígado ficar permanentemente comprometido é de 50% a 70% dos casos. ''A maioria dos casos evolui para cirrose hepática ou câncer de fígado. Uma pessoa pode ter cirrose sem nunca beber uma gota de álcool'', ressalta.
Se diagnosticada a tempo, a doença pode ser tratada com sucesso. No Ceará, as unidades de referência para a doença, que estão realizando o exame, são o Hospital das Clínicas e Hospital São José (ambos no Rodolfo Teófilo). ''Já estamos fazendo os testes. Este mês, vamos receber os equipamentos para montar o serviço nas duas unidades'', informa o coordenador departamento de atenção à saúde da Sesa, Francisco Holanda Júnior. Ele acrescenta que as unidades devem realizar ainda exames como o de sorotipagem e carga viral (grau de infestação). Parte da medicação também começa a chegar para atender os novos casos.